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Rio de Janeiro, 16 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

“O aluno faz seu próprio conhecimento”

Gabriela Ferreira - Do Portal

27/11/2007

A tecnologia tem mudado a forma com a qual crianças e jovens lidam com a construção do conhecimento, desmontando valores que permeavam salas de aula desde o início da história da Educação. Embora a maioria das escolas públicas do país ainda não esteja incluída na era digital, o professor vem perdendo seu espaço tradicional como fonte única de informação do aluno, e enfrenta o problema de não saber lidar com a nova geração. Professor da Universidade Católica de Milão e especialista em Mídia e Educação, Píer Cesare Rivoltella falou para alunos da PUC-Rio sobre os resultados de sua pesquisa sobre educação e novas mídias.

Como surgiu seu interesse em pesquisar sobre a tecnologia e sua influência em crianças e jovens?

Mídia e educação são meu campo de trabalho desde 1994. Com o avanço da tecnologia, os novos meios e a Internet passaram a ter grande espaço na vida prática dos jovens. Por isso, pesquisar e trabalhar com essas mídias é muito interessante. Troquei meu grupo de pesquisa sobre a televisão e outros meios mais tradicionais para estudar o lugar que essas tecnologias têm na prática dos jovens.

A partir dessa pesquisa sobre internet e jovens, o que muda na aprendizagem quando se trabalha com as novas mídias?

O sujeito vira construtor do seu próprio conhecimento. Antes, tratava-se, sobretudo, de ensino. Hoje se fala de aprendizagem. Antes, o conhecimento era construído de maneira fechada pelo professor e transferido aos alunos. Hoje, o aluno é que vai construir seu próprio conhecimento e o professor é uma das fontes que o aluno usa, e não a fonte principal, como já foi. O Google vem fazendo muito sucesso com os alunos, como fonte de pesquisa e informação, e a maioria o considera como uma ferramenta segura e confiável.

O sr. acha que a resistência dos professores se deve a essa perda do tradicionalismo em sala de aula?

Exatamente. O professor hoje tem medo de perder a importância na vida do aluno, de não ter mais o relacionamento tradicional com ele.

Diante de tanta facilidade de informação, caberia aos pais tomar medidas de controle em relação ao conteúdo ao qual crianças acessam?

De controle, não. No nosso tempo de pesquisa a gente procurou distinguir controle e governo. Eu posso controlar a sua relação com a internet sem governar. Quando governo, não necessito de controle. O governo é um problema de responsabilidade, de educação. O controle é a negação da responsabilidade. Esse controle não é educativo e não é seguro, sobretudo.

O senhor acha que a melhor saída para os pais é participar também da tecnologia?

Pode ser uma saída inteligente fazer parte do universo tecnológico dos filhos. Normalmente, os pais tentam controlar tudo, e não governam.

Qual o problema que se forma entre as novas tecnologias, a construção do conhecimento e a formação da consciência na mente dos jovens de hoje?

Complicado. Não é só o problema da tecnologia, mas é um conjunto de tecnologia, contextos e sujeitos. No desenvolvimento do sujeito há sempre esses três atores. A descrição, o estudo e a definição das relações entre esses três atores são os problemas da pesquisa. Não há uma fórmula geral sempre igual. Depende. Se a tecnologia mudar, muda tudo. Se o contexto mudar, muda tudo. Se os sujeitos são diferentes, muda tudo. É uma relação sistêmica.