Tatiana Carvalho - Do Portal
12/03/2009Um remédio previsível, tardio e de eficácia incerta. Assim boa parte dos especialistas avaliou a redução da taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual (11,25% ao ano), a maior desde 2003, um dia depois de o Brasil acordar com o fantasma da recessão, indicado pela queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas nacionais – no terceiro trimestre do ano passado. Para a professora de Economia da PUC-Rio Eliane Gotlieb, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderia “ser mais ousada”:
– Havia condições para diminuir em mais 0,25 ou 0,5 ponto percentual, sem comprometer a coerência e credibilidade do Banco Central. O importante é manter a intenção de baixar gradativamente os juros – observa a professora.
Apesar do corte, o Brasil continua como o país de maior taxa de juro real: 6,5% ao ano, descontada a inflação. Eliane ressalva que o combate à “marolinha” transformada em tsunami exige um conjunto de esforços além do alívio monetário. O governo, diz a especialista, deve ter mais cautela e austeridade na aplicação dos recursos públicos e coordenar ações para impulsionar o crédito, especialmente em segmentos estratégicos, como a construção civil.
A professora lembra que a capacidade de a economia reagir e afastar o risco de recessão depende, entre outros fatores, à capacidade de o recuo da Selic¸ taxa básica de referencial, converter-se em crédito mais barato para o consumidor. Em fevereiro, a taxa média de juros referente a operações de crédito para pessoas físicas caiu pelo terceiro mês seguido. Recuou de 7,57% para 7,47% ao mês, de acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças. Até que ponto tais mudanças serão suficientes para recolocar o país na rota do crescimento é uma questão que desafia os especialistas.
– A economia precisa de juros mais baixos para que o bolso do consumidor seja realmente aliviado. A tendência é que a taxa continue caindo. O ideal seria 8% ao ano. O maior problema é que, por medo da inadimplência, os bancos mantém suas taxas altas – explica Eliane.
Na opinião da professora, a redução de 3,6% do PIB entre outubro e dezembro de 2008 – pior resultado desde o Plano Collor, em 1990 – representa uma desaceleração forte. “Não foi causada por algo que o governo fez ou deixou de fazer, e sim devido à inserção do Brasil no mundo. Nós exportamos muito e o crédito internacional paralisou as atividades”, avalia.
Enquanto os números recentes ameaçam pôr o Brasil na rota do tsunami mundial, empresários cobram do Planalto um pacote de ações contra o afogamento. Na PUC-Rio, a crise afetou o dia-a-dia dos comerciantes. “As vendas de livros diminuíram muito. Estamos importando pouquíssimo, pois os preços e os prazos de entrega aumentaram”, conta Aldevino Fernandes, gerente da livraria Carga Nobre. Na luta contra o prejuízo, ele negociou descontos com as editoras e aumentou as promoções para estudantes.
Já na lanchonete Fastway, nem sinal de marola. Segundo a supervisora Aline Anunciação, o movimento está maior do que no semestre passado. “A crise não nos afetou”, afirma.
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