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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Campus

"Governos têm que se preparar para entender mobilizações"

Luisa Oliveira - aplicativo - Do Portal

29/04/2015

 Divulgação

Em sua primeira visita ao Brasil, a professora e diretora do Oxford Internet Institute, Helen Margetts, abriu o VI Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), na noite da quarta-feira 22 de abril, na PUC-Rio. Sua apresentação teve como tema Turbulência política: Como as mídias sociais influenciam as ações coletivas. A cientista política, que tem quatro livros publicados relacionando governos e a era digital, abordou a relação entre internet e sociedade e internet e ações políticas. A professora mostrou dados de recentes pesquisas feitas por ela e sua equipe sobre a influência da internet nas ações governamentais, principalmente após o surgimento de redes sociais como Facebook, Tumblr, Twitter e Instagram, tema de seu último livro, Political Turbulence, de 2015, e destacou a facilidade das redes sociais para “pequenos atos de participação política, inclusive na facilidade em espalhar petições e doações”.

Nos Estados Unidos, cerca de 300 milhões de pessoas são usuários ativos de internet, o que equivale a 80% da população (enquanto na América Latina é de cerca de 60%). O número considerável de norte-americanos influi para a participação popular em movimentos contra a polícia, como no caso de Eric Garner, cidadão que morreu sufocado por policiais, que tiveram rápida repercussão, até pelo histórico de crimes raciais nos Estados Unidos:

 – “Quando se tem o incidente, o número de adesões é muito rápido, e, se não há indiciamento dos envolvidos, as hashtags sobre o assunto aumentam ainda mais”, observou a professora, acrescentando que a adesão não é tão fácil de se obter: – Nos EUA e Reino Unido, por exemplo, cerca de 99% das petições não alcançam nem 5 mil assinaturas, é raro terem mais de 100 mil nomes. E, se um abaixo-assinado não gerar nada em dez horas, se tornará poeira. O sucesso delas acontece no máximo com 30 dias, e muito rapidamente. Ao mesmo tempo, são mobilizações difíceis de prevenir.

Influência das redes sociais nos indivíduos

 Arte: Paula Bastos Araripe

Ainda sobre as redes sociais, Helen destacou que exercem dois tipos de influência nos usuários. A primeira, “informação social”, se refere a dados compartilhados em tempo real: nas redes sociais, sabe-se quantas pessoas aderiram às causas, quantas faltam e os objetivos. A segunda é a visibilidade: compartilhar informações pra milhões de pessoas atualmente é mais fácil que antes. No entanto, a professora destaca que a visibilidade tem melhor efeito em contribuições individuais: “Não necessariamente são o melhor jeito de se cooperar politicamente no coletivo, já que têm efeitos diferentes nas pessoas”.

Além de participar socialmente, elas influem nas ações políticas: “O governo britânico, por exemplo, mudou sua plataforma de petições e aderiram aos trending topics (assuntos mais comentados/ discutidos) encontrados em redes sociais como o Twitter”.

Liderança sem líderes?

Os protestos de junho de 2013, nos quais as redes sociais, principalmente do Facebook, tiveram que papel importante na reunião dos manifestantes e na organização do movimento nas ruas, chamaram a atenção da professora:

 – Foram contribuições políticas muito grandes. A figura de um líder não era tão necessária. O que importava, de fato, era a participação popular. As características estão mudando, as pessoas também, e isso acaba diminuindo a figura de um líder ou de instituições, como aconteceu no Brasil. Exemplo disso foi quando a presidente Dilma Rousseff quis conversar com os líderes dos protestos e eles “não existiam”.

Para a pesquisadora, a influência das redes sociais e da internet resulta numa vida política mais instável que antigamente: “O pluralismo é muito mais rápido, individual e mais desorganizado também, gerando um sistema caótico. Os governos têm que se preparar para entender essas mobilizações, trabalhar com esses dados. Reino Unido e Estados Unidos, por exemplo, são bem-sucedidos no uso de dados gerados pelos usuários”.

 Luisa Oliveira  

Na composição das mobilizações, algo que despertou o interesse da professora Helen foi o fato de que algumas personalidades são mais abertas a iniciativas que outras: “Os extrovertidos entravam no início das ações. São eles que tomam as rédeas. Já os individualistas são mais envergonhados em contribuir”.

Parceria Brasil – Facebook

Em recente encontro no Panamá, a presidente Dilma anunciou a criação de uma parceria com o Facebook para ampliar o acesso gratuito à internet para a população de baixa renda e em áreas mais pobres do Brasil. A favela de Heliópolis, em São Paulo, servirá como modelo para a parceria entre a rede social e o governo brasileiro. Sobre a parceria, Helen declarou ao Portal, após a apresentação:

– Acredito que todos deveriam estar online e, nesse caminho, quanto mais pessoas tiverem acesso à internet, haverá mais interesse, mais mobilizações. As pessoas vão lutar pelos seus interesses, inclusive quando estiverem off-line. É muito importante essa participação, até mesmo na política. Por exemplo, se pensarmos nas eleições, as pessoas terão que se informar sobre o seu candidato, terão que descobrir quando serão as eleições. Haverá um interesse maior, e fazer isso sem a internet é muito difícil.

Veja fotos do encontro no Instagram do Portal.

Leia também: Pesquisadores discutem, em congresso na PUC, a internet como incremento à participação política