Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

Revelações de um marxista de carteirtinha

Tatiana Carvalho - Do Portal

01/04/2009

 Reprodução

A paixão de Leandro Konder pela filosofia nasceu do interesse pela Grécia. Ele tentava aproximar as idéias dos filósofos gregos com as de Karl Marx, o herói de seu pai. Acabou identificando-se com as ideias marxistas, as quais não mais abandonou.

O marxista de carteirinha formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou como advogado sindical de 1958 a 1964, quando a carreira foi interrompida por "intervenções militares". Foi trabalhar na editora Civilização Brasileira. No fim dos anos 1970, deixou o país depois de ser preso. O destino? Alemanha, onde se inscreveu em um curso de filosofia, que seria concluído 10 anos depois, na UFRJ.

Autor de mais de 20 livros, Konder lançou em 2008 Memórias de um Intelectual Comunista, uma coleção de suas lembranças. Ele também dá um curso na PUC-Rio no qual aborda conceitos vivos de Marx, quinzenalmente, às sextas-feiras. 

Portal PUC-Rio Digital: Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o senhor acabou abraçando a filosofia. Por quê?

Leandro Konder: Um professor me disse que o ensino de filosofia no Brasil era muito fraco, então desisti e acabei me formando em direito. Só voltei a estudar filosofia quando fui para a Alemanha. Enquanto isso, aprendi de forma autodidata, lendo livros. Eu aproveitava dicas que recebia dos alunos de filosofia e de um professor de literatura que tive.

P: Por que o senhor se mantém marxista, mesmo depois da falência socialista?

L: Nunca idealizei Marx. Quando veio a decepção, com a derrocada do socialismo, Marx já estava muito além. Seu pensamento tem quatro conceitos importantes que não foram aprofundados: praxis, alienação, materialismo histórico e ideologia.

P: O senhor aponta sucessor ou sucessores de Marx, que tenham aprofundado estes conceitos?

L: Lukács aprofundou o conceito de ideologia. O tcheco Karel Kosik também pode ser considerado sucessor de Marx. Quando este veio ao Brasil, tentei organizar uma palestra com ele na PUC de São Paulo, mas ele não pôde comparecer por motivos de saúde. Só mais tarde descobri que a doença dele era depressão. No cenário atual, não sei responder, pois não tenho acompanhado de perto. Sei que nos Estados Unidos existem discussões muito ricas, em torno da sobrevivência do pragmatismo.

P: Como foi o processo de produção de seu livro mais recente, Memórias de um Intelectual Comunista?

L: Levei alguns anos escrevendo e reescrevendo. Era algo que eu devia para mim mesmo. Os critérios para decidir o que entraria ou não no livro mudaram, com o tempo e de acordo com o que eu sentia no momento. Algumas palavras irônicas foram suprimidas, vi que não havia necessidade.

P: Como é o curso quinzenal na PUC-Rio?

L: É completamente livre. Não tem inscrição, nem avaliação, nem nota. Abordarei os conceitos vivos de Marx. O que menos envelheceu é o conceito de praxis, pois as pessoas até hoje não o compreenderam muito bem.

P: No mundo atual ainda há espaço para ideologia?

L: Sim, apesar de o conceito estar envelhecendo por não dar conta de sua complexidade. As pessoas acham que ideologia é uma distorção de conhecimento. Ela nunca é ausência total de conhecimento.

P: Quais são os seus próximos planos?

L: Estou escrevendo um livro sobre humor. Inicio-o com uma discussão filosófica sobre o panorama. Reflito sobre o que faz uma pessoa séria praticar ou descobrir o humor. Ele corresponde a uma necessidade humana forte, de dar uma “relativizadazinha”.