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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Campus

Adnet: "Aprendi na PUC que queria trabalhar feliz"

Luisa Oliveira e Davi Raposo - aplicativo - Do Portal

28/04/2015

Paula Bastos Araripe

Formado em comunicação pela PUC-Rio em 2003, Marcelo Adnet é conhecido nacionalmente pelas suas peças, filmes e programas de humor – está à frente do programa Tá no ar, da Rede Globo, desde o ano passado, ao lado do também ex-aluno Marcius Melhem. O que muitos não sabem, no entanto, é que o jornalista escolheu a graça como forma mais fácil de exercer a profissão, como contou nesta terça-feira na Semana de Rádio e TV do Departamento de Comunicação.

– Eu nunca tinha subido num palco antes, mas aceitei, e ali descobri que improvisar era mais jornalismo do que fazer assessoria de imprensa, porque tudo aquilo que eu achava relevante sobre política ou qualquer outro assunto eu poderia dizer no palco. Eu não estava preparado para o que aconteceu, porque não imaginava fazer disso uma profissão. O que queria mesmo era ser feliz trabalhando, e isso tudo começou aqui na PUC.

Na sala 102K hiperlotada, além de mais duas salas com transmissão ao vivo, Adnet lembrou as trilhas que percorreu desde a escolha da profissão, até chegar ao horário nobre na Globo:

– Quando eu comecei a fazer comunicação havia um grande obstáculo. Pais e familiares conservadores diziam sobre a carreira: “Você tem que ser advogado, engenheiro, médico, ou então você é medíocre”. Atualmente não é assim. Há muitas áreas e possibilidades de trabalho. Mas aqui na universidade eu aprendi que a comunicação dá a oportunidade de termos o caminho que quisermos. Quando eu era mais novo, tinha uma enciclopédia e recorria a ela. Hoje, temos múltiplas possibilidades de aprendizado, de se aproximar, de estarmos conectados com o mundo.

 Paula Bastos AraripeO humorista ainda contou os momentos essenciais para a formação profissional que viveu ainda na MTV Brasil:

– Nós tínhamos uma TV com alto grau de experimentação, não havia expectativa e nem cobrança de mercado, embora fizéssemos televisão de verdade, com todo o trabalho e amor. Até que, em 2012, vivenciei uma experiência bem marcante: fui a Miami e participei de um talkshow cubano. Fiz stand up ao vivo, cantei música, fui entrevistado no sofá, igual ao programa do Jô numa TV americana. Saí da gravação pensando: não há limites! No mesmo ano, ainda cobri as Olimpíadas de Londres. Estes momentos são muito importantes, porque a gente percebe o alcance da comunicação e como as coisas hoje estão mais conectadas e universais.

O revés da interação

Ainda sobre as conexões no mundo, contou que a prática afetou sua vida pessoal, e que passou a usar as redes sociais de forma mais cautelosa, além de aprender a lidar com as críticas:

– As pessoas são livres, e isso é muito bom. Eu sou um crítico dos tempos atuais, porque acho que existem muitos meios, mas que não há conteúdo neles. Eu não consigo ficar no Facebook por muito tempo porque as pessoas têm grande necessidade de dar opinião. Mesmo assim, é muito melhor ter esses caminhos do que não ter. Lidar com as pessoas, às vezes, é difícil. As pessoas hoje tem um ibope pessoal, medem a qualidade a partir das curtidas recebidas nas redes sociais, e fazem isso da forma mais egoísta possível”.

Desde que entrou na Globo, em 2013, Marcelo Adnet foi questionado muitas vezes pela escolha. Muitos que acompanhavam seu trabalho sentiam falta do formato que ele apresentava nos 15 minutos, programa de que era âncora na MTV Brasil. Sobre a mudança de emissora, o humorista justificou ao Portal que foi uma escolha com o intuito de alcançar as pessoas de maneira mais fácil:

– Amadureci errando; temos que errar sempre. Vivemos num tempo muito louco. Por exemplo, qualquer um pode entrar no Twitter e achar tudo sobre mim na ferramenta de busca. Só que existe uma doença na minha profissão: as pessoas elogiam, mas sempre haverá alguma ofensa. Você pula cinco elogios e pensa “alguém me chamou disso ou daquilo”. Isso fere e incomoda. Há muitas pessoas que fazem isso, o que é uma prática muito perigosa, inclusive. Mas a cada ofensa que tomamos aprendemos um pouco. Enfrentamos uma série de decepções. Eu era um menino muito mais aberto, mais inocente, falava coisas absurdas (referindo-se à época do programa 15 minutos). Apesar disso, acho que é uma evolução. O Marcelo de 25 anos falava o que ele queria e era menos experiente, mais sonhador, mais solto, arriscava mais. Hoje, eu sou o mesmo, gosto de mexer com as pessoas, falar besteiras, mas num lugar completamente diferente. Aceitei trabalhar na Globo porque queria falar para 1 milhão de pessoas, por acreditar que falar com várias delas pode fazer diferença no nosso país e, principalmente, a indivíduos que não têm acesso à informação. São coisas que a gente aprende.

A informalidade e o ouvinte: um conjunto que funciona

A tarde de palestras havia sido aberta pela jornalista Thaís Dias, chefe de reportagem da Band News, falou sobre os dois pilares das rádios jornalísticas: a participação do ouvinte e a leveza na transmissão da notícia. Thaís, que já apresentou o ‘Jornal do Rio’ na Band, acredita no papel central do ouvinte na construção da emissora.

– O público é fundamental na forma de abordagem da notícia. O tratamento mais informal angaria certa familiaridade, transmitindo segurança ao ouvinte. Por outro lado, a informalidade exagerada aparenta ao espectador o desconhecimento do assunto e falta de apuração da notícia.

Para Thaís, a apuração imediata é necessária, mas perigosa. Já que os programas da rádio são ao vivo, a apuração dos fatos precisa ser rápida, e, por isso, algumas denúncias enviadas pelos ouvintes precisam ser descartadas.

Paula Bastos Araripe

A formato do jornal é fortemente influenciado por Ricardo Boechat, principal apresentador da emissora e formador de audiência. “Quando o próprio apresentador do programa tem uma maneira de transmitir a notícia mais leve e informal, toda a redação segue a mesma linha”, comenta.

Thaís contou que a descoberta da profissão veio cedo – o pai trabalhou por 30 anos na área comercial da Folha de S. Paulo:

– Enquanto as pessoas achavam Tom Cruise e Brad Pitt o máximo, os meus eram Elvira Lobato, Janio de Freitas... Quando fui fazer vestibular, meu pai me levou à redação da Folha para conversar com eles. Meu pai pediu: “Conta pra ela como é, Elvira; você trabalha muito, ganha pouco”... Eu ficava toda frustrada. Não é possível esses caras sensacionais dizendo que a profissão deles é ruim!

Mas logo conheceu os dilemas que profissionais da área enfrentam. Mas os baixos salários e a carga horária inconstante, segundo ela, devem ser compensados por amor à profissão e a vontade de prestar um serviço público.

Os desafios do jornalismo esportivo

Depois de Thaís, a repórter do SporTv Marina Izidro, retornou à PUC-Rio para falar sobre os desafios do jornalismo esportivo: “Voltar aqui 12 anos depois de ter me formado me deixa muito feliz. Fui capaz de sair da Califórnia para retornar ao Brasil porque havia vagas de estágio na TV PUC. Isso tudo é muito especial”.

Formada em 2003, a jornalista sempre quis a área de esportes. Transmitiu os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Pequim, Londres e a última Copa do Mundo, realizada no Brasil, de onde partirá, em julho, para Toronto com o dever de cobrir os jogos Pan-Americanos de 2015: “O Pan é muito importante para nós, é um aquecimento para as próximas Olimpíadas”. Foi na transmissão da sua primeira Olimpíada (em Pequim) que teve a certeza do que queria: “Meu coração palpitou mais rápido, era aquilo o que me motivava e, desde então, não larguei mais o esporte”.

Para uma sala cheia, Marina compartilhou experiências que teve no decorrer dos anos, como desde os dias cheios de pautas até a aposta do inesperado para fazer de uma matéria simples algo fantástico:

 – Certa vez estava na redação sem matéria alguma, até que meu editor sugeriu que eu fosse ao Galeão transmitir a chegada do Rafael Nadal para o Rio Open. Até então eu achava que não resultaria em nada, até que encontrei a Bárbara, uma nadalnete, aos prantos, acompanhada da mãe, esperando o tenista no saguão do aeroporto. Com a personagem, o que parecia mais uma matéria comum virou uma reportagem fantástica. Então, é sempre bom você estar preparado para tudo o que possa acontecer.

Paula Bastos Araripe

Sobre os jogos de 2016, Marina aposta nas mudanças que o evento poderá trazer para o Rio: “Metrô na Barra, por exemplo, era algo que eu ouvia desde criança e ver isso acontecer é muito bom. Os Jogos Olímpicos e, mais ainda, os Paraolímpicos beneficiam muito na infraestrutura da cidade, principalmente para os deficientes físicos, que usufruirão das instalações com toda a acessibilidade de que precisam”.

Da formação da profissão, Marina ressaltou a importância de observar os profissionais que os estudantes admiram: “Eu tenho profunda admiração por Pedro Bassan e Roberto Kovalick, os textos que eles produzem são fantásticos. Algo que sempre reparo muito é na primeira e última frase, porque a abertura prende, e o final satisfaz. Sempre olhem bastante para aquele jornalista por quem você tem apreço, não para imitar a técnica que ele usa, mas sim para se espelhar”.