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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Cultura

Guimarães Rosa conduz reflexão da essência humana

Tatiana Carvalho - Do Portal

11/05/2009

 Reprodução


Bem e Mal em Guimarães Rosa, Org. Eliana Yunes e Maria Clara Lucchetti Bingemer

Comparado pela poeta mineira Adélia Prado à Bíblia, o romance Grande Sertão: Veredas foi objeto de uma análise interdisciplinar organizada por Eliana Yunes, professora de Literatura da PUC-Rio, e Maria Clara Bingemer, decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas. No livro Bem e Mal em Guimarães Rosa, oito autores aproveitam o questionamento de Riobaldo sobre seu possível pacto com o diabo como ponto de partida para a reflexão da essência humana. Por exemplo, “se Deus é bom, por que existe o mal?” e “se Ele é todo poderoso, por que não combate o mal?” – questões que, segundo Maria Clara, mantêm-se atuais.

– Deus está ao lado das vítimas e isso não o torna menos poderoso. Hoje, o mal adquiriu novas formas, está mais requintado e velado. A mais óbvia é a violência, que nos torna reféns, com medo de sair na rua. Mas também há a tortura psicológica, a violência doméstica e a ditadura da beleza, que faz meninas se matarem de fome em nome de um ideal falso de beleza – exemplifica a professora. Ela acredita que o homem não desiste de compreender o Mal porque a busca simboliza a tentativa de entender o sentido da vida.

Em Grande Sertão, há o mal físico e o metafísico. O primeiro tem raízes inocentes e revela-se por meio das deformações dos animais domésticos e plantas venenosas. O outro está na melancolia de Riobaldo. Maria Clara ressalta que o protagonista encontra redenção no amor por Diadorim.

A presença do mal na sociedade contemporânea também é lembrada no artigo de Cleide Maria de Oliveira, doutoranda em Ciência da Literatura da PUC-Rio. Ela lembra que o homem é um animal ético, com a consciência de suas decisões. Por isso, ele tem moral e pode diferenciar bem e mal. Ela acredita que a religião aproxima o homem do bem.

Para escrever o prefácio do livro, Eliana convidou a amiga Vilma Guimarães Rosa, filha do autor. Vilma relembra peculiaridades do cotidiano com o pai. Recorda os passeios na barca da Cantareira durante os domingos ensolarados, as idas ao cinema e os sorvetes “monumentais”. Joãozito, como era chamado pela família, gostava de brincar com os netos aos sábados, nas feijoadas do Iate Clube.

A ideia do livro nasceu de um curso da pós-graduação que conjuga, desde 2003, teologia e literatura. Adélia Prado, Clarice Lispector e Machado de Assis foram alguns dos homenageados do curso, cujos trabalhos de conclusão compõem o livro.