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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Protagonista do carnaval antigo, a marchinha volta com toda força

Paula Araujo - Do Portal

19/02/2009

“Taí”, “Teu cabelo não nega”, “Querido Adão”, “Seu Doutor” e muitas outras. Eternizadas na memória dos brasileiros, as marchinhas de carnaval são, até hoje, referências do espírito alegre e brincalhão do carioca. Elas foram responsáveis por animar o mês de fevereiro do Brasil até 1960. Desde 2006, os carnavalescos têm mais um motivo para sorrir e relembrar. Afinal, após ficarem décadas relativamente esquecidas, as marchinhas voltaram com o Concurso Nacional de Marchinhas da Fundição Progresso. Esse ano, a campeã foi “Bendita Baderna”, de Edu Krieger. O concurso, transmitido no dia 8 de fevereiro pelo programa Fantástico, teve como homenageada a inesquecível Carmen Miranda, que completaria 100 anos no dia 9 também de fevereiro.

Segundo a professora do Departamento de Sociologia da PUC-Rio, Santuza Naves, a marchinha surgiu no final dos anos 1920. “Principalmente na década de 30, o gênero é cantado pelos blocos de rua e passa a ser reconhecido como música de carnaval. Nesta época, surge uma geração importantíssima de compositores como Lamartine Babo e Braguinha, que tinha o codinome de João de Barro.”, afirma ela.

Oduvaldo Lacerda, filho de Benedito Lacerda, um dos maiores compositores de marchinhas da época, explica que o processo de composição das músicas era em conjunto. “Eles faziam tudo em parceria. Gastão Viana, Luiz Vassalo, Humberto Porto e outros. Um fazia a letra, o outro a melodia e depois juntavam”. Em 1935, Benedito Lacerda compôs “Querido Adão” com Oswaldo Santiago e Carmen Miranda interpretou a marchinha. Mas foi em 1930 que a cantora “explodiu” com “Taí”, de Joubert de Carvalho. A música não saiu mais do repertório dos bailes de carnaval.

Santuza explica que a denominação do gênero vem da marcha militar. “É uma paródia da marcha. É o mesmo andamento, mas é carnavalizada. Se a marcha militar é solene, a marchinha é jocosa e leva o riso às últimas conseqüências”.

As marchinhas continuaram como músicas de carnaval até o final dos anos 1960. “Todo mundo esperava qual viria naquele carnaval”, lembra Santuza. Uma das últimas foi “Máscara Negra”, uma marcha-rancho de Zé Kéti, em 1969. Para o compositor e produtor musical Paulinho Tapajós, a festa perdeu muito, depois que o samba-enredo e os desfiles das escolas de samba passaram a ser os protagonistas da folia. “O carnaval era uma manifestação popular e passou a ser uma atração turística, uma forma de movimentar muito dinheiro. Até os blocos de rua hoje são atração turística, não é mais “família”, opina.

O jornalista Ruy Castro, por sua vez, acredita que “o maravilhoso carnaval das marchinhas”, como chama, está de volta com os blocos do Rio e com os concursos. As dez melhores marchinhas do Concurso Nacional vão compor um cd e podem entrar para a história do carnaval brasileiro.