O pensador Alceu Amoroso Lima, um dos fundadores da PUC-Rio, teve uma vida eclética: das dicções políticas convertidas na luta contra a censura ao otimismo na capacidade transformadora da educação; dos afazeres na fábrica de tecidos às crônicas marcantes nos jornais cariocas. Caminhos relembrados no recente Dr. Alceu: de ‘persona’ à pessoa, de Candido Mendes, presidente do Fórum de Reitores do Rio de Janeiro. Revisitar os de caminhos de Tristão de Athayde, seu pseudônimo, ou do "doutor Alceu", como dizia Nelson Rodrigues, tem um sentido maior do que uma homenagem ao imortal. Significa renovar o compromisso com o pensamento, com o debate sobre avanços literários, educacionais, sociais. 

- Alceu foi de persona à pessoa porque saiu da posição de crítico, do estabilishment, para encarnar os valores do homem e adotar os ideais do humanismo cristão. Fez justiça com a voz. Defendeu os presos políticos e foi a voz da esquerda na época da ditadura. - destaca o autor.

O protagonismo "no laicato católico brasileiro" e na crítica da modernidade literária no país também é destacado. Marca de Alceu na literatura, na educação e na política brasileira, a visão crítica foi afiada no curso de direito da Faculdade do Rio de Janeiro, onde se formou em 1913, e nas crônicas para o jornal O Crítico, assinadas como Tristão. Visão que se transformou, cinco décadas mais tarde, em combate veemente à censura imposta pelo regime militar.

- Considero Alceu o maior pensador do Brasil no século passado. Foi um modelo de intelectual íntegro, o único pensador que pôde falar na ditadura. Digno de veneração, ele apontava caminhos para a educação brasileira. É uma grande fonte de inspiração - ressalta Gilberto Mendonça Telles, professor do Departamento de Letras da PUC-Rio e organizador do livro O pensamento estético de Alceu Amoroso Lima.    

Alceu converteu-se ao catolicismo em 1928, após um debate com Jackson Figueiredo, e tornou-se um dos principais militantes do pensamento católico. Com a morte de Jackson, assumiu a direção do Centro Dom Vital, que reunia lideranças do catolicismo. Depois de criar a Ação Católica, foi o primeiro brasileiro a integrar a Comissão Pontifícia Justiça e Paz.

Em 1935, o intelectual entrou para a Academia Brasileira de Letras. Sua vida profissional estendia-se das crônicas e críticas em jornais e obras como Introdução à Economia Moderna e No Limiar da Idade Nova até aulas de literatura na Faculdade Nacional de Direito.

Na década de 40, já considerado um dos grandes pensadores da universidade brasileira, ajudou a fundar a PUC-Rio. Foi reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Conselho Nacional de Educação     

O legado de Alceu mantém-se aceso. No Centro Alceu Amoroso de Lima, em Petrópolis, são renovados os valores difundidos pelo pensador, como o aprofundamento do pluralismo social e o respeito entre as culturas.