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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Campus

Aposta em rede de pesquisa com universidades estrangeiras

Andressa Pessanha - aplicativo - Do Portal

05/09/2014

 Andressa Pessanha

A participação de brasileiros em intercâmbios, 15% superior em relação ao ano passado, vai contabilizar 230 mil estudantes até dezembro. Só na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mais de mil jovens saem e chegam em busca de experiência cultural e acadêmica. A procura crescente fez com que a Coordenação Central de Cooperação Internacional (CCCI) ganhasse o reforço da Coordenação Central de Internacionalização. À frente do novo núcleo, o professor Danilo Marcondes, doutor em Filosofia, cuida da parte política e dos convênios externos do gênero, enquanto a CCCI continua com a parte acadêmica.

Em entrevista ao Portal, Marcondes destaca duas prioridades: melhorar a qualidade dos convênios e construir uma relação menos formal com as delegações que procuram a universidade. Satisfeito com o número de alunos participantes de intercâmbio, considerando-se o custo relativamente alto de viagens ao exterior, ele pretende casar convênios solidários – em países do continente africano – com convênios entre faculdades de perfil semelhante ao da PUC-Rio. Nesta linha, propõe a aproximação com instituições de parceiros econômicos do Brasil, para potencializar o “benefício acadêmico e cultural” ao estudante em busca da decolagem no mercado de trabalho, e prevê redes de pesquisa.

Portal PUC-Rio Digital: Qual é o papel do novo setor na política de internacionalização?

Danilo Marcondes: Fizemos uma análise de como andava o intercâmbio na PUC-Rio e notamos um pioneirismo: talvez seja a universidade brasileira com o maior número de intercâmbios. Como essa procura cresceu, achamos melhor dividir as funções; a CCCI continua com autonomia no setor acadêmico e nós olhamos com mais cuidado para os convênios importantes e suas prioridades. Isso se deve, também, a um número muito grande de delegações estrangeiras que visitam a PUC-Rio atrás de convênio ou querendo fazer intercâmbio de vários tipos. Estamos tentando organizar melhor. Por exemplo, agora vêm grupos de universidades da Coreia do Sul, Colômbia, Taiwan. Recebemos duas ou três delegações por semana. Vamos organizar da seguinte maneira: se alguém vem numa área de ciência e tecnologias, por exemplo, vamos chamar um professor que esteja trabalhando nisso. Se a procura é na área de história, chamamos o pessoal de história, e assim por diante. Vamos tentar que estes convênios sejam menos formais. É mais nesse sentido que pensamos numa politica de internacionalização. Cheguei a dizer numa palestra que a professora Ângela Maria coordena um órgão, que é a CCCI, e eu coordeno uma atividade, a política de internacionalização.

Portal: Qual a perspectiva para qualificar e ampliar as parcerias com universidades estrangeiras?

Marcondes: A gente cresceu muito nessa área de intercâmbio. Não só de alunos que chegam e vão para o exterior, mas também de convênios com instituições estrangeiras. Queremos agora não propriamente crescer, e sim trabalhar a qualidade dos convênios já firmados. Por exemplo, fazer dos intercâmbios também oportunidades para estágio. Pretendemos também fazer uma avaliação do intercâmbio na qual o aluno diz o que significou para ele a experiência e o que pode melhorar. Então, pensar não só no crescimento, mas na qualidade.

Porta: Que critérios fundamentam a seleção das universidades conveniadas? Como funciona esse processo?

Marcondes: A ênfase não é tanto no país, e sim no perfil da instituição. Pensamos em duas pontas baseadas numa certa linha de qualidade. A primeira é selecionar universidades com perfil semelhante ao nosso, com sedes de pesquisa, curso de graduação integrado ao de pós no qual alunos de graduação participam também da pesquisa, entre outras semelhanças. Assim, pensamos em propostas para constituir redes de universidades de pesquisa. Por outro lado, temos a segunda ponta, que é a internacionalização solidária. Por exemplo, certos países da África, como Angola, nos procuraram recentemente. Eles não têm um programa de pós-graduação, mas gostariam de uma ajuda nossa, por causa da língua portuguesa e da nossa experiência em pós.  Este é o outro tipo de internacionalização, não só com as universidades de alto nível, mas com universidades que estão começando, pedindo uma ajuda para se desenvolver.

Portal: Essa internacionalização solidária já reúne iniciativas concretas?

Marcondes: Temos o pedido de Angola, e outros países africanos, principalmente de língua portuguesa, têm interesse no mesmo tipo de apoio.

Portal: E quanto à rede de pesquisa com universidades de mesmo perfil?

Marcondes: Temos uma rede que está sendo constituída. Já houve vários contatos de universidades católicas de pesquisa das Américas, desde as americanas University of Notre Dame e University of Pittsburg Johnstown, até a Pontificia Universidad Católica de ChileEssas universidades têm perfil semelhante ao nosso e são academicamente fortes. Andressa Pessanha

Portal: Diante do peso dos asiáticos no tabuleiro global, sobretudo da China, que se torna mais procurada para intercâmbios, há propostas para fortalecer as relações com esses países?

Marcondes: Sim. Temos na PUC-Rio o Instituto Confucius, um dos sete em todo o Brasil que ensinam o mandarim e divulgam a cultura chinesa. Uma aluna nossa fez uma espécie de curso de verão na China e ganhou um prêmio lá. O ensino do mandarim é importante, mas queremos aprofundar as relações com a China também de maneira cultural e política. Além da China, estamos recebendo, como disse, delegações da Coreia do Sul e de Taiwan. Também já recebemos de Macau e Hong Kong, que fazem parte da China mas têm autonomia.

Portal: Dentro da proposta de aprofundar parcerias com instituições de países alinhados economicante, há programas especialmente voltados para os outros integrantes do Brics, fora a China?

Marcondes: Sim. A parceria mais difícil é com a Rússia, porque as características culturais e políticas de lá são muito próprias. Mas a China é hoje um grande parceiro comercial do Brasil, e esta relação é interessante para nossos alunos. Eles querem fazer estágio na China, porque essa experiência conta, amanhã, para trabalharem numa empresa chinesa aqui no Brasil, por exemplo. 

Portal: Com a nova Coordenação de Internacionalização, o sistema de bolsas vai mudar?

Marcondes: Não temos essa política de mudar o sistema de bolsa, pois o que costumamos utilizar é o sistema de intercâmbio baseado na quantidade de alunos que mandam para gente. Por exemplo, se chegam dez alunos de uma universidade da Califórnia, são abertas lá dez vagas para a PUC. Se você é um aluno pagante da PUC, pagará a mensalidade e fará o curso na Califórnia. Se é bolsista, irá para a Califórnia por parte desse intercâmbio. Eventualmente, fornecemos passagem a auxílio aos alunos bolsistas que têm carência econômica.

Portal: A PUC-Rio envia cerca de 600 alunos a menos do que recebe. Por que essa diferença?

Marcondes: Porque o custo para nós (brasileiros) ainda é alto. Em muitos casos, há também menos interesse. Por exemplo, nossa demanda está muito voltada para os Estados Unidos e parte da União Europeia, como Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra. Recebemos, porém, muitos alunos do Leste Europeu e de outros países da América Latina, para os quais mandamos pouco. Até mesmo nos EUA, recebemos mais do que mandamos. Mas esse problema de custo é do país em geral. Um exemplo é o programa Ciências Sem Fronteiras, do governo federal, que não conseguiu cumprir a meta de mandar cem mil alunos, mandou muito menos. Outro fator que limita é o período letivo diferente. Muitas vezes o nosso aluno pensa: “Bom, eu vou começar um curso em outubro, e ai perco um pedaço do período letivo aqui e atrapalho meu tempo de formatura”. Tudo bem que isso não se aplica para países do Hemisfério Sul, como Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Argentina, mas o restante cai nesse problema de período letivo diferente.

Portal: Há iniciativas em vista para equilibrar a procura e demanda de alunos?

Marcondes: Agora não estamos pensando na expansão desses números, porque já está muito bom. É o maior número de qualquer universidade brasileira.