Isabella Rocha - aplicativo - Do Portal
30/06/2014Desde a invasão ao Estádio do Maracanã por torcedores chilenos no dia 18 de junho, no jogo entre Chile e Espanha, a Polícia Militar (PM) reforçou o policiamento com 600 homens em dias de jogos e manteve barreiras em 18 locais para fiscalizar a entrada de torcedores no estádio. A entrada irregular dos torcedores chilenos foi pelo lado da imprensa, a entrada sul / Eurico Rabelo, onde havia um grande número de chilenos concentrados no dia da partida. Depois do ocorrido o policiamento foi reforçado, principalmente, na área invadida. Na quarta-feira, 25 de junho, no jogo do Equador e França cerca de 70 policiais fizeram a segurança neste ponto. O estádio, na Zona Norte, é a sede de sete jogos na Copa, entre eles a final, do dia 13 de julho.
No jogo Equador e França, dia 21, a Polícia Militar estava espalhada pelas regiões que davam acesso ao Maracanã. Às 9h30 já havia uma barreira de cones, na frente do portão da Quinta da Boa Vista para evitar a circulação de carros em direção à Tijuca. O bloqueio do Maracanã ficou completo às 11h, sete horas antes do início da partida, às 17h. Segundo a Polícia Militar (PM), 3.500 policiais atuaram no horário do jogo. Os PMs chegaram por volta das sete horas nos arredores do estádio. Estavam presentes 360 agentes do Batalhão de Operações Especiais, do Batalhão de Choque e do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) dentro do estádio. A segurança no entorno foi feita pelo 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), no Estácio, na Zona Norte, além de 488 guardas municipais.
Se os confrontos se resumiram ao primeiro dia de Copa, quando manifestantes do movimento Copa para Quem? entraram em confronto com PMs do 5° batalhão nas ruas do Centro, excessos cometidos por PMs levaram a novas diretrizes. No dia 17, dois cabos do 5° Batalhão da Polícia Militar foram acusados pela execução, com um tiro de fuzil na cabeça, de um adolescente de 14 anos. Segundo investigações da Polícia Civil, os PMs Fábio Ferreira, de 35 anos, e Vinícius Lima Vieira, de 32, detiveram dois adolescentes que praticavam assaltos na Avenida Presidente Vargas, no Centro, e os levaram para o Morro do Sumaré, onde foram baleados e arremessados do alto do morro. Um jovem, atingido nas costas e nas pernas, sobreviveu e denunciou os PMs, que tiveram a prisão temporária decretada no dia seguinte. Na véspera, um policial militar identificado como sargento Edmundo Faria prendeu a repórter do jornal O Globo Vera Araújo, que registrava imagens da detenção de um torcedor argentino por urinar na rua. Os policiais deram voz de prisão à jornalista por desacato.
Dois policiais do 4° Batalhão em atividade no entorno do Maracanã em dias de jogo, que não quiseram se identificar temendo represálias, falaram ao Portal sobre as instruções e as pressões de superiores:
– Fomos orientados pelo batalhão a não atirar, somente em último caso. A ordem agora é deixar fugir. Mas o que acontece é que no outro dia somos cobrados, porque estão roubando no seu setor, ou porque não estamos trabalhando o suficiente, e ficamos sem saber o que fazer. E ainda podemos sofrer “castigo”, como ser substituídos ou passar ter uma função menor, ficar parado 12 horas em cabines ou nas patrulhas, um fora da viatura e outro dentro. São castigos para nós, porque somos obrigados a ficar parados, sem poder trabalhar efetivamente.
Um deles comentou sobre a conduta dos colegas do 5º Batalhão:
– Não foi a polícia que fez isso, mas sim aqueles policiais. Isso é uma vergonha para nós. Dá vontade de se esconder debaixo da mesa. Quando um membro da polícia faz besteira, aquela ação vira um escândalo para o efetivo inteiro. E generaliza a polícia como ruim e corrupta – comentou um dos policiais.
Há 27 anos na PM, ele resume o que é ser polícia no dia a dia, desabafa sobre a realidade da profissão de PMs hoje na cidade do Rio.
– Mas a polícia é mal vista pela sociedade. Somos o padrasto do povo. Quando a polícia para uma pessoa na rua, o policial já é mal interpretado, já pensam logo que ele vai pedir propina. Mas se o cidadão anda correto com os documentos, não há nada que o policial possa fazer. Sem contar que a própria população também incentiva esse ato de corrupção: o povo vive um círculo vicioso, se estiver com o documento errado, por exemplo, acha que é só comprar o policial, e muitos dos nossos colegas acabam entrando nessa, e nós todos passamos a ser malvistos.
Eles não se queixam da escala ou da interrupção de férias e licenças, todas suspensas durante o Mundial, mas da falta de estrutura. Os aparelhos de GPS, de consulta e identificação de CPFs e registros de carros, por exemplo, que todas as patrulhas deveriam ter, muitas vezes não funciona de fato.
– Estamos há um tempo com problema no GPS. Ele não funciona. Quando houve a instalação do GPS nas patrulhas, disseram que o rádio iria se tornar obsoleto. Mas no nosso caso é o único equipamento, já que o GPS não está funcionando. O problema é a condição do aparelho, em mau estado, então a gente se vira como pode. Por exemplo, aqui improvisamos esses fios para o rádio.
E a torcida?
– A gente torce para não ser escalado! Às vezes ficamos aquartelados, sem fazer nada. Pior ainda é ser escalado para fazer ronda em dia de jogo do Brasil...
Foram investidos R$ 2 bilhões na segurança para a Copa do Mundo. Segundo a Fifa ainda houve investimentos na preparação de 150 mil agentes das Forças Armadas e de segurança pública. Os valores foram maiores dos que os da última edição do evento na África do Sul, em 2010.
A prefeitura do Rio decretou feriado nos dias de jogo no Maracanã, para facilitar o trânsito e a segurança nas proximidades, e recomenda o transporte metroviário com o desembarque nas estações do Maracanã, São Cristóvão e São Francisco Xavier. As vias que terão o tráfego interrompido nesta sexta-feira serão: viadutos de São Cristóvão e Oduvaldo Cozzi; as ruas Eurico Rabelo, Mata Machado, Professor Eurico Rabelo, Visconde de Itamarati, Isidro de Figueiredo, Artur Menezes, Conselheiro Olegário e Radialista Walmir Amaral. As avenidas Radial Oeste (sentido Centro), Maracanã (ambos os sentidos, na altura do estádio), Manoel de Abreu (ambos os sentidos, na altura do estádio) também seguiram fechadas sete horas mais cedo do início do jogo.