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Rio de Janeiro, 16 de abril de 2024


Cultura

Bailarina usa improviso para realçar a arte

Bruna Santamarina - Do Portal

22/05/2009

 Divulgação

Um espetáculo único, diferente a cada apresentação. Explorando o improviso, a bailarina Paula Águas, de 38 anos, cria, produz e dança suas peças. A aluna de pós-graduação da PUC-Rio, acredita que, desta forma, conserva a "sensação de estar viva" ao subir nos palcos.

– A dança é um estado de presença. Não há como ter repetição. Tudo o que surpreende é muito bom e gera um impulso enorme. Trabalho com a improvisação, e também sou surpreendida cada vez que subo no palco.

O espetáculo Qual é a música? ilustra esta filosofia de trabalho e de vida. Paula espalha CDs e liga um pequeno rádio. Os espectadores são convidados a decidir o que querem ouvir. Eles sobem no palco e colocam o CD escolhido no rádio. Não importa a música, Paula dançará. Ela conta que as pessoas ficam tentando surpreendê-la:

– Até som de toque de celular já colocaram para eu dançar. A improvisação acaba dizendo muito sobre você. Entro em contato com meu corpo e me aproximo dos meus sentimentos.

Quando estava no Pantanal, Paula fez uma das apresentações em um palco coberto de areia. Nos últimos cinco minutos do espetáculo, uma cobra apareceu e a artista começou a gritar. A platéia achou que era efeito especial, mais uma de suas improvisações. Cenas como esta não são raras num trabalho como o dela. Paula acredita que, durante uma apresentação de improviso, "o foco do artista é muito maior".

As peças são idealizadas e concretizadas só por ela. Depois de dançar por várias companhias, Paula decidiu encarregar-se de tudo – num "processo de separação":

– Sentia falta de decidir o assunto dos meus espetáculos. Queria falar do que me interessava. Aos poucos, fui criando meus projetos e entrando em festivais. É difícil assumir tanta responsabilidade, mas aprendi na marra. Estou vivendo um momento exausto. Costumo falar que sou "do boy ao boss". Decido as coisas e também tenho que levar um documento no correio. Faço coreografias, monto espetáculos, desenvolvo o cenário. Enfim, faço um pouco de tudo.

No lugar onde mora, um apartamento na Gávea, uma instalação que ela mesma fez decora a sala de estar. São flores de papel-machê amarelas de seu primeiro espetáculo solo, “Sob flores amarelas”, presas a fios de arame e espalhadas pelos objetos do cômodo. A obra une o passado e o futuro da bailarina. Ela pensa em, algum dia, voltar-se às artes plásticas.

– Quero adquirir novos conhecimentos. Com o desejo constante de conhecer as coisas, acabamos mudando de lugar. É assim mesmo: o artista tem que mudar de lugar. Não sei se continuarei na dança contemporânea para sempre. Gosto muito de artes plásticas e já até fiz minha primeira instalação. É um caminho.

Outra característica marcante do lugar onde Paula mora é a tranqüilidade. A bailarina reserva uma hora de seu dia para fazer meditações e manter-se equilibrada. No dia do espetáculo, ela tem o que chama de "dia do recolhimento": não conversa com ninguém e fica sozinha, para que possa entrar em sintonia com o próprio corpo.

Paula começou a dançar balé aos 3 anos. Aos 8, sonhava em ser bailarina profissional. Sua primeira apresentação foi na companhia Nós na fita, quando Paula tinha apenas 12 anos. Já estava sindicalizada aos 14. Ela coordenava as coreografias das semanas vocacionais do colégio Santo Inácio, onde estudava.

– A dança sempre me levou. Foi um processo natural. Quando eu era adolescente, não ficava nervosa antes dos espetáculos. Quando tomei consciência da responsabilidade de estar no palco, de todos os fatores envolvidos, aí sim veio o nervosismo. E fico nervosa até hoje.

Paula consumou recentemente um dos seus diversos projetos. Ela aceitou um convite e foi dançar na China. Fora do Brasil, também esteve em Portugal, na Espanha e na Inglaterra.

– Vivo para a dança. Meu trabalho é resultado de toda a minha existência.