A primeira edição do Cine-Direito do segundo semestre contou, nesta quarta-feira, 9, com a exibição do filme Macunaíma e um debate entre os professores do Departamento de Direito da PUC-Rio Francisco Guimaraens e Marco Gerard. Eles discutiram a relação da obra com o seu universo profissional e analisaram o contexto da formação cultural do Brasil.
De acordo com Guimaraens, a obra de Mário de Andrade é essencial para o entendimento das atuais questões políticas e jurídicas do país.
- O livro e o filme tratam da liberdade. A liberdade possível no Brasil na década de 30, com um paradigma constitucional, e na década de 60, com a quebra deste paradigma, que só volta em 1988.
Macunaíma é um homem livre com características das três etnias formadoras da identidade brasileira: o negro, o índio e o branco europeu. Ele tinha a preguiça como traço principal. Segundo Guimarães, esse é um talento do brasileiro.
- A preguiça era uma estratégia de resistência dos escravos. Os senhores não podiam contestá-la, pois acreditavam que era da natureza deles.
Para Gerard, Macunaíma é a transformação ambígua do herói que é um anti-herói, do bom e do ruim, do covarde e do corajoso. Isso caracteriza a dualidade do brasileiro, que sente orgulho da pátria para tratar de assuntos como o samba e o futebol, mas ao mesmo tempo se envergonha ao viajar para o exterior.
- É preciso lembrar do contexto histórico da época para entender a linguagem da obra. O Brasil de 69 buscava uma resposta para a crise do poder e uma reflexão sobre a sociedade de consumo. A transformação do personagem e a antropofagia que permeiam o filme são legados da década de 20, que se reencontram no Cinema Novo com o Tropicalismo.
A cena final explicita o terror da ditadura militar vivida naquela época. Com uma roupa verde oliva, Macunaíma é devorado e seu traje fica banhado de sangue. Segundo Gerard, essa passagem expressa o herói devorado pelo próprio Brasil, um reflexo do que eram os "anos de chumbo".
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