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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Campus

No rastro de uma ferrovia no meio da floresta

Gisele Ferreira e Marcela Henriques - Do Portal

30/10/2014

 Felipe Fittipaldi/National Geographic Brasil

Em 2012, Caio Barretto Briso e Felipe Fittipaldi, dois jovens jornalistas formados na PUC, decidiram embarcar para uma aventura na Amazônia, em busca da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que começou a ser aberta cem anos antes, em Rondônia, para contornar as dificuldades de acesso e de escoamento da produção de borracha. Foram várias tentativas ao longo de 50 anos para a conclusão das obras, que atraiu trabalhadores de todas as partes do Brasil e até do exterior – principalmente da América Central, e onde se estima que tenham morrido cerca de 10 mil pessoas. Hoje, as estações, cemitérios e locomotivas são o único legado da ferrovia mais importante já planejada no Brasil. A história está contada em texto e fotos na reportagem Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: Fim da linha, na edição deste mês da revista National Geographic Brasil.

Caio e Felipe voltaram à PUC nesta quarta-feira, 29, para contar a alunos de fotojornalismo como foi ver de perto como vivem os brasileiros na Região Amazônica. O contato com essa “terra estrangeira”, como chamam, foi uma experiência fundamental para suas vidas, tanto pessoal quanto profissionalmente. 

Ao seguir o rastro da antiga ferrovia, desativada em 1972, trouxeram à tona personagens e conflitos atuais e passados na região. Em Porto Velho, conheceram personagens cujas histórias se mesclam à da cidade, como Lord Jesus Brown, um homem de dois metros de altura que trabalhou a vida toda na ferrovia, assim como seu pai, emigrante de Barbados, que morreu num acidente de trabalho. Logo os jornalistas cariocas perceberam ser necessária uma abordagem diferente nas entrevistas:

– Eram pessoas que nunca tinham dado uma entrevista, nem sido fotografadas; a forma como reagem é totalmente diferente da que estamos acostumados. Um homem chegou a jogar uma faca perto do Felipe para ele sair de perto – contou Caio.

Para Caio e Felipe, a publicação da reportagem na revista foi a realização de um sonho e uma forma de fugir da atual rotina jornalística, resgatando a prática da reportagem aprofundada, com o trabalho integrado da dupla repórter e fotojornalista:

– Na realidade, queríamos fugir de apurar de manhã, escrever à tarde e publicar no dia seguinte. Essa história nos possibilitou isso, já que tivemos mais liberdade na escrita, tempo para pensar, estudar, apurar e viajar – conta Caio Barretto, hoje repórter de O Globo.

Antes de sugerir a reportagem à revista, os dois foram por conta própria à Amazônia conhecer o local e se ambientar para a reportagem. Só então fizeram contato com o editor Ronaldo Ribeiro. Caio acredita que esse pode ter sido um dos fatores que tenham somado na aprovação:

 Felipe_Fittipaldi/National Geographic Brasil  – Fomos e nos bancamos lá. Depois mandamos fotos em um layout. Acredito que, com todo nosso preparo, eles tenham percebido o quanto aquilo era importante para nós.

Depois, voltariam duas vezes, a última no verão de 2014, na maior cheia da história do Rio Madeira:

– Havia um trabalho de resgate de pessoas, mas muitos animais ficaram para trás, nos telhados de construções submersas. Um dos nossos entrevistados ia de barco com um pouco de comida, recolhendo gatos – lembra Caio.

Há cinco anos no mercado de trabalho, repórter e fotojornalista, colegas de redação no Jornal da PUC, confessaram ter ficado inseguros diante do desafio:

Marcela Henriques  – Em uma viagem como essa, ficamos com receio do que iríamos encontrar, se teríamos sorte. Mas essas preocupações fazem parte. O melhor a fazer é ir e ver o que acontece – diz Caio.

A hora mais difícil, porém, foi a edição, quando viram o texto cortado e as fotos selecionadas pelos editores:

– É difícil, depois de um ano e meio de trabalho, ver que o seu projeto está diferente. Tivemos apenas 24 horas para aprovar nosso trabalho depois de editado pelos responsáveis na revista. Mas entendemos que é preciso desapego. É uma tarefa difícil, e precisa ser feita.