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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

O analfabeto que passou no vestibular

Bruna Santamarina - Do Portal

04/02/2009

“O fato é que não se tratavam propriamente de romances, mas sim de um gênero que ele (Antônio Pastoriza) apelidou de ficção jornalística, termo redundante, porém preciso. Toda sua prosa se baseava em reportagens de jornais, às quais ele acrescentava elementos e personagens ficcionais. Não tinha compromisso nem com a literatura nem com a realidade. Só com a imaginação, a invenção, a farsa. Sua linguagem era trivial mesmo, sem qualquer tipo de recurso estilístico. Além de misturar tempos verbais, abusava dos adjetivos e dos clichês, principalmente na construção dos personagens.”

O trecho é do livro O analfabeto que passou no vestibular, uma ficção jornalística de Felipe Pena, da editora 7 letras, lançado em setembro. Antônio Pastoriza, um dos personagens, é  diretor de uma faculdade de Psicologia e se vê envolvido na resolução de um crime. A narrativa leva ao leitor temas polêmicos, que tiveram grande repercussão na mídia, como o episódio do analfabeto que passou no vestibular e da estudante que levou um tiro em um campus de uma universidade no Rio de Janeiro. Além disso, o autor relaciona polícia, traficantes e políticos, que brigam pelo controle de uma nova droga sintética.

Segundo o autor, a ficção jornalística usa fatos reais, que servem de base para construir uma narrativa, em seu caso, carregada de suspense até a última página. Ele acredita que o gênero fala melhor da realidade do que a própria realidade, por isso, resolveu tratar de assuntos que viraram notícia em um livro de ficção.

– Os jornais, no dia seguinte, viram papel de embrulho para peixe e os assuntos se perdem. Já o livro tem mais durabilidade. Uma crítica pode permanecer por muito mais tempo, por exemplo – explica Felipe.

O autor é jornalista, formado pela PUC-Rio, e afirma que não teve pretensões literárias. O livro é seu primeiro romance, que se soma a outras oito obras voltadas ao universo da comunicação. Sua intenção, em O analfabeto que passou no vestibular, foi prender a atenção do leitor com uma linguagem de fácil entendimento e uma trama de tirar o fôlego.

– Só quis facilitar a vida do leitor, por isso utilizei minha experiência com a linguagem jornalística, que tende a ser mais fácil e de melhor compreensão.

Nas mais de duzentas páginas do livro, Felipe Pena construiu uma narrativa que pode remeter à realidade, pois trata de assuntos presentes no cotidiano dos cariocas, como a violência e o tráfico de drogas, além do ensino universitário brasileiro. Ele não interpreta isso como um ponto a favor, nem contra.

– A história real apenas virou âncora da narrativa. Acredito que a força do livro é a rapidez com a qual os fatos se sucedem. Minha intenção foi que o leitor não tivesse vontade de parar de ler – conta.