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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


País

Todo jornalismo deve ser investigativo

Gabriela Ferreira - Do Portal

22/11/2007

Fontes seguras, curiosidade, desconfiança e sorte são elementos fundamentais para se fazer um bom jornalismo investigativo. Os jornalistas Fernando Molica, Marcelo Auler, Marcelo Beraba, José Roberto de Toledo e Chico Otávio, este último professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, debateram as mudanças da informação, do crime organizado e do perigo de se fazer um jornalismo superficial.
“Os delitos nunca se esgotam, mas dá para ver como muda a atividade criminosa. O mundo era mais simples”, disse Molica, lembrando que hoje o acesso à informação é muito maior e a facilidade de comunicação também, mas o crime avançou na mesma proporção. Segundo o coordenador de cursos e projetos da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) José Roberto de Toledo, é preciso identificar as organizações criminosas para facilitar o trabalho da investigação:
- Não existe a figura do crime organizado. Se não for bem definido, não tem como saber o que é. Há uma centralização do comando e uma distribuição de tarefas. Um rouba, outro lava o dinheiro. Não há crime organizado sem a participação de um agente público. Ele corrompe funcionários públicos e substitui o Estado, disse José Roberto de Toledo, responsável pela área de Reportagem com auxílio do computador na Abraji.
Para o repórter Marcelo Auler, hoje trabalhando no jornal Estado de S.Paulo, qualquer jornalismo deve ser investigativo, ou é apenas uma mera correia que passa a informação. “Você tem que contestar e duvidar, até se for a sua mãe. Qualquer fonte, por melhor que seja, tem interesse para que a sua informação vá adiante”, disse Auler, lembrando que as fontes são elementos fundamentais para uma boa apuração.
Para o presidente da Abraji, Marcelo Beraba, a produção média irregular da reportagem investigativa se deve às inúmeras dificuldades que os jornalistas encontram. “Se para a polícia é difícil, para nós é mais ainda. Nós não podemos quebrar sigilos bancários ou telefônicos”, disse Beraba. Ele critica a falta de preparo das redações para reconhecer uma boa política pública e para publicar matérias sobre o tema.
- As nossas reportagens são feitas de aspas. Nós nos qualificamos em algumas áreas e nos esquecemos de outras. O trabalho investigativo não está restrito ao crime e à corrupção. Há muito que fazer em investigações sobre saúde, esporte, no carnaval, e nós não avançamos. Toda a apuração deveria ter um cuidado imenso. O leitor é mais qualificado hoje. Quem se forma tem que ter faro, e tem que dominar e conhecer as áreas consideradas “chatas”, se não vai fazer jornalismo superficial, disse Beraba.
Chico Otávio e Fernando Molica também fizeram duras críticas ao “jornalismo superficial”. Para Auler, jornalistas deveriam ser mais ativos. “Há sempre um manancial de denúncias e nós temos que trabalhar nelas. Temos que cobrar critérios, números do governo”, disse.