Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Dado Villa-Lobos lembra Legião Urbana

Marina Ferreira - Do Portal

25/09/2015

 Paula Bastos Araripe

No dia seguinte à chegada da primavera, um encontro de Dado Villa-Lobos, Rômulo Mattos e Felipe Demier com jovens na PUC-Rio indicava que mudaram as estações, mas nada mudou: a Legião Urbana continua viva no coração dos fãs. Promovido pelo Departamento de História, o debate sobre a autobiografia de Dado, Memórias de um legionário, ultrapassou as formalidades da academia e em poucos minutos ficou claro que o evento, mais do que para os fãs, era feito por eles.

O livro, lançado pela Editora Mauad X em maio e já na segunda edição, é produto de um trio formado por um ídolo e dois fãs. Dado conheceu o historiador Felipe Demier numa partida de futebol. “Numa disputa de bola, Demier me deu vantagem, por eu ter feito Dois, Descobrimento do Brasil e Que país é esse? (álbuns emblemáticos da Legião Urbana). Saquei logo, era legionário. Desde então ele ficou com essa história de que eu tinha que escrever um livro”, contou Dado. O também historiador Rômulo Mattos, professor da PUC, foi convocado por Demier na missão de convencer Dado a pôr no papel suas memórias, que se confundem com a história do rock brasileiro. Rômulo apresentou suas credenciais de historiador e um ingresso de 1988 – o primeiro show que foi na vida era da Legião Urbana.

 Paula Bastos Araripe Esses e outros bastidores da feitura do livro eles dividiram com fãs, estudantes e pesquisadores na sala K102 da PUC-Rio. Desde as duas da tarde, se ouvia nos corredores do primeiro andar do Kennedy “Acho que vou chorar!”. Pessoas com camisetas das bandas Legião Urbana e Aborto Elétrico – primeira banda de Renato Russo – se aglomeravam na porta da sala. “Falou em Legião Urbana, eu paro tudo e vou aonde for”, disse Tatiana, que veio de Caxias para ver o ídolo de perto. A estudante de Comunicação Social, Regina Iack, levou os pais: “Eles me incentivaram desde pequena a ouvir Legião e hoje somos três fãs lá em casa”. Enquanto isso, Dado, parado numa blitz de motos, estava atrasado e o público esperava como se fosse show.

O guitarrista da Legião Urbana chegou tímido e olhares atentos acompanharam cada passo que deu. Já acomodado com os dois parceiros de escrita, Dado explicou que precisou reorganizar a história internamente antes de transformá-la no livro que chama de “documento”. Para ele, Romulo e Felipe foram essenciais ao contextualizar o momento histórico em que várias letras foram feitas, além de conferir as memórias do músico que se foram se perdendo – este ano faz 30 anos que o primeiro disco da banda foi lançado.

 Paula Bastos Araripe A Legião Urbana surgiu em tempos de acirramento político no Brasil, que, em 1982, dava os primeiros e árduos passos rumo à redemocratização. Para Felipe Demier, a banda é mais importante do rock nacional, e o contexto do seu surgimento está atrelado diretamente ao seu sucesso estrondoso:

– A banda conseguiu expressar uma série de demandas da população e questões que não foram resolvidas até hoje. Faroeste Caboclo falando da difícil migração interna no país, Perfeição ‘comemorando’ “todos os mortos nas estradas, os mortos por falta de hospitais”, e Que país é esse? falando da sujeira do Senado. Isso tudo combinado a letras que falavam das subjetividades da juventude, em constante transformação.

Dado relembrou fatos curiosos, como quando Renato Russo – vocalista morto em 1996 por complicações da Aids – quase se recusou a escrever a letra da “brega e genial” Angra dos Reis. Ou que nunca tocaram no Rock’n’Rio porque “Renato era insuportável” e era difícil convencê-lo, e que Faroeste Caboclo não tem nove minutos, mas oito – Dado convenceu o mixador de som a colocar nove porque “lhe deu na telha”.

DivulgaçãoAo falar de Renato, Dado mudou o tom e se emocionou. As primeiras páginas do livro narram o dia que ele classifica como um dos mais tristes de sua vida: 11 de outubro de 1996. Morria o líder da Legião Urbana, ídolo de multidões e seu amigo-irmão. Ele disse que via a doença de Renato como algo que “é só por hoje” e que se ele estivesse aqui, estariam muito presentes um na vida do outro e trabalhando juntos. 

Projetos futuros

O projeto Legião Urbana – 30 anos está previsto para o final do ano e vai contar com shows e o relançamento do primeiro disco da banda com todas as músicas remasterizadas e raridades que estavam guardadas na gravadora.