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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Roteiro, arma contra a dispersão na web

Maria Silvia Vieira - Do Portal

02/12/2014

 Marcela Henriques

Novas narrativas audiovisuais, como as webséries e os roteiros para videogames, ganham espaço à medida que os jovens passam cada vez mais tempo conectados. Segundo o Ibope Media, 95% dos brasileiros entre 15 e 33 anos com acesso à internet se consideram viciados em tecnologia. Ilustrada pelo salto das seriados produzidas exclusivamente para a web, a expansão do consumo de informações e entretenimento no mundo virtual amplia e qualifica o conjunto de produtos dirigidos às plataformas digitais. Assim indica a dobradinha entre jogos eletrônicos e livros que contam a história por trás de cada game, caso de Bioshock. A dramaturga espanhola Yolanda Barrasa, idealizadora da peça Microteatro, formada por oito cenas interligadas (em cartaz no Castelinho do Flamengo, com entrada gratuita, até o próximo sábado), lembra que produções curtas, como seriados de internet e de videogames, não são uma novidade. A primeira película dos irmãos Lumière, La Sortie de l'usine Lumière à Lyon, por exemplo, tinha apenas 45 segundos. Para a diretora da série Diario del Apocalipsis, produzida na Espanha em 2012 e disponível no Youtube, o que muda é o meio de divulgação:

– Sempre assistimos a produções curtas. O que acontece agora é uma canalização dessas produções para a internet – sintetizou Yolanda, numa rápída conversa com o Portal, depois de ter ministrado uma palestra, sobre roteiro de websérie, para alunos do curso de Cinema da PUC-Rio, a convite dos professores Lucas Paraizo e Marcelo Taranto.

Paraizo concorda com a roteirista. Ele recomenda, aos futuros profissionais da área, uma conjugação entre as novas narrativas impulsionadas pela escalada digital e os elementos tradicionais da dramaturgia:

– Os elementos dramatúrgicos são os mesmos. As novas narrativas são ferramentas interessantes para contar histórias. Quando os alunos entenderem que tanto o conflito, como o personagem e a estrutura são os mesmos, eles estarão melhor preparados para produzir nesse nicho do mercado – acredita o professor.

Na palestra sobre essas narrativas explicou estratégias e atributos dos roteiros para a web, Yolanda comentou casos da cultura pop, como Breaking Bad e SAW. Segundo a especialista, é necessário realçar pontos tradicionais da estrutura narrativa, como os conflitos e os pontos de virada (revelação de traços ocultos do personagem), para  prender a atenção de um espectador com maior tendência à dispersão.

– O espectador de internet tende a ser muito mais disperso do que o de TV, pois há diversas opções (de conteúdo) disponíveis ao mesmo tempo – argumenta. 

As webséries ganham mais espaço até em festivais de cinema. No de Toronto, em maio, dedicou uma mostra competitiva a produções do gênero (veja os vencedores). Na França, o Marseille Webfest ruma no mesmo sentido. "Isso representa mais uma janela àqueles que estão entrando no mercado de cinema", reforça Paraizo, que pretende trazer à PUC-Rio um roteirista especializado em videogame. Para Yolanda, a internet tem sido decisiva para valorizar e propagar os novos formatos. As plataformas digitais, acrescenta Paraizo, revelam-se fundamentais à democracia audiovisual:

 O legal é que os alunos podem divulgar e promover seus trabalhos em diferentes plataformas, como internet, televisão e cinema. Essas plataformas variadas estão gerando democracia na confecção dessas histórias– ressalta.

 Marcela Henriques Se por um lado possibilitam um ambiente mais, digamos, democrático, por outro, a variedade de plataformas aumenta a competitividade na área, o que impõe o aperfeiçoamento de competências com as relacionadas à elaboração de roteiro. Para o professor Marcelo Taranto,  os alunos precisam compreender que um ótimo roteiro vai além da criatividade:

– Eles precisam aprimorar a questão da técnica, não é só a criatividade. Esta combinação faz a diferença em um roteiro.

Paraizo salienta que a capacitação cinematográfica exige o tradicional casamento entre teoria e prática:

– Costumo dizer aos meus alunos que, quanto mais perspectivas eles tiverem sobre o próprio trabalho, mais conseguem mostrar ao publico novas camadas das histórias que contam. Sou defensor da ideia de a gente dividir com os alunos não só a teoria, mas a experiência prática.

Fora a palestra ministrada na PUC-Rio, Yolanda aproveitou a temporada em terras cariocas para a peça Microteatro, em cartaz no Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho, também conhecido como Castelinho do Flamengo. Fica em cartaz até o próximo sábado (6), com sessões sextas e sábados, às 19h. A entrada é franca. Amanhã e quinta (4), a roteirista vai comandar oficina de roteiro para webséries no Polo de Pensamento Contemporâneo, com inscrição a R$ 220, dividida em duas parcelas.