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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Tijuca busca inspiração no passado

Mariana Buarque - Da sala de aula

08/01/2009

 Mariana Buarque

A Tijuca, tradicional bairro carioca na Zona Norte, tem passado aristocrático e já foi chamada de “Broadway brasileira” devido à grande quantidade de cinemas. Hoje, porém, a região é lembrada pela violência. Segundo a pesquisa Percepção da População, realizada pela Prefeitura, a insegurança é apontada por 58% dos moradores da Grande Tijuca (área que compreende Tijuca, Andaraí, Vila Isabel, Grajaú, Alto da Boa Vista e Praça da Bandeira) como o maior problema do local. Entre os moradores que pensam em mudar de bairro, este é o principal motivo (48%).

Para a dona-de-casa Martha Cristina Correia, a Tijuca seria ótima se não fosse a violência. Martha sempre morou no bairro e lamenta que o filho de 12 anos não possa andar sozinho, como ela fazia na mesma idade. Martha já foi assaltada num arrastão na Rua Maria Amália. “Há várias escolas nesta rua e muitas mães param o carro para esperar os filhos. Os ladrões aproveitaram para roubar”. A dona-de-casa mora numa região com segurança particular, que, segundo ela, adianta pouco. “É uma área residencial visada, na qual ocorrem assaltos com motos”, conta.

Maria do Céu Gouveia, ex-presidente do Conselho Comunitário de Segurança da 6ª Área Integrada de Segurança Pública (AISP) da Tijuca e Adjacências, observa que o aumento do efetivo da polícia é uma das questões mais urgentes no bairro. A Polícia Militar não informa a quantidade de policiais em atividade na região, mas reconhece que precisa aumentá-la.

De acordo com dados oficiais, os crimes mais comuns na Grande Tijuca são roubos a transeuntes e de veículos. Em junho, foram registrados 82 e 34 casos, respectivamente, segundo o Instituto de Segurança Pública. Maria do Céu ressalva, no entanto, a Tijuca não é mais violenta que os outros bairros:

– A mídia vive de notícia e é implacável quando se trata de nosso bairro. O que acontece aqui também acontece em outros lugares – afirma Maria do Céu.

Outra reclamação dos tijucanos é a falta de opções de lazer. Há, na região, apenas dois teatros e seis salas de cinema, para uma população de 163.636 habitantes. Segundo a pesquisa Percepção da População, entre os moradores que pensam em se mudar, 10% apontam esta deficiência como principal motivo. Silsse Mariano, funcionária da Justiça Eleitoral, é uma dessas pessoas. Ela diz que gostaria de morar em Botafogo ou Ipanema, onde há mais alternativas de bares e restaurantes e vida cultural mais intensa. “Sinto falta também de espaços ao ar livre, onde eu possa andar de bicicleta ou correr”, acrescenta.

A falta de lugares abertos afeta principalmente as crianças. Praças como a da Medalha e áreas cercadas como a próxima à estação São Francisco do metrô estão mal conservadas ou tomadas por moradores de rua.

A funcionária da Prefeitura Denise Ribeiro costuma levar seu filho a uma pracinha ao lado do teatro Ziembinski. Ela e os moradores da área reivindicaram a revitalização do espaço. Os brinquedos foram consertados e pintados e, agora, há apresentações de contadores de histórias. Iniciativa parecida com a da Associação de Moradores da Rua Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, que reinaugurarou, no dia 20 de setembro, a Praça Luiz La Saigne.

A Associação Comercial e Industrial da Tijuca (Acit) também empreendeu ações para incrementar as opções de lazer do bairro. Em 2004, criou o Polo Gastronômico da Tijuca, ao redor da Praça Varnhagem, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Maria do Céu Gouveia, que também preside a Acit, diz que iniciou acordo com o setor privado para criar outro polo, na Praça Saens Peña.

Viver no bairro tem suas vantagens. Há grande oferta de serviços e estabelecimentos comerciais. Os moradores apontam tais aspectos como "muito bons", revela a pesquisa Percepção da População.

O metrô e as linhas de ônibus ligam a região a quase todos os pontos da cidade. Para Silsse Mariano, este é o maior beneficio da Tijuca. “Morar aqui é bastante conveniente. Há muitas escolas, consultórios médicos, laboratórios”. A aposentada Sophia Nasser concorda: “Eu tenho tudo aqui pertinho de casa, e na minha idade isso é importante”.