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Rio de Janeiro, 7 de maio de 2024


País

Exibição de Jango reaviva a crença na democracia

Yasmim Rosa - Do Portal

07/04/2009

Reprodução

Dia 1° de abril de 1964. Com um golpe de estado, os militares depuseram o presidente João Goulart e tomaram o poder. A notícia soou como uma bomba para os partidos de esquerda e o Dia da Mentira se tornou o início do período mais sombrio pelo qual o Brasil passaria. Vinte anos depois, o cineasta Sílvio Tendler lançou o documentário Jango, em meio à campanha pelas eleições diretas para presidente. Mesmo hoje, passados 45 anos, o filme ainda atrai muitos espectadores.

Apesar do título, o documentário não é um mero registro personalista em torno da figura de João Goulart. Tendler tinha o objetivo de mostrar a necessidade de um projeto político, econômico e social para o país, o que ele encontrou na administração de Jango. Queria, também, tentar mudar a ideia de que o então presidente foi um mero comunista.

- Não basta a democracia, ela precisa ter um caminho de justiça, e isso foi o que representou o Jango e todo aquele momento da história brasileira. Na época em que fiz o filme, ele era muito desconhecido e tinha uma imagem deturpada de um comunista. E eu queria mostrar que se tratava de um democrata, que apoiou a luta pelas reformas, a democracia e a instituição social.

A trajetória de Jango é mostrada por meio de imagens de arquivo e entrevistas com importantes personalidades políticas, como Leonel Brizola, Afonso Arinos e o general Antonio Carlos Muricy. O filme levou mais de meio milhão de pessoas às salas de cinema, o que lhe rendeu o posto de sexto documentário com maior bilheteria na história do cinema brasileiro.

 Após a exibição na PUC-Rio, os professores do Departamento de Direito Francisco Guimaraens e Regina Soares falaram sobre aquele período da história do Brasil e sua repercussão nos dias de hoje.

Para o professor Francisco Guimaraens, é importante que se faça um retrospecto daqueles anos, principalmente para quem não os viveu.

- Formar a memória pelo exemplo da dor é fundamental para não esquecermos o que aconteceu naquele período. A ditadura, antes de ser instituída, tem um discurso envolvente e isso acaba atraindo algumas pessoas, o que é perigoso - comentou.

Segundo ele, saber o que aconteceu durante os vinte anos de repressão é uma forma de evitar que ela retorne.

- A ditadura não vai voltar da forma como aconteceu em 1964, até porque o momento é outro, os conflitos são outros. Ela pode vir com outra roupagem e temos que estar preparados para identificá-la da forma como seria apresentada hoje.

A professora Regina Soares concordou com Guimaraens em relação à importância de saber o que foi a ditadura. Além disso, ela não acredita na alienação política da nova geração, apesar de não serem frequentes as passeatas contra os sistemas de governo. Para Regina, outras formas de protesto surgiram juntamente com a revolução tecnológica.

- Ter um inimigo claro a combater ajuda e incentiva o combate, mas não acredito na passividade da atual geração. Não há, realmente, “luta pela liberdade”, até porque não há queixas quanto ao que está garantido. Além disso, os meios pelos quais as pessoas expressam-se, hoje, são diferentes. Na internet, por exemplo, é possível fazer uma campanha política. Acho que essas pessoas sentem e reagem quando são usadas pelos meios de comunicação de grande alcance.