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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Campus

Ética: a internet não é um mundo à parte

Claudiane Costa e Larissa Fontes - Do Portal

17/09/2014

 Viviane Vieira

Como ser ético no ambiente online? Com o tema A internet e a nossa vida: razão, afeto e convivência, profissionais e professores debateram o assunto na Jornada da Reflexão, na PUC-Rio, na tarde de sexta-feira (6). Na segunda rodada de debates, no fim da tarde, o professor Arthur Ituassu, coordenador do curso de Jornalismo do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, destacou a ética como um dos desafios da profissionalização, e anunciou em primeira mão o site O Que Fez Seu Deputado, criado em plataforma gratuita pelo pesquisador, com estudantes do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política (COMP) da PUC-Rio.

Ituassu ressaltou a característica participativa da internet como uma das principais potencialidades do meio, e reafirmou que a cultura da participação aproxima o cidadão da política. Para isso o professor chama atenção para a transparência, da qual parte o projeto que reúne informações sobre os 46 deputados federais do Rio de Janeiro no Congresso Nacional desde o dia de posse até o início da campanha eleitoral, quatro anos depois.:

– É preciso que todos saibam que existe e que todos têm acesso àquilo. Se não, de nada adianta a transparência.

Ituassu chamou atenção ainda para a confiabilidade da informação, valorizando a checagem e a transparência na profissão do comunicador, e alertou para a reprodução, no mundo digital, dos processos de exclusão.

– Nós é que vamos fazer da internet uma ferramenta de exclusão ou inclusão na sociedade. É mais fácil escrever coisas que não deveriam ser ditas. Todos se tornaram comunicadores, mas nem todos fizeram curso de comunicação – pontuou.

Erlanger: "Mal não está na ferramenta, e sim no usuário"

Antes, o ex-diretor editorial da Central Globo de Jornalismo, Luis Erlanger, disse considerar a internet um paraíso dos solitários e destacou haver na rede social três categorias: os desocupados, os carentes e os que querem vender algo. Erlanger afirmou que "o mal não está na ferramenta, e sim no usuário" que age de maneira suicida no ambiente on-line.

"A internet não é um mundo à parte. Ou você é ético ou não é", resumiu Danilo Marcondes, professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, acrescentando que a ética depende mais de atitudes, e menos de palavras. De forma crítica ao sistema de Recursos Humanos, Marcondes aponta que a questão não se trata de um compromisso formal, afirmando que o formalismo é a morte da ética. O docente com experiência em Filosofia da Linguagem apontou, no início de sua fala na mesa-redonda, a necessidade de se pensar a ética em sentido amplo, e não fragmentá-la:

– A internet é a comunidade em forma de rede social, e a ética se aplica da mesma forma. Não existe ética na internet, existe ética e ponto.

Já a professora Lilian Saback, também do Departamento de Comunicação, questionou os limites do profissional que tem sua imagem associada à empresa nas redes sociais:

– Temos que ter cuidado permanente com o que é falado nas redes sociais. O vínculo do sujeito com a instituição muitas vezes não é feito com responsabilidade, porque a maioria tem a falsa ideia de que só os amigos veem o que é postado.

Para Lilian, o espaço público deve ser pensado quando se ocupa um cargo que pode confundir a imagem pessoal com a da empresa, porque esta também é exposta: O limite não é dado pela instituição, mas, "se você consegue ter sua ética e sustentar, automaticamente esse limite surge".

Liberdade de expressão x expressão ofensiva

Marcondes levanta também a questão da responsabilidade na internet que, como qualquer outra comunidade, é preciso ter compromisso. O professor cita o Facebook como exemplo de cuidados e traça uma linha tênue entre expressar opiniões e preconceitos:

– O Facebook nos dá a oportunidade de construir uma nova identidade, criar um personagem. E dessa forma nos sentimos mais livres para expressar nossas ideias, mas também para ofender. É preciso ter responsabilidade em nome dos ideais da ética.

Para Marcondes "você pode estar com muitos não estando com ninguém". Erlanger concorda, afirmando que as redes sociais afastam os próximos e aproximam os distantes. E alerta para o último levantamento feito pela organização Consumer Reports, que estima que pelo menos 25% dos perfis nesta rede social são falsos.