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Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


Campus

Globosat investe em interação de mídia

Clarissa Pains - Do Portal

02/09/2009

Há três meses, os conteúdos dos 24 canais de TV por assinatura da Globosat são elaborados para a veiculação "transmídia". O termo, criado pelo teórico americano Henry Jenkins, trata da utilização de diversas plataformas, como internet e celular, para contar partes de uma mesma história. Assim será experimentado no reality show Nós Três, do canal Multishow. Em fase de produção, reflete a nova perspectiva da comunicação, para a qual as empresas devem se adequar, observou o gerente de novas mídias da Globosat, Marcelo Gluz, na Mostra PUC.

A ideia do programa nasceu de um vídeo, colocado por três meninas no site YouTube, com conversas no banheiro de uma boate carioca. O vídeo virou febre na rede e atraiu a atenção dos diretores do Multishow. Nós Três seguirá o cotidiano destas jovens, das quais uma é aluna da PUC-Rio. Suas identidades não podem ser reveladas antes do início do reality show, em outubro, quando poderá ser acompanhado pelo site do canal, pelo Twitter e por outras plataformas de mídia.

Para Marcelo Gluz,  a novidade representa o processo de passagem da mídia tradicional para a chamada “experiência transmídia”, que potencializa a busca por informações:

- As pessoas têm uma vontade enorme de saber o que os outros estão falando, o que estão fazendo e o que recomendam. Por isso, gostam de acompanhar histórias e pessoas, seja ao vivo ou pelo twitter, facebook, celular, orkut, myspace, e, assim, agir sobre as tramas. 

O executivo ressaltou, aos estudantes que lotaram o Auditório Anchieta, que a empresa está “com os olhos voltados para as novas mídias”. Embora os exemplos mais concretos de experiências nesta área venham dos EUA, como os filmes que viraram games e vice-versa (O senhor do anéis e Lara Croft: Tomb Raider, por exemplo), ele afirmou que já há demanda no Brasil. Isso foi indicado, por exemplo, na noite de estreia da minissérie da TV Globo Capitu, quando houve “uma enxurrada de críticas de usuários do twitter em tempo real”. O especialista acredita que, "independentemente da vontade da empresa, o público já realiza certa união entre as mídias".

- Quando eu era garoto, havia cinco canais de TV aberta. Na adolescência, cerca de 20 pagos. Hoje, há um milhão de sites, então as histórias passam a ser contadas e percebidas de maneira diferente. - observa.

De acordo com Gluz, é mais importante ter fãs do que consumidores, pois aqueles são mais fiéis. Ele lembrou Michael Monello, produtor do filme A bruxa de Blair (realizado a partir de um falso documentário feito por estudantes de Cinema), ao afirmar que “o mais importante é deixar espaço para o fã se apropriar da história, a reconstruindo, parodiando, amplificando, remixando e dividindo o sucesso”. Assim, interferências no conteúdo original são vistas com bons olhos.

Para o gerente da Globosat, franquias transmidiáticas dão margem à interpretação e provocam um desejo de consumir mais. Por isso, são um sucesso. Ele ressalta, no entanto, que este tipo de produto demanda compromisso, exige que a audiência o acompanhe por meio de múltiplas plataformas. O fracasso do terceiro filme da franquia Matrix ilustra o risco que corre iniciativas do gênero: 

- Baseado num conteúdo desenvolvido na internet, apenas os que acompanharam as animações virtuais entenderam Matrix Revolutions no cinema. Assim, a maioria do público detestou, porque não estava tão engajada com a história, que se desenvolvia também em outras mídias. - esclarece. - Existe um equlíbrio tênue entre deixar espaço para a compreensão do consumidor e exigir demais dele, correndo o risco de perdê-lo.

Gluz explica que "é preciso bastante cuidado na abordagem de produtos transmitidos em mídias diversas", para que não confundam o público. Ele acredita que a internet seja "o grande portão para produtores descentralizados":

- A princípio, qualquer pessoa pode produzir ou alterar conteúdo na web, e isso pode ser aproveitado de diversas formas. Nossa ideia é que haja cada vez mais sincronia entre a produção e a exibição, pois o "tempo real" é a maior força da internet.