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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


País

Agradecimentos marcam missa por Clarice Abdalla

Bruna Santamarina e Tatiana Carvalho - Do Portal

11/02/2009

 Bruna Santamarina Agradecimentos marcaram a missa de sétimo dia por Clarice Abdalla, vítima de um infarto fulminante no último dia 4. Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, dentro do campus da PUC-Rio, a família da jornalista agradeceu o carinho recebido. O reitor Pe. Jesus Hortal, S. J., que celebrou a cerimônia para aproximadamente 250 pessoas, relembrou momentos em que esteve com Clarice:

- Lembro dela como aluna e como estagiária. Recordo-me também de ter sido entrevistado por ela e pelo (jornalista) Sidney Rezende, no programa Encontro com a Imprensa. Ela levava seus projetos com carinho. Agradeço de coração o exemplo deixado por Clarice, sua coragem, os anos de convivência e tudo o que nos ensinou. Seu trabalho florescerá, não será esquecido. Era uma vida preciosa.

Segundo a diretora do Departamento de Comunicação Social, Angeluccia Habert, a forma como Clarice encarava a vida e o trabalho se refletia em pequenos detalhes, como seu sorriso e seu modo de caminhar.

– Clarice era minha amiga, ex-aluna e colega, nesta ordem. Eu sentirei muito a sua falta. Ela era pura alegria e levava suas tarefas com otimismo e leveza. Isso se refletia em seu jeito de andar, sempre olhando para frente, de cabeça erguida, e em seu sorriso; ambos inesquecíveis.

O vice-reitor comunitário da PUC-Rio, Augusto Sampaio, reiterou a perda de uma profissional extremamente qualificada, que reunia muitos atributos difíceis de substituir, como a competência e a preocupação singulares.

– Às vezes, ela me ligava no meio da noite, preocupada com alguma notinha que saiu no jornal e poderia prejudicar a imagem da PUC. Lembro também que sempre se despedia dizendo "Obrigada, querido. Um beijo" – afirmou ele.

Regina Abdalla, irmã de Clarice, emocionada, agradeceu a todos pelo carinho demonstrado. Ela acredita que, sem o apoio recebido, a família não teria aguentado tamanha perda.

– Em nome de toda a família: obrigada. Agradeço ao reitor, à PUC, a todos. Peço que lembrem de Clarice com alegria, em suas orações, e que levem um pedaçinho dela com vocês. Ela era alegre e amava sua vida.

Ultimamente, Clarice Abdalla acumulava as funções de coordenadora dos núcleos de Assessoria de Imprensa, Rádio e Internet do Projeto Comunicar, assessora de imprensa da reitoria da PUC-Rio, criadora do Portal da Arquidiocese e, ao mesmo tempo, escrevia uma tese de doutorado sobre Alceu Amoroso Lima. Clarice era formada em Comunicação Social, especialista em Sociologia Política e Filosofia Contemporânea e doutoranda em Letras pela PUC-Rio. Ela também foi responsável pelos projetos Revista Jovem, que vai ao ar na Rádio Catedral FM, e Estação Pilh@, colaborando para o início da radiodifusão multimídia no Brasil, além de ter dois livros publicados (O Circo e Encontro com a Imprensa – O Rádio Lido).

Abaixo, confira o último poema escrito por Clarice Abdalla, em dezembro de 2008, Presente, Passado, Futuro e o poema Da Cor da Rosa, que ela escreveu em homenagem à mãe:

Presente, Passado, Futuro

Perdi o bonde da história.
Não existe mais bonde.
Nenhuma referência
de espera que conte um romance.
Até o relógio perdeu seus ponteiros
e o vulgar ri de todos nós.

A carta é eletrônica.
O lazer disponível diluiu sua alegria
pelos anos de minha infância.
A memória congelou.
Em cinzas os corpos evaporam-se.
Tudo muito fluído vira futuro do passado.

Onde está a lembrança do amor
que se guardava com tanto zelo?
Os documentos acham que me são fiéis
ao registrar que estive aqui e ali.
Anote, antes que seja tarde:
deixei um beijo da recordação mais sincera.

Uma reflexão:
É possível não ser possível
de ser possível.
Pode ser que seja traduzível
O enigma de uma dor latente
E seu cansaço correspondente.

É possível o inconsciente
se revelar afável de tantas
coisas e amigo da saudade.

Quando chegar este dia
do impossível, do inconsciente
não serei mais infeliz.

Clarice Abdalla - 26/12/2008

Da cor da rosa

A rosa pode não ser
tão rosa assim.
Pode ser de muitas cores:
     se fechar e abrir,
conseguir, ou não,
captar a fertilidade do solo.

A Rosa que conheço
brota de momentos áridos
e segue aos Céus
     sem fronteiras!
Acode as flores mais fracas
num ato de mãe
Distingue a claridade da dúvida.
Sangra, tem pólen, é poesia.

A Rosa que conheço
é de história humana
ligada ao cheiro do anonimato.
No entanto se difere,
pulsa, solicita, incomoda.
Ergue a voz turbulenta,
proclama liberdade, e
dia a dia se refaz.
     Costura fazendas
     nos serões mais distantes
     de seus desejos.
Saudades de gente, de alguéns,
de passados tão próximos ao futuro.
     Rosa... Que cor é essa
     que podemos confundir com gente?

Rosa
de abrigo tão aconchegante
para tantos espinhos!
De Fortaleza tão sólida
composta de fragilidades.
     Como pode uma rosa
     viver tão intensamente
     sob um aroma que nunca murcha?

A notícia imprevista
não abate a roseira.
A Rosa que conheço
semeou na solidão
na mudez do vento
e na complacência do sol.
Toda a natureza faz companhia
a essa Rosa nada sobrenatural,
     sem plástica,
     sem sentença,
     sem notoriedade.

A rosa vive um espaço
na extensa terra do mundo.
“Irmão Sol, irmã Lua, irmã Morte.”
No coração uma crença sem lendas,
e uma beleza que
não tem mais idade, e,
     pra quê contar os anos?
     O que envelhece uma alma
     que ainda vive uma intensa metamorfose?

A Rosa que eu conheço
não se perde de vista.
Conta sua idade num rosário.
Fala de um amor de mãe
próximo a um abraço.

Nos dias difíceis
reconhece a verdade.
Abriga o cansaço.
Ama. Ama. Ama.
Ama a todos
apesar de tudo.
Carrega uma cruz
sob uma alegria
que não se compreende.

Pois, num rosário
mora uma Rosa
de idade infantil.
Tão colorida...! Tão cheia de sabedoria
que abrange o mundo
com um só coração.

Mãe, mãe.
Num só coração (também de Jesus)
você costurou muitas vidas
dispersas pela falta de fé.

Clarice Abdalla - 18/04/1985