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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


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"Comunicação é um serviço público por natureza"

Yasmim Restum - aplicativo - Do Portal

28/04/2015

As diferenças entre público e estatal e as principais barreiras e avanços necessários para a comunicação entre sociedade, imprensa e representantes políticos foram o tema da mesa-redonda Comunicação pública e democracia no Brasil, na sexta feira, 24 de abril, último dia do VI Compolítica.

O presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Nelson Breve, defendeu a ideia de uma rede integrada de informação, e criticou o modelo da comunicação pública vigente:

– Não existe essa história de comunicação segmentada. Comunicação é um serviço público por natureza por atender o direito de liberdade de expressão. Isso deveria ser compromisso de todos que trabalham com comunicação. Entretanto, temos uma indústria cultural e da informação voltada para um negócio e não para as necessidades do mundo e das pessoas – analisou.

A professora Heloíza Matos, doutora em Ciências da Comunicação pela USP, frisou o importante papel da comunicação pública como fomentadora da democracia e demonstrou sua inquietação sobre “descontinuidade” dessa mídia na Europa, simultânea à sua ascensão na América Latina:

– A Grécia recentemente fechou suas emissoras públicas devido à crise pela qual estão passando, além de outros países em situação complicada, como França, Reino Unido e Portugal. A mídia pública está evoluindo no seu atendimento ao interesse público. A grande mídia tem premiado os veículos e agências de comunicação, e as próprias empresas privadas de comunicação premiam seus pares, mas quando se consulta o público de interesse da empresa, a maior parte do público não conhece a empresa em si – argumentou.

A professora da USP usou como referência o lema “Brasil, pátria educadora”, adotado no governo da presidente Dilma, para lembrar a importância da educação para a formação não só dos novos profissionais da área de comunicação, mas também do público que consome a informação:

– A ideia de pátria educadora aumenta o compromisso do estado com a sociedade, pois a proposta reitera a necessidade de mais preparo dos comunicadores públicos diante dos comunicadores políticos, porque a escola está se esquecendo de incorporar em seus currículos esse treino de seus comunicadores públicos, que somos todos nós. É preciso incorporar todas as etnias, a valorização da mulher, as diferentes escolhas sexuais ao discurso público. E os jornalistas precisam mais do que buscar pautas interessantes, mas trazer para dentro da redação esses cidadãos tão diversos e que têm algo a dizer – defendeu.

Autor de pesquisas sobre o tema, o professor da UnB Silvaldo Pereira, PhD em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (Ufal), destacou que a ideia de mídia pública é pouco conhecida no Brasil: “Se perguntarmos a uma criança britânica o que é mídia pública, ela saberá a resposta, mas se perguntar a um adulto brasileiro ele vai confundir com mídia estatal ou não saberá definir”.

– Mídia pública não é mídia governamental, embora ambas vivam de dinheiro público. A diferença está no fato de que a governamental vive de ingerência direta do governo, enquanto a mídia pública é mantida pelo dinheiro público, mas é autônoma.

Para o professor da UnB, a discussão sobre mídia pública é histórica, e o Brasil está ainda pouco inserido no debate. Silvaldo apontou a força da comunicação pública para o equilíbrio da produção jornalística:

– A mídia pública tem um importante papel sobre as mídias privadas. A mídia pública não é perfeita nem resolve o problema da democracia, mas amplifica e insere pontos de vista diferentes no debate, o que ainda é raro no Brasil. Quando a mídia comercial traça um tipo de cobertura específica sobre um determinado tema, aquele é o tipo de cobertura que vai predominar. É nesse momento que a mídia pública deve se colocar para promover uma discussão mais plural, e não apenas a imposição de uma visão de um veículo de finalidade comercial – afirmou.

Ao fim do debate, a mediadora Maria Helena Weber, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, comentou sobre a contribuição da comunicação pública para o processo democrático e a destacou seu caráter revolucionário:

– A mídia pública é tradutora de uma democracia mais participativa. Ela deve se constituir como um dever de Estado, um projeto de civilidade. A comunicação pública é revolucionária por ser um processo de emancipação social.