A Gazeta Mercantil encerrou seus trabalhos nesta sexta, 29. Depois de tentativas de negociação, o jornal para de circular. A Companhia Brasileira de Multimídia (CBM) deu férias coletivas de trinta dias a seus funcionários e informou que deixa de publicar o diário. É possível que alguns deles sejam reposicionados em outros veículos da Companhia. Aqueles que não forem realocados terão suas férias prolongadas por mais um mês.

 Na terça-feira, 26, o antigo dono da Gazeta, Luiz Fernando Levy, havia comunicado que não aceitaria a rescisão unilateral do contrato firmado com a CBM. Porém, ele garantiu que sua próxima medida seria tentar uma solução satisfatória com todos os interessados na circulação do jornal. 

Segundo o coordenador do curso de Jornalismo da PUC-Rio, Leonel Aguiar, o fim do jornal é um fato lamentável.

- É mais um veículo brasileiro de renome que fecha suas portas e, com ele, se fecham postos de trabalho. É uma pena para a cultura brasileira.

O professor ressalta que o mercado de trabalho se enfraquece com o episódio, porque o país dispõe de inúmeros jornalistas competentes especializados em economia. De acordo com Leonel, a falência representa, por outro lado, a incapacidade crônica dos profissionais da comunicação de manter as empresas em um patamar econômico sustentável.

- Nem o antigo nem o novo presidente quiseram pagar as dívidas da empresa. Nesse jogo de empurra, quem perde é a sociedade brasileira - opina Leonel.

No último dia 25, a CBM, comandada pelo empresário Nelson Tanure, afirmou que, a partir de 1º de junho, não seria responsável pela publicação do jornal. Segundo o texto, Levy deveria reassumir a chefia, já que é o antigo dono da empresa. Tanure administrava a edição do diário econômico desde 2003. Suas empresas também gerenciam o Jornal do Brasil. Com a aquisição do periódico, o empresário assumiu uma enorme dívida, principalmente trabalhista. As tentativas de negociação e quitação dos débitos não tiveram sucesso. Uma decisão judicial, no início de maio, obrigou a Editora JB a assumir uma dívida estimada em R$ 200 milhões.

A Gazeta Mercantil foi fundada em 1920, pelo pai de Luiz Fernando Levy, Herbert Victor Levy. Ao longo dos anos, se consagrou como uma das publicações de economia mais tradicionais do país, superando, em tiragem, outros veículos da área, como Valor Econômico e Jornal do Commercio.

O início da crise financeira data do final da década de 90. Nesta época, as áreas de atuação foram ampliadas e a empresa passou a enfrentar dificuldades. Desde o fim do ano passado, os problemas se agravaram e os salários dos funcionários sofreram atrasos. A equipe de jornalistas, que chegou a contar com mais de 700 profissionais, incluindo correspondentes nas principais capitais do mundo, estava reduzida a apenas 70 pessoas. No Rio de Janeiro, a única funcionária será absorvida pela equipe do Jornal do Brasil, com a qual já trabalhava diretamente, desde o fechamento da sucursal da Gazeta na cidade, em 2004.