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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Nelson Rodrigues é revisitado na PUC-Rio

Paula Araujo e Yasmim Rosa - Do Portal

18/05/2009

 Reprodução

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. Sou e sempre fui um anjo pornográfico." Assim se definia Nelson Rodrigues, o homem que inovou o teatro brasileiro na década de 1940. No ano em que estreia a terceira versão de Bonitinha, mas ordinária, uma de suas obras mais notáveis, a PUC-Rio homenageia o autor. O evento Nelson Rodrigues Revisitado aconteceu no dia 15 de abril, na Universidade. Alunos do terceiro período de Comunicação Social apresentaram campanhas publicitárias baseadas na obra do dramaturgo.

Organizado pelo professor João Renha, o encontro relembrou o jornalista. Para avaliar os projetos, publicitários renomados como Carlos Pedrosa, Marcio Ehrlich e Carlos Negreiros estavam presentes.

- Procuramos fazer um trabalho contemporâneo. Então, lembramos do Nelson Rodrigues, que é um dos mais consagrados autores brasileiros. Os alunos deram uma nova roupagem para algumas de suas peças que viraram filme. Para isso, acrescentaram dados às obras, modificando-as - comentou Renha.

 Bonitinha, mas ordinária, Toda nudez será castigada e Anjo Negro foram alguns dos trabalhos revisitados. Por meio de situações que vivem no dia-a-dia, os futuros publicitários recontaram as histórias, atualizando o contexto das narrativas. A aluna Natasha Santana trabalhou a partir do conto Delicado. Ela gostou da experiência.

- Escolhemos uma história que fala sobre a descoberta da homossexualidade, um tema polêmico ainda nos dias de hoje. Fizemos uma revista, um outdoor e um suporte para copos. Ficou muito legal - conta.

Na plateia, admiradores bem próximos do escritor surpreenderam-se com o resultado. O filho Joffre Rodrigues e o neto Nelson Sacha foram convidados a dar suas opiniões.

- Muitos trabalhos apresentados aqui podem ser considerados profissionais. A qualidade é incontestável - elogiou Joffre.

Conhecido pelo jeito diferente e polêmico de escrever, Nelson tratava de paixões exacerbadas, gestos exagerados, obsessões, taras, incestos e conflitos, o que, na época, era considerado uma transgressão. Contudo, segundo Joffre, era somente o reflexo do pecado que havia na cabeça das pessoas.

- Até 1961, meu pai era o pornográfico do cinema brasileiro sem ter falado um palavrão. Ou seja, ele apenas escrevia o que o público pensava e não tinha coragem de dizer.

De acordo com Márcio Ehrlich, todo ator deve estudar o texto de Nelson Rodrigues, por que ele traz a naturalidade em sua essência.

- Ele não falava só do dia-a-dia, mas procurava escrever do jeito que o brasileiro pensa e fala, o que não acontece de forma linear.

Na família, o cronista influenciou mais três gerações. Prova disso é o filme Vestido de Noiva, baseado em um de seus textos, lançado nos palcos em 1943. O longa foi dirigido pelo filho Joffre, com atuação do neto Nelson e participação do bisneto Vinícius. De acordo com o diretor, a obra não é só uma adaptação, mas também uma releitura da peça.

 -Não pretendi fazer um blockbuster, mas um filme que, acima de tudo, agradasse meu pai . Tenho certeza que ele adoraria. É uma história difícil de entender hoje em dia, porém optei por manter a época e o modo único como ele escrevia- declara Joffre.

Ao longo dos anos, essa maneira peculiar de escrita foi divulgada pelo Brasil, seja por séries de TV, como A Vida Como Ela é... (1996); novelas, como A morta no espelho (1963) ou filmes, como Engraçadinha (1981).

O sofrimento dos personagens de Nelson Rodrigues era o reflexo de uma vida marcada por tragédias familiares. A pobreza de sua família, a morte do pai, de dois irmãos e mais tarde a prisão de um dos filhos fizeram com que ele tivesse uma visão fria e pessimista da vida.

Sua carreira como jornalista começou aos 13 anos, no jornal A Manhã, que era de seu pai . Apaixonado pelo Fluminense, o cronista escreveu textos antológicos sobre o clube. Mais tarde, trabalhou no jornal O Globo e, em 1941, estreou sua primeira peça teatral, A mulher sem pecado.

O pernambucano faleceu em 1980, aos 68 anos de idade, vítima de complicações cardíacas e respiratórias. Em 1992, o jornalista Ruy Castro eternizou a vida e a obra do contista na biografia O Anjo Pornográfico. A vida de Nelson Rodrigues.