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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Saúde

Obesidade cresce em todas as regiões e avança entre crianças

Luisa Oliveira - aplicativo - Do Portal

21/05/2015

 Divulgação

Se por muitas décadas o Brasil viveu o desafio do combate à fome, perigo o qual conseguiu minimizar, com a saída do Mapa Mundial da Fome em 2013, o país tem enfrentado outro inimigo silencioso e rápido na saúde: a obesidade infantil, que cresce na maior parte das regiões, especialmente entre famílias de baixa renda. Mesmo com programas voltados para a saúde pública, como o NutriSUS e a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), os indicadores sobre alimentação adequada, divulgados em março pela Secretaria de Direitos Humanos, constatou que 33,5% das crianças entre 5 a 9 anos estão acima do peso ideal, e, entre adolescentes, 20,5%. Já nos adultos, cerca de 17,2% estavam obesos, e 50,6% com excesso de peso (veja os gráficos). Os dados foram coletados entre 2006 e 2012, por IBGE, Ministério da Saúde, Programa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), todos eles cooperando com a Secretaria de Direitos Humanos.

O grupo mais afetado está em idade escolar, apesar de o Ministério da Saúde ter regulamentado a oferta de alimentos nas merendas e lanches de escolas do país ainda em 2007, por meio do documento Regulamentação da Comercialização de Alimentos em Escolas no Brasil: Experiências estaduais e municipais, elaborado a partir de pesquisas em diversos municípios com o objetivo de “sistematizar as experiências brasileiras de regulamentação da alimentação saudável no ambiente escolar”. A norma foi criada com o objetivo de modificar a realidade alimentar nos ambientes escolares com o apoio de profissionais da saúde, por meio de ações nutricionais que reduzam a oferta de alimentos não sadios para os estudantes.

 Arte Paula Bastos Araripe No Rio, está em vigor decreto de regulamentação e comercialização de alimentos em escolas da rede pública municipal de ensino. Uma portaria que estenderia o controle às escolas particulares do município foi revogada, por não ter poderes de aplicar sanções.

Em recente pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da USP nas comunidades de Cidade de Deus, no Rio, e Paraisópolis, em São Paulo, ao fim de 2014, revelou cerca de 56% das crianças cariocas estão acima do peso, o dobro das paulistas, que alcançaram 28%. O programa Meu Pratinho Saudável, desenvolvido pela faculdade, é referência nacional em alimentação infantil para crianças de 6 meses a 12 anos.

Em 2013, o Estado do Rio foi o que menos investiu em saúde no país: segundo dados do IBGE, somente cerca de 7% do orçamento (veja abaixo) foi destinado à área, o que refletiu na população. Segundo a pesquisa, com o aumento do poder aquisitivo das classes C e D, as famílias optam por alimentos não saudáveis.

  Arte Paula Bastos Araripe

A coordenadora do Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Iede-RJ), Carmen Assumpção, afirma que “há leis estaduais e municipais em vigor”, que no entanto “precisam ser mais atuantes”. No hospital, que funciona no Centro do Rio, são atendidos crianças e jovens de várias comunidades. O programa para tratar e combater a obesidade, classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde, é realizado pelo Ambulatório de Obesidade Infanto-Juvenil. A equipe multidisciplinar conta com médico, nutricionista, educador físico, assistente social, psicólogo e/ou psiquiatra. As crianças são avaliadas clinicamente e, depois de exames laboratoriais, iniciam o tratamento. As consultas médicas, dependendo da necessidade, vão de semanais a bimestrais, e seguem com até cinco atendimentos interdisciplinares por mês. Os resultados, no entanto, são de longo prazo, já que mudar hábitos é algo difícil:

– Educar é o “verbo mágico” e é também o nosso manual número um para os pacientes. Eles precisam de informação, o que muitas vezes transcende a uma consulta, por isso, é preciso dedicação ao cuidar, explicando e informando a todos eles os riscos da obesidade e suas consequências.

Importância da família no acompanhamento do indivíduo

 Arte Paula Bastos Araripe A presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional do Rio de Janeiro (SBEM-RJ), Flávia Conceição, acredita que programas sociais continuados de educação podem conscientizar cada vez mais a população sobre os hábitos saudáveis, e explica que acompanhar o indivíduo em suas práticas alimentares desde a infância faz toda a diferença:

– A principal medida é a educação. Disciplinar a população sobre modos alimentares saudáveis é fundamental, inclusive na criação de programas de saúde da família. A infância é uma época fundamental para estabelecer hábitos sadios. Uma alimentação saudável será seguida pela criança por toda a vida se for habituada desde cedo. Algo importante a ser levado em consideração é o fato de que elas copiam o padrão alimentar dos pais. Portanto, é muito importante que eles mantenham boas práticas alimentares. É importante ter em mente que as ações eventuais não são eficazes, é preciso manter ações continuadas para que possamos reduzir a obesidade infantil.

Dra. Flávia ainda explica que a família também é responsável pelo planejamento alimentar das crianças:

– O planejamento do cardápio alimentar das crianças é de responsabilidade dos pais. Eles devem participar da escolha dos alimentos e incentivar a prática regular de atividades físicas para reduzir o risco da obesidade. Os nossos hábitos alimentares são criados na infância e, por isso, a orientação correta nessa fase da vida, tanto pelos pais como na escola, é fundamental para formar um adulto saudável.

Dra. Carmen, do Iede, também destacou a importância do núcleo familiar na formação do indivíduo:

– A família deve ter um compromisso com o tratamento e todos deverão ter uma alimentação saudável, mesmo os magros. Este trato deve ser com a refeição salubre e dizer ‘não’ a alimentos industrializados, sucos artificiais e refrigerantes. Quando os pais estão ausentes e/ou negligentes com a saúde de seus filhos, o conselho tutelar deverá ser acionado, pois é obrigação da família cuidar e formar bons cidadãos. Quando a família está inapta a isto, o Estado assume esta função.

 Divulgação

Projetos sociais

Além do programa “Meu Pratinho Saudável”, desenvolvido pela USP, a Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia desenvolveu um projeto chamado Escola Saudável junto à Sociedade Brasileira de Pediatria, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso) e o Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UNB. O projeto tem o objetivo de promover, em âmbito nacional, uma melhor qualidade de vida, utilizando o ambiente escolar como meio de propagação. A proposta já chegou a diversas cidades brasileiras, como Recife e o Distrito Federal. No Rio, o projeto está em processo de teste. Já o Iede incentiva programas sociais nas escolas do estado:

– Temos um programa na Escola Estadual Júlia Kubitschek, no Centro do Rio, no intuito de manter uma orientação e prevenção sobre a obesidade. Em 2010, por exemplo, metade das crianças examinadas estava 30% acima do peso ideal, com relação à análise da glicose, embora as crianças não estivessem em jejum. Encontramos também diversos casos de pressão arterial acima da média.

Desde 1981, o Núcleo de Estudo e Ação Sobre o Menor (Neam) da PUC-Rio tem suas ações voltadas para tornar adolescentes de classes populares agentes de transformação social. Além do âmbito empreendedor, a questão da saúde também tem sua importância, como destaca a professora Jocineia Santos, uma das responsáveis pelo projeto:

– O Neam tem grande preocupação com uma melhor qualidade de vida consciente dos integrantes, e busca, através das atividades oferecidas, priorizar oficinas e diálogo sobre temas como “Corpo e Saúde” e “Cidadania”. Proporciona que eles identifiquem, vivenciem, discutam e construam melhores hábitos alimentares saudáveis para o seu cotidiano, além de evitar, com isso, que a alimentação desregulada de hoje possa originar uma geração de adultos doentes no futuro.