A sociedade pós-metafísica é aquela que já estabeleceu uma doutrina da essência das coisas, bem como um conhecimento das causas primárias. A relação dela com a narrativa de Deus foi tema da primeira palestra do simpósio Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica, que vai até sexta-feira, 17, na PUC-Rio. O evento foi organizado pelo Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IEAHu) e pelo Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), ambos da PUC-Rio.

Para pensar Deus na atualidade, o professor da Faculdade Jesuíta de Paris Christoph Theobald destacou questões como fé, pluralidade e verdade na religião. Segundo ele, a tradição da narrativa bíblica é um recurso que permite a orientação filosófica da vida em suas diversas circunstâncias.

- A sensibilidade ao mundo bíblico não exclui nada, mas inclui o interesse histórico, e nos ajuda a tomar decisões – explica.

A situação pós-metafísica da nossa sociedade apresenta a narrativa cristã de maneira particular. Para o professor, agora é possível repensar sua universalidade.

- Deus é uma narrativa a ser contada e se insere em um evento que representa uma reviravolta na história. A linguagem que corresponde à história é a narração.

O ser humano sempre cultivou a fé. Segundo o teólogo, ela representa um ato de liberdade sem garantias e se inscreve ao longo da vida e dos séculos:

- Neste momento pós-metafísico, de alto individualismo, descobrimos as potencialidades singulares, a potencialidade do ato de fé de cada um. Ela explicita e extrapola tudo do que dispõe para enfrentar o impossível. Assim, o impossível se torna gratuitamente possível.

Outro conceito bastante explorado foi o de aporia, em que a verdade é perseguida incessantemente. Esse processo garante a pluralidade de religiões. Essa busca resulta em uma dúvida permanente, fazendo com que as perguntas movam a sociedade. Theobald considera que a crítica da metafísica na era pós-moderna não pode significar o fim de um posicionamento verdadeiro.