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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Mundo

Estados Unidos e Cuba, uma antiga relação de poder

Paula Araujo - Do Portal

03/09/2009

Agência Brasil

Quarenta e oito anos após o início de uma briga de gigantes, sinais de uma relativa trégua surgem no horizonte. Os presidentes de Cuba e Estados Unidos demonstram vontade política para retomar as relações bilaterais entre os dois países. A potência norte-americana dá os primeiros passos para por fim ao embargo, resquício da Guerra Fria. O professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio Marcelo Valença, em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, afirmou enxergar, com a liderança de Raúl Castro em Havana, uma maior perspectiva de integração: "Ainda que tenha grande ligações com o governo antigo, há mudanças".

No dia 2 de agosto, no encerramento de uma sessão do Congresso, o presidente cubano, Raúl Castro, admitiu que o novo governo americano é menos agressivo do que os anteriores. No entanto, garantiu que o país manterá a linha socialista. O anúncio foi uma resposta ao recente fim das restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos. Até então, estavam proibidas viagens a Cuba e remessas de dinheiro feitas por cubano-americanos para suas famílias que moram na ilha.

No dia 14 de julho, em Washington, o presidente americano, Barack Obama, havia retomado o debate sobre o tema migratório, conquistando a simpatia do novo líder cubano. Raúl Castro assumiu o governo há três anos, depois que seu irmão, Fidel Castro, passou por uma cirurgia no estômago.

PUC-Rio Digital: O que representa o recente fim das restrições declarado por Obama?

Marcelo Valença: Representa oportunidades para novos rumos nas relações dos Estados Unidos com o resto do mundo. O unilateralismo e o isolacionismo norte-americanos, na última década, foram responsáveis por várias tensões e conflitos por todo o mundo. A postura em relação a Cuba tem grande simbolismo porque mostra revisão de toda uma história de política externa do país, abrindo as portas para o último inimigo que restava da Guerra Fria.

PUC-Rio Digital: Por que acredita que Obama tomou essa decisão?

Marcelo Valença: Acredito que isto esteja dentro da proposta de mudanças promovida durante a sua campanha. Romper com o idéario da Guerra Fria é uma prova de que os Estados Unidos estão em transformação e, com isso, uma nova política externa seria executada. É um grande sinal de ruptura, especialmente depois de quase uma década de governo republicano.

PUC-Rio Digital: Acredita que a tomada do poder por Raúl Castro abrandou o regime?

Marcelo Valença: É um novo chefe político e, ainda que tenha grandes ligações com o governo antigo, há mudanças. Mas ainda é cedo para dizer se o regime foi abrandado ou não. Porém, certamente, podemos esperar diferenças.

PUC-Rio Digital: As intervenções e imposições de embargos econômicos por parte dos Estados Unidos durante todos estes anos foram necessárias?

Marcelo Valença: É difícil dizer se foram necessárias ou não. Afinal, para a lógica da política externa norte-americana, aquilo tudo tinha um sentido. Havia uma motivação para tanto e, dentro dos interesses dos Estados Unidos, a ação era correta. Sem termos uma compreensão integral dos interesses norte-americanos, é muito difícil trabalhar a necessidade de tais posturas.

PUC-Rio Digital: Cuba de fato representa perigo para os Estados Unidos?

Marcelo Valença: Não creio. Cuba hoje é ainda um símbolo da Guerra Fria, mas perdeu muito de sua força. Me parece ser apenas um simbolismo, mais do que qualquer coisa. Nesse sentido, não vejo Cuba como perigo, mas como uma oportunidade de promover mudanças e aberturas na política internacional.

PUC-Rio Digital: Como caracteriza a posição da ONU (Organização das Nações Unidas) diante da situação?

Marcelo Valença: A ONU tende a apoiar tal abertura, especialmente porque os Estados que compõem a Organização têm interesse na normalização do relacionamento entre aqueles dois países. Afinal, grande parte mantém relações com Estados Unidos e Cuba, mas ficam em uma situação incômoda. Agora, a tendência é de um apoio maior, aberto ao restabelecimento de laços.

Detalhes de uma história de brigas

Em 1959, na Revolução Cubana, Fidel Castro e Che Guevara entram em Havana e dão início a um novo regime, com a deposição do ditador Fulgencio Batista. Em pleno período de Guerra Fria, a mudança assusta os americanos, que tinham grande influência sobre o governo da ilha desde 1902.

Em 1961, os Estados Unidos rompem relações diplomáticas com Cuba. Por sua vez, os cubanos estreitam os laços com a União Soviética ao assinar acordos de importação. Começa o conflito que dura até hoje. No ano seguinte, os americanos impõem embargo comercial total contra o país.

Em 2000, depois de anos de crises e restrições, o presidente americano, Bill Clinton, conversa em clima de paz com o governante cubano, Fidel Castro. O encontro acontece na Cúpula do Milênio, em Nova Iorque.

Em 2002, George W. Bush é responsável por medidas de linha dura contra os cubanos. Ele inclui o país entre os chamados terroristas.

Eleito em 2008, Barack Obama parece inaugurar uma nova fase na história dos países, buscando implantar uma política de paz.