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Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


Campus

Segundo especialistas, somos todos loucos

Clarissa Pains e Paula Araújo - Do Portal

04/09/2009

“De médico, poeta e louco, todos temos um pouco. O limite entre o normal e o anormal é impossível de ser traçado”. Com estas palavras, o reitor Pe. Jesús Hortal Sanchez, S.J., abriu os debates do III Cine Imaginarium. Dentro das comemorações do Ano da França no Brasil, o colóquio foi organizado pelo Departamento de Psicologia da PUC-Rio e a Faculdade de Filosofia da Universidade Jean Moulin Lyon 3. O encontro propõe um diálogo sobre o imaginário e a estética com o tema Loucura, Cultura e Imagem.

O professor do Departamento de Psicologia Alvaro de Pinheiro Gouvêa, um dos coordenadores do encontro, afirma que o objetivo é criar uma ponte entre a discussão teórica e a prática:

- A ideia é realizar um evento interdisciplinar via imagem. Este não é um trabalho fechado, mas uma ponte para unir pessoas interessadas no poder da imaginação, que é fundamental para o tratamento psíquico - conta. - Hoje, tudo é imagem. Então, é importante discutir o poder e a importância dela.

A imaginação, portanto, é considerada chave para entender “o mundo complicado em que vivemos”. A primeira mesa redonda, que aconteceu na manhã desta sexta-feira, 4, contou com a participação de três estudiosos sobre as fronteiras entre a loucura e a razão.

De acordo com o professor Michel Cazenave, da Sigmund Freud University de Paris, é preciso abolir a visão de loucura como um “abandono de si mesmo”, pois “ela está inserida numa normalidade”.

- A loucura faz parte da vida. Todos podemos ser loucos desde que nascemos - afirma. - Se não temos loucura, será que somos realmente seres humanos?

Para Jean-Jacques Wunenburger, diretor de Filosofia da Universidade Jean Moulin Lyon 3 e um dos coordenadores do Cine Imaginarium, existem vários tipos de patologias, que são variações no processo mental, e não uma fuga dele:

- A loucura é tradicionalmente pensada como um estado oposto ao da razão, o que é fictício. Ela não é uma transgressão, mas um excesso que faz parte do processo psíquico.

Segundo o professor, algumas loucuras correspondem a uma criatividade explosiva. O problema, para ele, não é atingir o excesso, mas ultrapassar os limites dele.

- O ser humano pode suportar tudo se for capaz de voltar atrás e retomar sua vida anterior. Como um ator, ele só experimenta com lucidez outras dimensões se, depois disso, puder retornar – afirma.

Tereza Cristina Carreteiro, professora de Psicologia da UFF, conta que a sociedade tende a se afastar de tudo que pareça disforme ou anormal. Segundo ela, a necessidade contemporânea de que o indivíduo seja completo e auto-suficiente causa as depressões e angústias cotidianas.

- O mundo quer se tornar livre da loucura, o que reduz a possibilidade de criação. Todo pensamento inovador pode ser visto como transgressão.

O cônsul geral da França no Rio de Janeiro, Hugues Goisbault, presente na abertura do colóquio, parabenizou a PUC-Rio por ser a melhor universidade privada do Brasil e declarou o desejo de um maior diálogo entre os meios acadêmicos dos dois países.


O atelier

“O psicólogo é um artista”. A comparação feita pelo professor do Departamento de Psicologia Álvaro Pinheiro Gouvêa foi a base para seu estudo psicanalítico. Intitulada Atelier Radical, a teoria considera o espaço onde trabalha o analista como essencial para o desenvolvimento de sua imaginação e de sua interpretação do mundo. Segundo ele, psicólogo e artista precisam dessa base concreta, dos objetos e até das paredes onde produzem.

- Atelier significa o lugar no qual se encontram resíduos do trabalho realizado. Em seu processo artístico, o pintor cria em função desse espaço. Em seus ambientes de trabalho, tanto o artista quanto o psicólogo exploram o imaginário de forma subjetiva e material – compara.

O professor explicou o conceito e os desdobramentos do imaginário. Real e ficção se misturam para tematizar uma questão complexa: a mente humana.

- Imaginário é aquilo que não é real e pertence à ordem da ficção. Para muitos teóricos, o inventar se compromete com o real (interpretação que temos sobre as coisas) e não com a realidade (o mundo sem interpretações).


Programação deste sábado, 5

09h15-09h50- Isabella Fernandes (PUC-Rio) - Mitologia e Imaginação Criativa.
09h50-10h25- Karl Erick Schollhammer (PUC-Rio) - A imaginação e a experiência literária.
10h25- 11h00- Marly Bulcão (UERJ) – José Américo, professor-filósofo: o jogo lúdico da cultura, do imaginário e da louocura.
11h00-11h35- Bernardo Horta (escritor) – A dimensão artística e política da obra da Dra. Nise da Silveira.
11h35-12h00- Discussão Geral
12h00-14h00- Almoço
14h00-17h00- Laboratório de imagem em ateliês de expressão
1- “Imaginário do Barro”- Ateliê de Argila.
2- “Imaginários da Cor” – Ateliê da Pintura

A entrada é franca, mas o laboratório tem vagas limitadas e é necessário se inscrever na secretaria do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) na PUC-Rio ou pelo telefone 21 3527-1574, das 10h às 15h. Quem participar do laboratório receberá certificado. Mais informações pelo e-mail estetica@puc-rio.br .