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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Campus

Estilo de vida vegano em pauta

Clarissa Pains - Do Portal

23/07/2009

Luigi Ferrarese

Nada de carne, leite, ovos ou derivados. Estes itens estão excluídos da dieta de quem segue o veganismo, filosofia que prega o fim da escravidão animal e é considerada por alguns uma contracultura. Para os veganos, que adotam uma dieta estritamente vegetariana, não consumir quaisquer produtos de origem animal (alimentar ou não), nem aqueles que tenham sido testados em animais, é a regra número um. Com o objetivo de divulgar este estilo de vida, começa hoje, dia 22, o 12° Festival Vegano Internacional, que acontecerá nos pilotis do Edifício Kennedy, na PUC-Rio, até o dia 25 de julho.

Um passo além na dieta vegetariana tradicional (que exclui somente carnes), o veganismo defende que os animais não podem ser explorados de nenhuma maneira, e devem ter os mesmos direitos à vida e ao bem-estar de que o ser humano usufrui. Sendo assim, couro, lã, marfim, mel, seda e gelatina (feita a partir de tutano de boi) são alguns dos produtos que também estão cortados da lista de compras de um verdadeiro vegano.

- Qual o motivo de continuarmos matando animais se isso não é necessário para a nossa sobrevivência? – questiona Natasha Ribeiro, aluna do 3° período de Comunicação Social da PUC-Rio.

Vegetariana há pouco mais de 3 anos e vegana há cerca de 8 meses, Natasha acredita que o comodismo seja a principal barreira para a adoção do estilo de vida vegano.

- É preciso abrir mão de certos prazeres e não pensar apenas no seu próprio benefício, mas também no meio ambiente, nos animais. Não houve escapatória no meu caso: quanto mais eu pesquiso, mais tenho certeza de que estou fazendo a coisa certa – afirma.

David Silva, aluno de Direito da UERJ, compartilha da opinião de Natasha: “as pessoas preferem não descobrir o que está errado para não ter que mudar”, diz ele, que é vegano há um ano e meio. Para o estudante, a principal fonte de preconceito é a falta de informação e a quebra de uma cultura amplamente aceita.

- Num primeiro momento, as pessoas nem entendem o que estamos falando. O que defendemos vai contra algo que está enraizado. Somos ensinados que a vaca serve para nos dar leite. Toda a filosofia ocidental é centrada no antropocentrismo: a natureza a serviço do ser humano. O homem tem todos os direitos possíveis, o resto é objeto. Assim, juridicamente falando, um cachorro é igual a uma cadeira - esclarece.

 David, que começou a se interessar pelo assunto quando um professor especialista em Ética levantou a discussão na sala de aula, confessa que ainda não era vegano porque não tinha força de vontade o suficiente. Após pesquisar e assistir a alguns vídeos, decidiu optar por esta filosofia, literalmente, da noite para o dia.

- Sempre comi carne e isso era normal para mim. Ser vegano é uma questão de racionalidade: mesmo lembrando que o gosto da carne era bom, minha força moral é tão forte que me faz simplesmente deixar de querer comê-la – diz.

Uma dieta à base de frutas, cereais, grãos, legumes, folhas e derivados de soja. A Associação Dietética Americana (ADA) reconhece que o veganismo pode ser saudável, nutricionalmente completo (para todas as idades) e traz benefícios na prevenção e no tratamento de certas doenças. Embora não seja consenso entre os nutricionistas, parte deles também defende a ideia de que alimentos de origem animal, principalmente carne, não sejam uma necessidade fisiológica ou química, mas sim comportamental. De fato, a maioria dos problemas de saúde está relacionada ao consumo excessivo de carne, não à carência. Para Natasha, nosso corpo é realmente reflexo do que comemos:

- Depois que virei vegetariana e, mais tarde, vegana, minha saúde melhorou muito. Agora, meu colesterol nunca está alto e me sinto mais bonita, com mais disposição e com a consciência tranquila – diz ela.

A indignação de quem segue o veganismo é, sobretudo, em relação ao sofrimento a que os animais são obrigados a passar. Seja em matadouros, laboratórios, circos ou rodeios, os veganos abolem todo tipo de exploração animal para, a princípio, qualquer fim. Mesmo em relação aos polêmicos testes para a produção de remédios, a maioria deles é contra.

- É claro que, assim como existe limite para o direito humano (como a legítima defesa), também existe para o direito dos animais. Porém, não adianta alguém viver mais 5 anos se for à custa da morte de milhares de seres – defende David.

Vez ou outra, a vida dos veganos pode ser difícil: piadinhas de amigos; almoços de família cujo prato principal é carne; poucas opções de alimentação em restaurantes.

- Às vezes, ao perguntar se tem alguma opção vegetariana, o garçom até ri da nossa cara – completa o estudante. 

Para Filipe Coutinho, do 4º período de Engenharia Química na PUC-Rio e vegetariano há pouco mais de um ano, “é sempre bom comer antes de sair de casa”. Ainda assim, ele, que consultou um nutricionista e um clínico geral ao excluir a carne de sua dieta, pensa em tornar-se vegano: “é o próximo passo. Para mim, é uma evolução natural”.

 A maioria dos adeptos do veganismo conta que, com o tempo, as pessoas próximas passam a se interessar mais sobre o tema. Segundo David, que é o único vegano da família, hoje em dia, todos comem e gostam de carne de soja. Assim como na casa da Natasha: “se minha mãe faz um strogonoff de carne, e eu um de soja, a maioria come o meu”.

Há ainda, porém, os que desconfiam da dieta alimentar proposta pelo veganismo. Samara Amorim, também do 4º período de Engenharia Química, onívora convicta, afirma que jamais seria vegana, ou mesmo vegetariana.

- Gosto muito de carne e não acredito que seja necessário parar de comê-la, nem que os vegetais a substituam totalmente . No entanto, acho interessante boicotar produtos elaborados a partir de testes em animais.

Luisa Kneip, que é vegetariana e aluna de Design na PUC-Rio, considera também fundamentais os nutrientes presentes no ovo, no leite e em seus derivados. “A dieta vegana nos priva de alimentos necessários à saúde”, acredita a estudante.

A única carência cientificamente comprovada, contudo, é a da vitamina B12, proveniente de bactérias encontradas no solo. Uma vez que os animais se alimentam diretamente do chão, eles ingerem estas bactérias e, por isso, são grande fonte deste nutriente para os seres humanos. Devido aos nossos hábitos higiênicos, há certa deficiência na aquisição desta vitamina senão por meio da carne animal. Suplementos vitamínicos ou injeção (geralmente anual) são soluções possíveis.

Embora ainda pouco conhecido no Brasil, o veganismo – e o vegetarianismo de maneira geral – vem ganhando cada vez mais adeptos nos últimos anos. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, em 2006, 28% dos brasileiros procuram comer menos carne, o que mostra certa tendência a uma mudança de hábitos.

Esta edição do Festival Vegano – que teve início na Dinamarca, em 1981 – é a primeira que ocorre na América Latina, e a expectativa é de 350 a 500 inscritos. Circulando pelas atividades de acesso livre, no entanto, espera-se em torno de mil pessoas. Segundo Bianca Turano, uma das organizadoras do Festival, a PUC-Rio foi escolhida por se adequar à ideologia vegana.

- A PUC é a cara do Rio, aqui há muito contato com a natureza. Então, ela representa bem aspectos da filosofia de vida que defendemos – afirma, acrescentando que, no próximo ano, o evento será realizado na Austrália.

Confira a programação e outras informações sobre o Festival no site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Opções de alimentação vegana no campus:

Restaurante Na Medida

(Nem a massa dos sanduíches, nem dos hambúrgueres é feita com leite ou com ovos. Apenas a dos quiches)

Hambúrguer de soja: R$ 11,50
Sanduíche Wrap Veggie: R$ 12,50 *
Omelete Veggie: R$ 12,50 *
Salada vegetariana: R$ 8,00
Salada Oriental: R$ 8,00 *

* pedir sem mussarela de búfala

Fast Way

Sanduíche vegetariano: R$ 11,50 (inteiro); R$ 6,50 (meio)
(pedir sem queijo e no pão integral)
Salada vegetariana: R$ 8,40
(pedir sem queijo).

Restaurante Gourmet do Campus

Hambúrguer de soja com 2 acompanhamentos (arroz, batata ou saladas) e feijão: R$10,50
Macarrão com bolonhesa de soja: R$ 8,50.

Mr. Ali Cafeteria

Sanduíche de pão árabe: R$ 7,00 (inteiro); R$ 4,00 (meio);
Recheios: Saladas – alface, hortelã, rúcula, agrião, beterraba, tomate, cenoura;
Pastas – soja, berinjela, tomate seco.

Salada com até 13 itens: R$ 6,50 (com acompanhamento de hambúrguer de soja ou quibe de soja: R$ 8,50).

Restaurante Couve-Flor (comida a quilo)

Saladas (há diversos ingredientes para a montagem); tomate ao forno; salada de grãos; Ceasar salad; salada de legumes ralados; berinjela na chapa ao azeite extra virgem.

- Por ocasião do Festival:

Kibe de soja; arroz de lentilha; jardineira de legumes; almôndegas de soja (molho com caldo de legumes); arroz carioquinha e integral.

Barraca da Empada (perto do portão da PUC)

Esfira de pão árabe com espinafre: R$ 2,00.

Há também, fora da PUC, um quiosque que vende apenas hambúrgueres e sanduíches vegetarianos/veganos, mas fecha em época de férias.