Giovanna Santoro e Thayana Pelluso - aplicativo - Do Portal
26/11/2015No Museu de Arte do Rio, duas exposições apresentam trabalhos de uma seleção de fotojornalistas brasileiros: Ângulos da notícia – 90 anos de fotojornalismo do Globo, em cartaz até domingo (29); e Evandro Teixeira: a constituição do mundo, até 31 de janeiro. O acervo de fotografias de O Globo, exposto no andar térreo do Pavilhão de Exposições, reúne mais de 150 imagens produzidas por grandes nomes do fotojornalismo que atuam ou atuaram no jornal, como Thiago Lontra, Domingos Peixoto, Sebastião Salgado, Eurico Dantas e Marcelo Carnaval. Ao subir as escadas do pavilhão, os 60 anos da trajetória do fotojornalista Evandro Teixeira são representados em 150 fotografias, que tratam desde o golpe militar de 1964 até de um dia comum de chuva no Rio, estão expostas. A convite do Portal PUC-Rio Digital, o professor de fotojornalismo da PUC-Rio Paulo Rubens visitou o MAR e comenta as duas mostras.
Para Paulo Rubens, a relação íntima de Evandro com a câmera fotográfica é um fator determinante para a originalidade do seu trabalho: “O Evandro tem um trabalho único. Mesmo com uma câmera relativamente simples e em filme, suas fotos revelam-se perfeitas”.
Ele lembra que o fotojornalismo sofrem grandes mudanças, impulsionadas pela digitalização das imagens e pelos avanços tecnológicos que garantem fácil acesso a equipamentos de qualidade. Hoje, a fotografia está tão presente na sociedade – que exige rapidez na divulgação das informações – que muitas vezes é necessária a contribuição de fotos tiradas por não profissionais, porém com qualidade compatível ao trabalho de um.
– Antes, o principal trabalho do fotojornalista era registrar os grandes acontecimentos, como queda de aviões, incêndios, maus tratos. Hoje, grande parte desses registros é feito por um morador da janela de casa ou por uma pessoa que passou de carro na hora. É lógico que essa imagem ganha primeira página, independentemente de ser ou não de um profissional, de ter ou não toda a técnica e qualidade de um fotojornalista – diz Paulo Rubens, que lembra ainda outra mudança perceptível no mundo do fotojornalismo: o aumento da preocupação com a imagem, com redes sociais, crimes virtuais, leis sobre o uso de imagens.
No caso da exposição do Globo, Paulo Rubens lamenta que muitas das fotos expostas não indiquem a autoria: “Antigamente, os nomes dos fotógrafos não eram vinculados às fotografias, omitindo o reconhecimento merecido dos fotógrafos”.
Exposição: Evandro Teixeira: A constituição do mundo
Chuva no centro do Rio (Largo da Carioca, RJ, 2005)
“A imagem não tem uma importância factual e nem na questão de acontecimento, ela é destacada pela beleza técnica. É formada uma linha perfeitamente paralela à borda do retângulo, promovendo elegância estética. Além do clima de humanidade, ele junta a qualidade técnica com a beleza de cor, e ao mesmo tempo a expressão da vida humana”, destaca Paulo Rubens.
Monges no terraço do Edifício Copan (Série Futebol: a paixão do Brasil – SP 2009)
“Se a foto é boa, e ainda por cima é bonita, fica difícil competir. Essa imagem promove a junção perfeita para uma boa foto. Esteticamente com o preto e branco dos prédios e do piso contrastando com as faixas amarelas das roupas e a túnica da mulher. Ao mesmo tempo, o factual é sensacional, por relatar a paixão do brasileiro pelo futebol.”
Guerra dos Tóxicos, Vila do João, no Rio de Janeiro (1998)
“A imagem mostra o contraste da criança inocente diante de uma brutalidade. A conexão do cadáver representando o reflexo de guerra com a fragilidade do rosto o menino é uma construção criada pelo fotografo. Mesmo que as fotos mostrem a realidade, muitas vezes elas são construídas para agregar valor”.
A rainha Elizabeth II chegando à inauguração do Masp, em São Paulo, em 1968
“A rainha Elizabeth no Brasil sendo flagrada fazendo um gesto desconcertante ao ajustar a saia passa a ingenuidade de uma moça. Essa imagem tem um teor crítico embutido, pois contrasta o direito de reinar pela hereditariedade com fragilidade da rainha”.
Tomada do Forte de Copacabana no golpe militar de 1964
Para a realização dessa foto, Evandro entrou disfarçado de militar, junto com um amigo, no Forte de Copacabana , que era o “ícone do golpe de Estado no Brasil”. “A foto tecnicamente é simplíssima e singela. O soldado contra a luz e a chuva passa uma sensação de melancolia”.
Ângulos da notícia – 90 anos do fotojornalismo do Globo
Engenheiro é morto no centro do Rio – Marcelo Carnaval
O retrato de uma mulher com seu filho morto no colo, extremamente comovida, massem uma lágrima no rosto, ganhou o Prêmio Esso de Fotojornalismo de 2006. “Diante de uma situação dramática que não tem importância jornalística ou tem a invasão de privacidade de alguém, a sensibilidade é o que vai limitar as ações”.
Thiago Lontra
“Parece um hipopótamo abrindo a boca na água.” Apesar de não estar acontecendo nada, a técnica da foto é perfeita pelo equilíbrio entre o Museu do Amanhã e a luz. Passa uma sutileza e uma calmaria, “parece uma pintura”, completa Paulo.
Domingos Peixoto, Rio de Janeiro, em fevereiro de 2014.
O fotógrafo conseguiu captar exato momento do estouro dos fogos de artifícios em um homem. “Não poderia ter mais informação, além de ser uma condição raríssima”. A foto ganhou o Prêmio Esso de Fotojornalismo de 2014. “A principal questão do jornalismo é a informação ligada à humanidade, por sermos seres humanos”.