Suzane Lima e Rafaella Mangione - Do Portal
22/06/2009O fim da exigência do diploma de jornalismo, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, deflagrou uma série de debates e protestos. Professores, profissionais e representantes da categoria participaram, ontem, 22, e hoje, 23, de um ciclo de debates sobre as implicações da mudança, sempre às 13h, na sala 102k, com transmissão ao vivo do Portal PUC-Rio Digital. Mediadas pelo coordenador do curso de Jornalismo, Leonel Azevedo de Aguiar, as discussões contaram, na segunda-feira, com a presença de Jorge Roberto Freitas, integrante da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas.
Nesta terça, foi a vez do diretor do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, Alberto Elias Guimarães Jacob, e dos professores Célio Campos e Soares Júnior, do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, participarem do debate. Além da discussão de aspectos como a qualificação profissional e os efeitos da decisão do STF no mercado de trabalho e no exercício democrático, o mediador Leonel Aguiar lembrou que o papel do jornalista é justamente o de mediador social:
- Ele (o jornalista) deve mediar as opiniões divergentes e os interesses conflitantes e refleti-los na sociedade por meio de informações de qualidade.
Já Alberto Elias Jacob criticou a postura do STF:
- O ministro Gilmar Mendes está querendo fazer um papel que não lhe cabe, o papel de legislador. Cabia ao STF apenas dizer se o decreto que foi feito na ditadura era constitucional ou não. Além de fazer isso, ele está mexendo com todas as regulamentações profissionais.
Estudantes do Rio e de Niterói fizeram uma passeata ontem, do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) até o Fórum, no Centro. Em Petrópolis, jornalistas e estudantes da área também programam um protesto, marcado para amanhã, 24, às 18h, na praça D. Pedro II. Também às 18h, a jornalista e advogada Leise Taveira, professora de Comunicação da PUC-Rio, coordenará um debate na sede da OAB no Rio (Rua Marechal Câmara, 150, Centro). Para o presidente da ABI, Maurício Azêdo, tais manifestações são positivas e necessárias:
- Os estudantes têm de se manifestar contra essa decisão que passa por cima da Constituição. Nós até sugerimos uma manifestação especial: um abraço coletivo no prédio do STF.
No debate de segunda-feira, Leonel Aguiar ressaltou que é hora de combater o desânimo. Pois o diploma de jornalismo não foi extinto, e sim a sua obrigatoriedade:
- Não podemos ter uma perspectiva derrotista, tampouco desesperada. O mercado tende a continuar exigindo o diploma, valorizando a formação. Até porque, ao contrário do que disseram ministros do Supremo, o jornalismo é uma área de conhecimento cientifico - esclareceu - A decisão do Supremo contraria um direiro adquirido e um avanço democrático.
A professora Leise acrescentou que é preciso equilíbrio para refletir sobre as implicações do fim da exigência do diploma, mas lembrou a importância da mobilização para reparar uma ameaça social:
- Equilíbrio não significa inércia. Sem a regulamentação, abre-se uma brecha para a informação afastar-se do interesse público. A discussão vai além das questões trabalhistas: a sociedade precisa refletir sobre a qualidade da informação que deseja.
Para "dar conta da complexidade do mundo" e cumprir o papel de pensar, produzir e transmitir informação qualificada, aprofundada, o profissional precisa estar bem preparado, argumentou o jornalista e professor Jorge Roberto Freitas, integrante da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas. Portanto, a necessidade da formação especializada "não caiu":
- O curso de jornalismo melhorou muito, e se separou do mito da objetividade.Há toda uma ética ensinada nas universidades sem a qual a informação corre o risco de seguir interesses particulares, não o bem social.
A capacidade de produzir informação esclarecedora, crítica, contextualizada seguirá diretamente proporcional à qualidade da formação, observou o jornalista Alexandre Carauta, professor de Comunicação da PUC-Rio. Uma formação não se restringe a capacitações técnicas.
- Não se trata só de ter ou não ter um papel, e sim de adquirir e desenvolver competências específicas para prover a sociadade de informação qualificada. Competências que exigem desde compromissos éticos até a habilidade de contextualizar um fato, para as quais a formação especializada é importante.
Para Mauricio Azêdo, a justificativa de ministros do STF de que o jornalismo não necessita de diploma porque sa profissão não oferece risco vital à sociedade é "totalmente errada":
- O jornalista têm que informar a sociedade e o a decisão do Supremo viola a Constituição, que diz que devemos ter livre acesso à informação.
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