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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Campanhas dividem eleitor entre biografias e alianças

Artur Romeu - Do Portal

22/10/2008

Na reta final das eleições do Rio, as pesquisam apontam para uma disputa voto a voto entre Eduardo Paes e Fernando Gabeira. Marcada pelo aumento do tom no debates e pela inversão de alianças, a campanha no segundo turno embaralhou a corrida à prefeitura. Segundo especialistas, eleitores estão divididos entre a perspectiva inovadora proposta pelo canditado do PV e a afinação com os governos federal e estadual prometida pelo representante do PMDB. 

Na avaliação do professor e cientista político da PUC-Rio César Romero, autor de artigo sobre as eleições municipais do Rio de 2004, publicado recentemente na revista Alceu, a capacidade de os candidatos atraírem votos fora de seus redutos eleitorais será decisiva. Para isso, ambos formaram alianças que se revelam alheias às respectivas biografias, o que dificulta a escolha nas urnas.

As trajetórias políticas de Gabeira e Paes se mostram distantes dos partidos que os apóiam. Tradicionalmente alinhado com a esquerda, o canditado do PV recebe o afago de legendas identificadas com a direita, como PSBD e DEM. Já o peemedebista, historicamente mais alinhado com direita, apresenta alianças com partidos de esquerda, como PT e o PCdoB .

– Com isso, Gabeira ganha o apoio de setores mais conservadores. Mas seus eleitores de esquerda ficam confusos. Eles vão votar no passado ou no presente do candidato? – pondera César – Com os apoios da esquerda, Paes quer ganhar votos nessa dúvida e no discurso de união com o governo federal e estadual – avalia o especialista.

Ainda segundo Cesar Romero Jacob, a experiência de Paes no Executivo pode ser um trunfo para conquistar o eleitorado. Já o discurso de Gabeira apresenta-se coerente com outro tipo de público:

– As idéias inovadoras de Gabeira atraem a classe média, que vive em melhores condições. As propostas de Paes são direcionadas às necessidades básicas, das classes baixas. Vencerá a eleição quem conseguir ganhar mais no seu reduto e perder menos no do outro.

A onda que impulsionou Gabeira no fim do primeiro turno se manteve na segunda fase da eleição e garantiu uma ligeira vantagem sobre o adversário. Em pesquisa recente do Datafolha, o candidato do PV soma 44% das preferências, contra 42% do adversário. Um empate técnico. De um lado, o discurso de inovação de Fernando Gabeira, com idéias supostamente originais para os setores turístico e ambiental, por exemplo. Do outro, o discurso pragmático de Eduardo Paes, apoiado na experiência administrativa e na conciliação com as demais esferas do poder público. Segundo o coordenador do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, Ricardo Ismael, a eleição do Rio será decidida entre o apoio da máquina política de Paes e a força da onda Gabeira:

– Os próximos dias serão marcados por encontros e discursos cordiais entre os candidatos. Mas, nas ruas, Paes vai partir para o vale-tudo. A máquina que o impulsiona estará com um exército de militância com panfletos anti-Gabeira até domingo. Não dá para antecipar o resultado. Vai depender da força da onda verde e do alcance desse exército de Paes.

Para Ricardo Ismael, Eduardo Paes não conseguiu neutralizar o movimento pró-Gabeira:

– Paes apresentou todo o seu plano de governo no primeiro turno. Ele ficou sem ter o que dizer de novo na campanha e partiu para o ataque ao adversário. Enquanto isso, Gabeira se empenha em se afastar da imagem do político tradicional e se apresenta como um candidato diferente.

A decisão no Rio vai influenciar a configuração de forças para as eleições presidenciais em 2010, ressalta César Romero Jacob:

– Se o Gabeira ganhar, a candidatura tucana se fortalecerá nas próximas eleições. Em contrapartida, com a vitória de Paes, o PT ganharia essa vantagem. Pode parecer paradoxal, mas é um ponto para se refletir.