Andressa Pessanha, Felipe Castello Branco, Juliana Reigosa, Lucas Augusto, Marcela Henriques, Maria Silvia Vieira - aplicativo - Do Portal
29/10/2014Passados os ventos de desconstrução que rondaram a campanha, a presidente Dilma Rousseff, reeleita por aproximadamente 55 milhões de brasileiros, terá de alicerçar três ou quatro missões capitais na largada do segundo mandato, preveem os analistas. A primeira é tecer costuras políticas em torno de “um Brasil mais próspero e justo”, como ressaltou no discurso comemorativo, para unir o país que sai das urnas dividido pela vantagem mais estreita desde a redemocratização. Pouco mais de três milhões de votos (cerca de três pontos percentuais) separaram a vitoriosa do tucano Aécio Neves. Dilma haverá de costurar alianças também num Congresso pulverizado por 28 legendas, sobretudo na Câmara, sem as quais fica difícil aprovar os programas desejados, inclusive a reforma política pregada no primeiro pronunciamento como mandatária para mais quatro anos no Planalto.
Ainda de acordo com especialistas, a presidente dependerá da abertura ao diálogo apregoada no discurso de domingo à noite, e da coordenação de competências técnicas, para virar alguns jogos que contribuíram, por exemplo, para a goleada sofrida em São Paulo (só 25%, aproximadamente), a locomotiva do país, com 1/3 do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos). A virada mais premente, reconhece Dilma, é a recuperação do prumo econômico, desde a retomada dos investimentos até o controle da inflação, acima do teto fixado pelo governo, de 6,5%. As mudanças como ajustes na política fiscal, defendidos por analistas econômicos, soma-se o simbólico anúncio do novo ministro da Fazenda (Guido Mantega está demissionário desde o mês passado), ansiosamente aguardado por um mercado que há muito anda em compasso de espera. “A voz das urnas vai guiar a escolha de Dilma”, acredita o professor de finanças do Ibmec Gilberto Braga (ouça a entrevista completa).
Dos nós que a presidente reeleita terá de desatar – supostamente com as “pontes” políticas sinalizadas no discurso de ontem – fazem parte também a crise hídrica, decorrente de lapsos administrativos federais e estaduais, como reitera, por exemplo, o ambientalista e economista Sérgio Besserman, em entrevista ao *Portal*; e a melhora da qualidade dos serviços públicos, sobretudo de educação e saúde – como bradaram nas ruas em junho do ano passado e confiam os eleitores da classe C, decisivos para a vitória da presidente.
Os eleitores da classe média, supostamente mais sensíveis à qualidade dos serviços públicos, esperam grandes melhoras no sistema de educação. O plano de governo da petista promete uma expansão do acesso à educação, em todos os níveis, financiada pelos recursos provenientes da exploração do petróleo do pré-sal e do pós-sal. Outro ponto central das propostas para educação da atual presidente é a expansão do ensino técnico através do Pronatec. De acordo com o cientista política Ricardo Ismael, o Pronatec “não resolve”. Para o especialista, é necessário priorizar a educação básica, sobretudo o ensino médio e fundamental:
- Um dos pontos de campanha da Dilma foi o Pronatec. Mas isso não resolve. O que deveria ser priorizado é a educação básica, em especial o ensino fundamental e médio. É Isso que vai fazer com as pessoas estejam mais preparadas. O importante é pensar no que vem antes do Pronatec.
Para o cientista político Antônio Carlos Alkmim, se os recursos obtidos com a exploração do petróleo e do pré-sal forem realmente utilizados para expandir o acesso à educação, como prometido pela presidente eleita, é possível haver grandes avanços nesse setor: “se de fato tivermos recursos do pré-sal destinados à educação, essa política de melhorar a saúde estaria garantida”.
O professor de antropologia da UFF, Bernardo Kocher, reconhece que houve um aumento nos gastos públicos com a educação. Contudo, para o especialista, a quantia investida ainda está aquém do necessário para transformar o ensino no país:
- Há um crescimento nos gastos públicos com a educação, mas as demandas continuam sendo colossais. O dinheiro investido ainda não representa uma educação satisfatória. Deveria haver uma intervenção do governo federal no ensino médio – propõe o especialista.
Na área da saúde, Dilma pretende expandir o programa Mais Médicos, e criar o programa Mais Especialidades. A presidente se comprometeu a fortalecer e universalizar o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (SAMU) e expandir as Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Para Kocher, é fundamental ampliar o sistema de saúde, proporcionando atendimento para a parcela de brasileiros que, atualmente, não têm acesso à saúde pública. Entretanto, o especialista faz a ressalva de que essa ampliação no sistema não pode deixar cair a qualidade da saúde no país:
- O fundamental para a saúde no segundo mandato da presidente Dilma é a inclusão da imensa massa de brasileiros que está isolada desse sistema. Essa é uma questão com uma envergadura muito grande. Todo o processo de ampliação desse sistema público envolve o aumento de gastos. Porém, é importante que essa ampliação seja feita, sem deixar de lado a qualidade desse sistema.
Passados os ventos de desconstrução que rondaram a campanha eleitoral, a presidente reeleita, Dilma Rousseff, terá de alicerçar três ou quatro missões capitais na largada do segundo mandato, preveem analistas. A primeira é tecer costuras políticas em torno de “um Brasil mais próspero e justo”, como ressaltou no discurso comemorativo, para unir o país que sai das urnas dividido pela vantagem mais estreita da história das eleições: pouco mais de 3 milhões de votos (cerca de três pontos percentuais) separaram a vitoriosa – reeleita em segundo turno por 54,5 milhões de brasileiros (51,64% dos votos válidos) – do tucano Aécio Neves, que obteve 51 milhões, ou 48,36%.
Dilma haverá de costurar alianças também num Congresso pulverizado por 28 legendas, sobretudo na Câmara, sem as quais fica difícil aprovar os programas desejados, inclusive a reforma política que anunciou como prioridade no primeiro pronunciamento.
A diferença reduzida para o adversário obriga a presidente a estabelecer um diálogo com uma oposição revigorada. “É possível que o enfraquecimento do PT paulista e a mudança do eixo petista para Minas leve a um entendimento e à busca de uma agenda comum”, avalia o cientista político Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Até porque, na visão do especialista, autor de livros como A geografia do voto nas eleições presidenciais no Brasil: 1989-2006 e o recém-lançado Atlas das condições de vida na Região Metrpolitana do Rio de Janeiro (ambos pela Editora PUC-Rio), não foram observadas nesta eleição “ideologias tão divididas”:
– As bases dos programas (de Dilma e de Aécio) são semelhantes. Buscam um estado de bem-estar social, apesar de as ênfases na campanha terem sido distintas. No caso do PT, a ênfase é na política social e, no caso do PSDB, na política econômica. Mas as agendas têm pontos comuns. Esta característica, aliada à diferença apertada nas urnas, propicia a abertura de uma janela de entendimentos – pondera Romero Jacob.
Para o cientista político, a presidente até sinalizou tal intenção no discurso vitorioso. Ele ressalva que faltou definir claramente “a oposição” e a forma com que essas pontes seriam criadas.
De acordo com especialistas, a presidente dependerá da abertura ao diálogo apregoada, mesmo de forma superficial, no discurso de domingo à noite, e da coordenação de competências técnicas para virar alguns jogos que contribuíram, por exemplo, para a goleada sofrida em São Paulo, a locomotiva do país, com um terço do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos): lá, não chegou a 36%, frente a 64,3% de Aécio. A virada mais premente, reconhece Dilma, é a recuperação do prumo econômico, desde a reestruturação das finanças públicas e a retomada dos investimentos até o controle da inflação, acima do teto fixado pelo governo, de 6,5%. A mudanças como ajustes na política fiscal, defendidos por analistas econômicos, soma-se o simbólico anúncio do novo ministro da Fazenda (Guido Mantega está demissionário desde o mês passado), ansiosamente aguardado por um mercado que há muito anda em compasso de espera. “A voz das urnas vai guiar a escolha de Dilma”, acredita o professor de finanças do Ibmec Gilberto Braga (ouça a entrevista completa).
Dos nós que a presidente reeleita terá de desatar – supostamente com as “pontes” políticas sinalizadas no discurso de ontem – fazem parte também a crise hídrica, decorrente de lapsos administrativos federais e estaduais, como reitera, por exemplo, o ambientalista e economista Sérgio Besserman, em entrevista ao Portal; e a melhora da qualidade dos serviços públicos, sobretudo de educação e saúde – como bradaram nas ruas em junho do ano passado e confiam os eleitores da classe C, decisivos para a vitória da presidente.
Sem citar o caso Petrobras, Dilma também se comprometeu com o combate à corrupção, trabalhando pela aprovação de leis mais rigorosas. Com a nova composição do Congresso, que apresenta maior divisão da Câmara, a presidente eleita terá grandes desafios a enfrentar, prevê o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael:
– A oposição ficou fortalecida nestas eleições. Independentemente do presidente eleito, temos um país dividido. As mudanças no Congresso indicam uma maior fragmentação partidária. E há o caso da Petrobras, que tem uma grande abrangência, pois envolve o PT e partidos aliados. Os desafios que Dilma enfrentará inicialmente serão a forte oposição, um Congresso menos monolítico e o caso da Petrobras.
Qualificação dos serviços públicos na pauta
Os eleitores da classe média, supostamente mais sensíveis à qualidade dos serviços públicos, esperam grandes melhoras no sistema educacional, por exemplo, observam analistas. O plano de governo promete uma expansão do acesso à educação, em todos os níveis, financiada pelos recursos provenientes da exploração do petróleo do pré-sal e do pós-sal. Outro ponto nevrálgico das propostas da presidente reeleita para a área remete à expansão do ensino técnico, por meio do Pronatec. Para Ismael, o Pronatec em si, sem um investimento na base da educação, não basta.
– Um dos pontos de campanha da Dilma foi o Pronatec. Mas isso não resolve. O que deveria ser priorizado é a educação básica, em especial os ensinos fundamental e médio. Isso é o que vai fazer com as pessoas estejam mais preparadas. O importante é pensar no que vem antes do Pronatec – opina.
Já na opinião do cientista social Antônio Carlos Alkmim, se os recursos obtidos com a exploração do petróleo e do pré-sal forem direcionados para expandir o acesso à educação, como prometido pela presidente, “é possível haver grandes avanços no setor”. Embora reconheça avanços na área, o professor de antropologia da UFF Bernardo Kocher acredita que o volume de investimentos para “transformar o ensino público do páis”, cujo nível ainda se encontra entre os piores do mundo, está “muito aquém do necessário”. Foram destinados cerca de R$ 9 bilhões federais ao setor este ano.
– Há um crescimento nos gastos públicos com a educação, mas as demandas continuam sendo colossais. O dinheiro investido ainda não representa uma educação satisfatória. Deveria haver uma intervenção do governo federal no Ensino Médio – propõe Kocher.
A Saúde, que recebeu apenas 8,2% dos R$ 47,3 bilhões investidos no país, é outra área para a qual a classe C mostra-se muito “sensível”. Dilma pretende expandir o programa Mais Médicos e criar o Mais Especialidades, e se comprometeu em “fortalecer e universalizar” o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) e ampliar as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). Kocher ressalva, porém, que a ampliação não necessariamente será acompanhada de qualidade no atendimento:
– O fundamental para a Saúde, no segundo mandato da presidente Dilma, é a inclusão da imensa massa de brasileiros que está isolada desse sistema. Essa é uma questão com uma envergadura muito grande. Todo o processo de ampliação desse sistema público envolve o aumento de gastos. Porém, é importante que essa ampliação seja feita sem deixar de lado a qualidade desse sistema.
Para Ismael, é preciso aumentar a quantidade de leitos nos hospitais, facilitar o acesso às cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o acesso aos laboratórios. O especialista ressalta que diversas áreas no país não possuem laboratórios suficientes, dificultando a realização de exames e cirurgias:
– É preciso avançar na questão dos leitos nos hospitais, uma falha ainda muito grande na saúde brasileira. Além disso, é preciso facilitar as cirurgias nos SUS, pois, atualmente, é possível levar seis meses para conseguir marcar uma cirurgia, mesmo emergencial. Precisamos avançar também no acesso aos laboratórios. No primeiro mandato, Dilma levou médicos para o interior do país. Isso não foi suficiente. São áreas onde não existem laboratórios suficientes para exames e são poucas as possibilidades de cirurgia.
Unificação de um país dividido
Esta disputa eleitoral – a mais acirrada da história do país, suplantando o histórico segundo turno entre Collor (53,03%) e Lula (46,97%) em 1989, diferença de 6 pontos percentuais – deixou transparente uma divisão das regiões brasileiras, sobretudo Nordeste e Sul, que beira uma divisão partidária. Se a petista Dilma obteve vitória expressiva em todos os estados nordestinos, o tucano Aécio ganhou em todos os estados do Sul. De acordo com os especialistas, a oposição, apesar de ter perdido as eleições, não foi derrotada. Para Kocher, se a presidente não fizer investimentos nos serviços públicos e não controlar a inflação, a tendência é a oposição tirar partido disso:
– A oposição não saiu totalmente derrotada, mesmo perdendo as eleições presidenciais. Com 48,36% dos votos para o PSDB, as relações agora vão depender da situação econômica. Caso a inflação seja controlada fique nos 4% e a presidente consiga investir em serviços públicos, a tendência é que o governo consiga ficar estável. Por outro lado, se a economia cair e entrar em um processo de desaceleração, a presidente enfrentará uma oposição fortalecida.
Reforma política
Dilma, que falou em mudanças durante toda a campanha, em seu discurso de vitória anunciou que dará prioridade à reforma política, defendendo a realização de um plebiscito. Bernardo Kocher pondera que, apesar de a proposta ser ideal, não é exequível, por depender do crivo da oposição. Caso a reforma seja votada, terá um âmbito inicial no Congresso e só então se desdobrará em um plesbicito. “Ainda que a intenção da presidente seja articular, paralelamente ao Congresso, um texto a ser levado para a população, isso não será possível”, avalia.
Para Ismael, o problema da reforma política é que cada partido tem uma proposta diferente: “Vamos observar como a presidente conduzirá a reforma política e ver como lidará com essa agenda, pois a questão ainda é vaga”.
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