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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Restauração do cinema nacional

Luigi Ferrarese - Do Portal

21/05/2009

Divulgação

A obra completa de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) em cópias 35mm recém-restauradas. este já seria motivo suficiente para acompanhar a mostra sobre o cineasta no Instituto Moreira Salles. O evento, que termina no domingo, 24, ainda apresenta debates com Eduardo Escorel, Paulo José e José Carlos Monteiro. Autor de filmes como Macunaíma, Vereda Tropical e Couro de Gato, o diretor tem lugar marcado na história do cinema brasileiro, particularmente do Cinema Novo.

O evento acompanha o lançamento de uma caixa com seis DVDs, contendo todos os filmes produzidos por Joaquim Pedro. O trabalho de restauração foi realizado com patrocínio da Petrobras. Além disso, o Instituto Moreira Salles receberá uma série de documentos do acervo do diretor, como cartas e roteiros. A programação da mostra inclui a exibição de seis longas e oito curta-metragens do cineasta.

Joaquim Pedro não foi um artista comum. Mesmo tendo estudado cinema na França e nos Estados Unidos, só se interessava em retratar o Brasil. Era o seu próprio país que ele transpunha para as telas.

- Ele foi estudar principalmente com os irmãos Maysles. Foi para aprender um instrumental técnico para discutir o país. Nunca passou pela cabeça dele filmar fora ou com a ótica lá de fora – conta José Carlos Avellar, organizador da mostra.

O Brasil apresentado por Joaquim Pedro era pleno de desigualdades sociais. O autor teve problemas com a ditadura, que censurou suas obras. Em 1965, foi preso junto com outros intelectuais em episódio que ficou conhecido como Os oito do Glória. Ao lado de Glauber Rocha e Carlos Heitor Cony, entre outros, carregava uma faixa com a inscrição Abaixo a ditadura. A ocasião era a recepção aos chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA).

O medo de uma segunda prisão o atormentou em 76. Ele produzia, ao lado do crítico Miguel Pereira, professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, um programa para a TV Globo. Vocações Sacerdotais fazia parte da série Caso Verdade. Joaquim Pedro mostraria o lado progressista da Igreja Católica. No entanto, uma série de eventos determinou o cancelamento do episódio. Às vésperas da exibição, Dom Adriano, um dos entrevistados, foi sequestrado. Bombas explodiram na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e à frente da casa de Roberto Marinho. As fitas sumiram.

- Ficou prontinho, foi anunciado e acabou não indo ao ar. Depois, eu ainda andei atrás de uma cópia desse material, mas nunca mais achei. Tentei ver no Exército, em outros lugares também – lembra Miguel Pereira.

O nome de Joaquim Pedro é de grande representatividade no ciclo do Cinema Novo. Transportou para a realidade brasileira as lições que aprendeu com o cinema-direto dos irmãos Maysles. Ele estudava fervorosamente o cinema.

- O Glauber (Rocha) era de uma inteligência intuitiva. O Joaquim, de uma inteligência super racional – compara Pereira.

Já Avellar destaca na filmografia de Joaquim Pedro a relação que ele estabelece entre imagem e palavra. Seus longa-metragens baseiam-se diretamente ou dialogam com textos literários. No entanto, há que se ressaltar que o diretor não se limitou a adaptá-los à maneira convencional.

- Ele segue o tema, mas não ilustra uma obra já existente. Aquilo é uma provocação, um estímulo para que ele faça o filme – explica Avellar.

Sua obra ajuda a entender não só o cinema brasileiro, mas o próprio país. Capaz de um filme como Couro de Gato, em que as personagens não precisam pronunciar uma palavra para expressar seus conflitos, Joaquim Pedro é um artista raro.