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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cultura

A febre do humor de cara limpa

Bruna Santamarina - Do Portal

17/07/2009

 Lucas Landau

O comediante deve estar sozinho, sem cenário, figurino, maquiagem ou qualquer adereço. Não pode vestir personagens. O único instrumento é sua forma particular de enxergar o mundo. As piadas devem ser originais, baseadas nas observações do dia a dia e não podem ser anedotas ou piadas prontas, de conhecimento público. Este é o stand up comedy, também chamado de humor de cara limpa. Um novo formato de comédia que vem se tornando mais popular nos teatros brasileiros: Curitiba, Salvador, Belo Horizonte, Florianópolis. No Rio, três peças do gênero estão em cartaz, sem contar as apresentações em bares ou restaurantes. Em São Paulo, já são onze. O humorista Fernando Caruso, ex-aluno de Comunicação Social da PUC-Rio, sobe aos palcos todo fim de semana para apresentar um de seus 15 textos. Ele faz parte do elenco da primeira peça de stand up formada no país, Comédia em pé, em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, até o dia 26 de julho. Ele aponta as vantagens e desvantagens do gênero:

– O nervosismo é maior desafio. Se a plateia não gostou de um espetáculo, ela não gostou do personagem. Mas, se ela não gostou de um stand up, ela não gostou de você. É uma exposição da intimidade bem mais devastadora. Em compensação, você não depende de nada, como trilha sonora ou iluminação. Há uma comunicação direta, sem zigue-zague, em que você pode olhar e falar com a plateia, o que é libertador.

Vera Novello, professora de Comunicação e Teatro da PUC-Rio, acredita que, por mais que a principal característica do gênero seja uma aprensentação sem personagens, o comediante acaba "criando um personagem de si mesmo", uma figura pública, que tem características próprias, nem sempre relacionadas diretamente a ele.

– Em princípio, ele se apresenta no palco como ele mesmo, mas há um personagem ali, que tem um código com a platéia: o comediante público, de quem a platéia espera um ponto de vista – explica.

Um stand up comedy tem um mestre de cerimônias que faz uma breve introdução e, em seguida, convida para o palco um comediante de cada vez. Cláudio Torres Gonzaga é o mestre de cerimônias de Comédia em pé, que também conta com a participação de Fábio Porchat, Paulo Carvalho e Léo Lins. Eles constroem textos bem humorados que exploram com outro olhar aspectos inusitados do cotidiano. Cada um tem cerca de dez minutos para entreter a platéia, em um espetáculo de 70 minutos.

– Os textos são em primeira pessoa. O comediante trabalha conversando com a platéia. Faço observações do cotidiano e procuro um humor sutil, racional e inteligente. Não gosto de apelações. Todos nós, individualmente, gostávamos e consumíamos o estilo do stand up. Para criar Comédia em pé, em cartaz desde dezembro de 2006, foi preciso apenas juntar a fome com a vontade de comer – conta Caruso.

Para Vera, comediantes de stand up devem cultivar características específicas: bom grau de sinceridade, tranquilidade para improvisar e, ao mesmo tempo, articular o discurso, para manter o público atento, seja com piadas ou com fatos curiosos e distorcidos.

Para construir uma crônica bem humorada, é preciso um bom encadeamento de raciocínio. Tem que estar antenado, ler jornal, estar na rua e saber do que as pessoas estão falando. Já a abordagem que será dada é outra coisa a ser pensada. Pode ser escrachado, abobado ou até blasé com relação aos fatos do cotidiano. O stand up usa recursos diferentes da comédia comum. O humorista deve encontrar uma sintonia maior com o público – observa a professora.

O grupo do Comédia em pé abre um espaço para novos comediantes, o "mico aberto". Os aprendizes têm a possibilidade de testar sua capacidade de fazer uma platéia rir com seu próprio stand up por três minutos. Deve-se enviar o texto para o e-mail contato@comediaempe.com.br , para avaliação do grupo, e esperar ser convidado.

O mico aberto é um espaço que nós abrimos para quem nunca fez stand up se aventurar. Também para quem já fez e quer testar um texto com piadas novas. É um laboratório que está criando uma nova geração de comediantes – diz Caruso.

Raízes centenárias

O stand up tem suas raízes no entretenimento popular do fim do século 19, nos Estados Unidos e na Alemanha. Os mestres de cerimônia começam a aparecer em clubes noturnos e cabarés, apresentando grandes bandas e abrindo shows de outros artistas.

Começam a surgir os comediantes do stand up. Eles se apresentam como cronistas, que têm uma visão bem humorada dos acontecimentos. As pessoas não vão aos locais propriamente para assistir aos espetáculos. Não havia o formalismo da dramaturgia. Lá, podia-se beber, conversar – conta Vera.

No fim de 1950 e no decorrer de 1960, o gênero e tornou uma moda entre boêmios e intelectuais. A stand up comedy explode dez anos mais tarde. No entanto, por volta de 1990, parece entrar em declínio. O mercado estava cheio de comediantes que esperavam que o sucesso do gênero abrisse portas para outras áreas. No início do novo século, o stand up surge em outros paises, como o Brasil, e é oxigenado com a internet e os canais de TV por assinatura. 

Para Vera Novello, o Brasil conserva a tradição de se interessar pelo humor. Segundo ela, os cariocas e os paulistas, principalmente, têm uma tendência a gostar do gênero. Caruso concorda:

– Somos um povo oral, que gosta de conversar, de contar histórias e de comédias. O humorista de stand up tem que procurar referências do próprio dia a dia para fazer suas piadas. Acaba achando, sem querer, uma identidade nacional. Ele procura a verdade e encontra o Brasil.

Os dez mandamentos do humor de cara limpa

1 – O comediante só pode se apresentar sozinho. Jamais em dupla ou grupo.

2 – Só é permitido se apresentar com texto próprio. Não pode usar piadas que já caíram em uso popular ou foram recebidas pela Internet. Muito menos usar aquele truque muquirana de contar a anedota como se o fato tivesse acontecido de verdade, tipo “eu tenho um tio português...”.

3 – Não pode fazer personagem. Também não vale transformar a si mesmo em personagem ou usar figurinos engraçados. Use roupas que você usaria normalmente, no dia a dia.

4 – Evitar contar casos. O material deve ser preferencialmente de tópicos de observação.

5 – Deixar bem clara a persona de cada um. Não tente fingir ser quem você não é. Seja você mesmo, sempre. Se você é mal humorado, seja assim no palco, por exemplo. E se em determinado dia você estiver de saco cheio, assuma; se estiver eufórico, idem; assuma o seu estado diante da platéia. Aliás, é importante também tentar trazer sua rotina para o mais perto possível de você. Se o comediante for judeu, em algum momento fale de judeus. Se for gay, fale sobre gays. Se for nerd, fale sobre ser nerds, etc.

6 – Não é permitido o uso de trilha sonora ou qualquer tipo de sonoplastia.

7 – Não é permitido fazer nenhuma marcação de luz. Use apenas a iluminação básica do palco.

8 – Não é permitido o uso de cenografia ou adereço.

9 – Os comediantes podem e devem testar material novo diante da platéia. Vale desde improvisar tendo apenas o tópico em mente até ler as piadas, caso elas não estejam decoradas ainda.

10 – Não forçar a barra. Se você tem apenas cinco minutos de material, faça uma apresentação de cinco minutos e saia. Tudo bem. Não enrole. As apresentações, aliás, serão sempre de 5, 10 ou 15 minutos.

 

 Comédia em pé em cartaz

 

- Teatro das Artes, Shopping da Gávea.

Onde: Rua Marquês de São Vicente, 52. Gávea.

Quando: Quinta, sexta e sábado, às 19h30. Domingo, às 18h30. Até 26 de julho.

Preço: R$ 60.

Classificação: 14 anos.

Lugares: 402.

Duração: 70 minutos.
Telefone: (21) 2540-6004


- Teatro dos Grandes Atores, sala azul, Shopping Barra Square.

Onde: Av. das Américas, 3.555. Barra da Tijuca.
Quando: Quinta, sexta e sábado, às 21h30. Domingo, às 20h30. Até 26 de julho.
Preço: Quinta, R$ 50. Sexta e domingo, R$ 60. Sábado, R$ 70,00.

Classificação: 14 anos.

Lugares: 402.

Duração: 70 minutos.

Telefone: (21) 3325-1645.


Para ganhar 50% de desconto em ingressos inteiros, nos teatros do Shopping da Gávea e do Shopping Barra Square, deve-se imprimir o panfleto no site e levá-lo à bilheteria.

 

- Lona Cultural Municipal Jacob do Bandolim.

Onde: Praça Geraldo Simonard, s/n, Pechincha.
Quando: 24 de julho, às 21h.

Classificação: 14 anos.

Duração: 70 minutos.

Telefone: (21) 2425-4579.

- Lona Cultural Municipal Hermeto Paschoal.

 

Onde: Praça 1° de Maio, s/n, Bangu.
Quando: 29 de julho, às 21h.

Preço: R$ 20.

Classificação: 14 anos.

Duração: 70 minutos.

Telefone: (21) 3332-4909 / 3159-2047.

 

- Lona Cultural João Bosco

 Onde: Rua São Felix, 601, Vista Alegre.
Quando: 22 de julho, às 21h.

Preço: R$ 20,00

Classificação: 14 anos.

Duração: 70 minutos.

Telefone: (21) 2482-4316.

 

Outras peças de stand up em cartaz no Rio

 

- Estação Stand up

Com Daniel Belmonte e Rafael Studart.

Onde: UniverCidade - Estação Carioca do Metrô.
Quando: 22 e 29 de julho, às 19h.

Preço: R$ 10.


-
Santa Comédia

Onde: Teatro do Leblon, sala Tônia Carrero. Rua Conde Bernadotte, 26.
Quando: Sextas e sábados, às 23h.

Preço: R$ 50.

Telefone: 2274- 3536.

 

Outras peças de stand up no Brasil

 

- Em São Paulo:

Comédia Ao Vivo;

Deznecessários;

Stand up de Danilo Gentili (CQC);

A Divina Comédia Stand Up;

Clube da Comédia Stand Up;

Humor & Mágica;

Las Vergonhas;

Nocaute;

Santa Comédia;

Seleção de Humor Stand Up;

Tamo Junto!

 

- Em Belo Horizonte:

Venha antes que eu acabe.

Com Márcio Ribeiro.

 

Nós na Fita.

Com Leandro Hassum e Marcius Melhem.

 

Que História é Essa?

Com Felipe Andreoli.

 

- Florianópolis:

Senta pra Rir. Com Diogo Portugal.

 

- Salvador:

Clube dos hienas. Com Heron Santana, Karla Koimbra, Miguel Vieira e Talis Castro.