A ideia de fazer uma reportagem sobre famílias tocadas pela doença de Alzheimer surgiu pela proximidade da repórter do Portal Marina Ferreira com a doença. Ela acabara de perder a avó, depois de 13 anos com Alzheimer, e percebeu o quanto a doença afeta a família inteira. Durante sete anos, o avô da repórter cuidou da esposa, esqueceu de cuidar de si mesmo e em 2010 acabou falecendo. Marina percebeu que o Alzheimer afeta o doente e a todos em seu redor.
Quando a repórter levantou a pauta, sete pessoas da redação disseram ter pelo menos uma pessoa na família ou algum conhecido com a doença. Chocou-nos o quão frequentes são os casos, e quanto falta informação sobre a doença.
Maria Clara Parente, que também assina a reportagem, tem dois casos de Alzheimer na família –que são completamente silenciados, a ponto de não se pronunciar o nome da doença. Esses familiares não aceitaram dar entrevistas ou falar com a repórter sobre o assunto, o que ocorreu outras tantas famílias contatadas.
Durante o período de produção da reportagem, um senhor, de aparentes 80 anos, tentou entrar na casa do estudante de cinema Tiago Herz, acreditando ser a sua. O rapaz conta que, se não tivesse entrado em contato com o mundo do Alzheimer através de Maria Clara, sua namorada, talvez não tivesse se sensibilizado com a situação. Ele logo percebeu que o senhor apresentava os sintomas mais comuns da doença: “Ele tinha construído aquela casa e não entendia quem eram aquelos estranhos na ‘casa dele’”.
Leia mais relatos:
Um retrato do Alzheimer, a doença da família
“Ela é uma estrela que se apaga lentamente, mas ainda consigo ver sua luz”
Augusto Alves, 78 anos, contador, cuida da esposa, Thereza, 76, há pelo menos dez anos com Alzheimer.
“Minha mãe nunca soube lidar com o sofrimento”
Márcia Martorelli, 59 anos, professora aposentada, cuida da mãe, Maria Cecília, 88, com Alzheimer há 11 anos.
“Para minha mãe, foi mais fácil esquecer-se da própria vida"
Eliana Faria, 58 anos, presidente da Abraz-RJ, cuidou da mãe, Zélia, que morreu em 2014, após quase 20 anos com Alzheimer.
“As pessoas não se informam sobre essas doenças, acabam descobrindo só quando acontece com elas”
Leo Arturius, cineasta de 32 anos, fez o filme "Impossível esquecer" a partir da doença do pai, Dílcio de Souza, morto em 2013, aos 74 anos, diagnosticado oito anos antes.