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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Cidade

Na contramão dos games

Carolina Barbosa - Do Portal

03/08/2009

 Lucas Landau

Pelo menos duas vezes por semana, João de Paula Santos, 18 anos, abre as portas do apartamento em que mora com os pais, na Lagoa, para receber os amigos.  Eles se reúnem para disputas animadas de jogos, mas não são os eletrônicos que dominam a cena. Enquanto o mundo dos games ganha cada vez mais espaço na vida de crianças, jovens e adultos, há quem ainda prefira os clássicos. 

João começou a jogar totó aos sete anos, quando seu pai lhe deu uma mesa amarela no Dia das Crianças. O menino ficou encantado com as cores do novo brinquedo, que tinha os jogadores com uniformes brancos e vermelhos. Desde então, já comprou outras mesas.

- Meu pai sempre jogou comigo. Hoje, ele não tem mais paciência. Mas estou feliz, pois consegui reunir cinco amigos que também gostam do totó. A gente faz uns campeonatos. A dupla vencedora ganha um lanche em um fast food – conta.

Quanto ao xadrez, que divide as tardes de segundas e sextas-feiras, João diz que o mais interessante do jogo de tabuleiro é a facilidade de transportá-lo.

- Carrego meu xadrez para qualquer lugar. Uma vez fui passar férias na fazenda de um primo no interior do Mato Grosso e deixei meu tabuleiro em casa. Fiquei tão desesperado querendo jogar que arrumei uma cartolina branca e desenhei sobre ela os quadrados. Como peças, usei pedrinhas de diferentes tamanhos – relembra.

Filho da geração Playstation, Gustavo Vieira, de 11 anos, é amante do tabuleiro de damas e da pipa, atividades incomuns para os meninos de sua idade. Do seu grupo de amigos, é o único que não tem videogame porque não quer. A mãe, Ana Maria, tentou fazê-lo gostar do brinquedo, mas ele não se adaptou.

- Com toda esta violência em que se vive nas grandes cidades, fico preocupada em deixá-lo ir para a rua brincar. Por isso, tentei incentivá-lo a gostar dos games, em geral. Porém, ele resistiu a todas as minhas tentativas – conta.

O menino explica porque não se sente atraído pelos jogos tecnológicos.

- Sempre fui muito agitado, inquieto e preciso me movimentar de alguma maneira. Acho o videogame parado. Mesmo o (Nintendo) Wii, que é interativo, não me atrai. Por isso, gosto de soltar pipas e jogar damas. Por sorte, tenho um vizinho que também gosta e nós dois jogamos todos os finais de semana – diz.

Durante os intervalos das aulas na PUC-Rio, as amigas e estudantes de Comunicação Social Clara Rodrigues, 20 anos, e Talita Costa, 19, se encontram no bosque ou em frente ao busto de John Kennedy, no Edifício da Amizade, para jogar uma partida de sueca. E o jogo não é apenas um passatempo, mas uma forma de diversão para o sexteto. Para elas, esta é uma forma de reunir os amigos para bater um papo, uma distração nesta correria de período letivo.

- Nada como ter o contato com as cartas e os amigos – diz Clara.

Talita acrescenta que é emocionante ver a reação das pessoas e que este é o diferencial dos jogos tradicionais em relação aos virtuais.

- Jogar pelo computador é muito monótono. Você não consegue enxergar a reação dos outros jogadores. Prefiro jogar com pessoas do que em frente a uma máquina. Por mais que eu saiba que tem outras pessoas interagindo comigo pela rede, não é a mesma coisa - diz Talita, que afirma nunca ter gostado de videogames.

Durante as férias, Clara sente falta dos encontros e convida sua empregada e os irmãos para jogarem uma partida. Ela diz que as cartas induzem um raciocínio mais rápido e a ajudam na concentração.

- Eu fico mais atenta quando estou jogando. É ótimo porque isto me ajuda na hora de fazer uma prova, por exemplo.

Ao ver seu avô jogar gamão com os sócios quando ainda tinha oito anos, a estudante de Publicidade do 4º período Karoline Éberle, 20 anos, ficou encantada com o tabuleiro de madeira maciça. Insistiu para que o avô a ensinasse aquele jogo “diferente”. Desde então, não parou mais de jogar. Hoje já são doze anos de experiência que ela compartilha com o pai durante as partidas em casa. Karoline reclama que só tem adversários mais velhos.

- Infelizmente, as pessoas da minha idade desconhecem o jogo ou o acham pouco interessante. Impossibilita que eu jogue com elas – diz.

A estudante conta que prefere os jogos tradicionais aos videogames por serem mais baratos e permitirem a reunião de amigos.

- Gosto dos jogos mais antigos porque acho que são menos “viciantes” que os de videogame. Além disso, na maioria das vezes, os jogos eletrônicos são para serem jogados por uma única pessoa e isso me incomoda, pois prefiro jogar em grupo – explica.