Uma “peça de guerrilha”, feita “na cara e na coragem”. Assim o jovem Ian Calvet qualifica o primeiro trabalho como diretor, Sobre nossas cabeças, em cartaz às quartas e quintas, às 20h30, no Teatro Maria Clara Machado, do Planetário da Gávea (veja o quadro no fim do texto com as informações básicas). Neste semestre, o estudante de 23 anos dividiu as tarefas dos cursos de Cinema da PUC-Rio e de Direção Teatral, na UFRJ, com a elaboração do espetáculo. Orgulha-se ao contar que o texto foi desenvolvido "a partir de uma construção colaborativa de todo o elenco". O processo, lembra Ian, durou cerca de quatro meses. Embora cansativo, rendeu uma experiência enriquecedora:
– Escrevi a dramaturgia com o elenco. Eles me apresentavam a cena, eu anotava, e depois, em casa, escrevia o texto. Trabalhamos juntos para chegar ao texto final. É muito importante esse diálogo. Como estávamos num processo de improviso para a criação, eu precisava da opinião e das sugestões dos atores para conseguir reproduzir uma boa cena – justifica.
O estudante mostra-se especialmente cuidadoso com a costura das palavras. Meticulosidade que lhe rendeu o prêmio, na categoria "texto", do Festival de Teatro Universitário do Rio (FESTU-RIO) deste ano. Igualmente à criatividade, Ian revela que a peça, que se estende até 6 de novembro, surgiu de duas vertentes: a da metalinguagem, “o teatro que fala de si mesmo”; e a ideia do desabrigo, da desapropriação de terras no Brasil, como nos casos de Pinheirinhos e da Favela da Telerj, destaca o autor. O resultado, ainda segundo Ian, apresenta múltiplas mensagens para o espectador.
– De forma bem sucinta, eu diria que a peça retrata dois homens desabrigados que chegam num território novo. A partir daí, uma série de eventos acontecem, nos quais eu vou sempre brincando com a ideia de realidade e ficção. Mostrando como é tênue a divisão entre o que é real e o que é ficção. Acaba sendo subjetivo: cada pessoa tem a própria interpretação.
Apesar do prêmio e da estreia no teatro, Ian mantém-se cauteloso em relação à decolagem profissional. Ele lembra que "teve de tirar dinheiro do bolso" para montar o espetáculo, para o qual a exemplo de outros tantos, a dificuldade de captar patrocínio testou o ímpeto empreendedor dos realizadores:
– Consigo um ou outro apoio, mas não consigo patrocínio, então acabo arcando com as despesas. A verba que ganhamos com a bilheteria cobre, no máximo, 20% dos gastos.
A despeito das dificuldades financeiras, o diretor segue firme no objetivo de "se apresentar para públicos diferentes, inclusive os mais carentes". Depois de ter mergulhado no teatro ainda na infância, Ian mira ter o próprio espaço para encenar e desenvolver formas originais de dramaturgia:
– Aos 12 anos, comecei no Tablado, e nunca mais parei de fazer teatro. Essa peça, por ser o primeiro trabalho como diretor, é muito importante para a minha carreira. É o meu cartão de visitas nesse mercado tão difícil. A minha ideia é ter um espaço físico, onde eu possa trabalhar com um grupo fechado, de confiança, para tentar produzir o máximo de espetáculos por ano e apresentá-los para os públicos mais diversos – projeta.
Sobre nossas cabeças Local: Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea). Preço: R$ 20 e R$ 10 (meia e lista amiga na internet). Data e horário: Quartas e quintas, às 20h30. Até 6 de novembro. Censura: 12 anos. |