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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


País

O desafio de ajudar na superação de grandes perdas

Tatiana Carvalho - Do Portal

08/06/2009

 Reprodução

Enquanto uma esquadra une brasileiros e franceses na retirada de corpos e destroços do voo 447 da Air France no Atlântico, outro grupo de especialistas desempenha resgate igualmente notável. Longe dos holofotes, uma equipe de 26 voluntários auxilia a recompor o mundo dos que choram os parentes levados pelo maior acidente aéreo envolvendo o Brasil. Desde o desaparecimento do avião, no dia 31 de maio, até a confirmação dos vestígios do desastre, no fim da semana passado, pais, irmãos, filhos recebem o amparo de cinco médicos brasileiros, dois médicos franceses, seis psicólogos brasileiros e um francês.

– Os psicólogos estão à nossa disposição 24 horas por dia – conta Maarten Van Sluys, cuja irmã, Adriana Francisca, estava no voo 447. – Muitas vezes, eles têm a iniciativa de nos abordar ou batem à porta de nossos quartos para ver se está tudo bem.

O auxílio concentra-se no Hotel Windsor, na Barra, onde os parentes buscam notícias, esclarecimentos e alento. Com discrição e habilidade, psicólogos tentam amenizar a rotina dividida entre a fé, a dor e a necessidade de decisões práticas. Rotina dificultada, na opinião do advogado Marco Túlio Moreno Marques, que perdeu os pais no desastre, pela demora das informações esclarecedoras.

– Esperamos pela notícia e ela não chega. Na sala em que nos reunimos, tinha gente chorando, gente trabalhando normalmente, gente que não conseguia parar de encarar o teto. Cada um tem uma reação ao drama – observa.

Nesses casos o psicólogo auxilia o parente a expressar a dor e a suportar o trauma, explica Junia de Vilhena, professora do departamento de Psicologia da PUC-Rio. Segundo ela, o especialista ajuda cada pessoa encontrar o melhor caminho para superar a perda. 

– Cada pessoa reage de uma forma: alguns se refugiam na religião, outros seguem com a vida, outros buscam meditação. Não há fórmula para superar uma perda. A pessoa precisa tentar se sentir confortável. Em casos como o do avião da Air France, parentes das vítimas muitas vezes querem ficar mais próximos ao local do acidente ou até mesmo sobrevoá-lo. Isso ajuda a elaborar a perda, pois a ficha demora para cair.     

Os familiares dos passageiros do voo 447 recebem também o apoio de representantes da Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos. A Abrapavaaa é presidida por Sandra Assali, que perdeu o marido em outubro de 1996, no acidente com o voo 402 da TAM, em São Paulo. Ao todo, foram 99 vítimas fatais. A busca pelos direitos dos parentes das vítimas estimulou a criação da entidade, há 12 anos. Sandra ofereceu orientações aos parentes das vítimas do desastre com o Airbus:

– Quero ajudar a encurtar esse caminho difícil. Trabalhamos em mais de 40 episódios e este é o mais doloroso e angustiante. No meu caso, eu vi o acidente, embora o corpo do meu marido tenha levado três dias para ser reconhecido. É difícil aceitar sem ter a confirmação da morte. Quero passar as informações necessárias para as famílias. No estado emocional em que estão, não pensam nisso, não sabem por onde começar.

Esclarecimentos são igualmente essenciais para amenizar o martírio das famílias, observa Maarten. Ele lembra que "o clima piorou" quando a Aeronáutica voltou atrás e afirmou que os primeiros destroços encontrados no Atlântico não eram do Airbus A330: 

– A notícia aumentou a indignação. A sala onde estão os aproximadamente 50 familiares parece um bunker, nem celular pega lá. O clima é de consternação, as pessoas querem os restos de seus familiares. O que ficam são as especulações, ninguém sabe ao certo o que aconteceu. É preciso deixar a investigação avançar, mas devemos questionar.