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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Retiro dos Artistas comanda renovação cultural

Sérgio Luiz - Da sala de aula

06/01/2009

 Sérgio Luiz

O bairro do Pechincha sofreu uma revolução cultural. Em setembro do ano passado, foi inaugurada a Lona Cultural Jacob do Bandolim, na Praça Geraldo Simonard. No Center Shopping, onde há quatro das sete salas de cinema de Jacarepaguá, os moradores viram surgir a primeira loja de uma grande livraria na região, a Nobel. A Escola Livre de Aprendizagem Musical (Elam) passou a apresentar mensalmente shows variados. E a instituição mais famosa do bairro, o Retiro dos Artistas, foi revitalizada, com atuações assistencial e social mais intensas. A efervescência de espaços culturais convive, no entanto, com a violência e a poluição retitentes naquela área.

Aos 90 anos, o Retiro dos Artistas é presidida pelo ator Stepan Nercessian. Criada em 1918 para abrigar artistas idosos com dificuldades financeiras ou abandonados pela família, a casa passou por uma reestruturação completa. O teatro foi reformado e a casa intensificou a oferta de atividades, como cursos de dança, música, teatro, ginástica e o Brechópping, feira que vende roupas e artigos usados.

Embora tenha ficado anos esquecido por moradores, o Retiro manteve uma tradição: a festa junina anual, a mais badalada de Jacarepaguá. Enquanto alguns reclamam do barulho, outros consideram a agitação sinônimo de saúde.  “Essas pessoas estão velhas, barulho é sinal de vida. Eu já vi um show inteiro de Sandra de Sá sentado na minha varanda”, conta o aposentado Geraldo Fernandes, de 81 anos. 

O barulho que tira o sono dos moradores do bairro nada tem de festivo. Vem das armas de fogo. Em estudo publicado ano passado pelo Instituto de Medicina Social da UERJ, 9,8% dos habitantes de Jacarepaguá afirmaram escutar tiros ocasionalmente. Para o morador do Pechincha Rodrigo Simões, os sons de disparos viraram rotina. “Todo dia que tem alguma coisa na Cidade de Deus, é tiro que não acaba mais. Tenho que dizer pro meu filho que é barulho de fogos de artifício”, diz ele.

Jacarepaguá também luta contra a poluição. Segundo estudo da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), o nível de concentração de gases poluentes na região chega a 80 microgramas por metro cúbico de ar, índice 60% maior do que o aceitável.

Enquanto busca soluções para a violência e a poluição, moradores pegam o caminho da cultura. A implantação de lonas culturais tem facilitado o acesso à música. Em um ano de vida, a Lona Cultural Jacob do Bandolim recebeu no palco Flávio Venturini, Pedro Mariano, Elba Ramalho, Luiz Melodia, Leoni, Leo Gandelman, George Israel e Rodrigo Santos, entre outros. Jovens artistas também fazem shows no local. “Tudo o que precisa para tocar lá é enviar um CD com seu trabalho. Em menos de um mês eu estava com show marcado. É bastante democrático o circuito de lonas”, anima-se o cantor e compositor Bruno Galvão.

Fundada há 19 anos, a Elam fornece aulas de vários instrumentos e acolhe dois eventos musicais por mês. Para o músico Anderson Virtuoso, professor da escola, o grande mérito das apresentações está na característica solidária: “Além de abrirmos espaço para novos talentos do bairro, fazemos doações a várias instituições com os alimentos não perecíveis que cobramos como ingresso”.

Outra novidade para os moradores do Pechincha é a livraria Nobel, inaugurada no Center Shopping. Como a biblioteca pública mais próxima fica na Praça Seca e a livraria mais acessível, na Barra da Tijuca, a Nobel representa o único grande espaço para o acesso e a venda de livros da região.

Os novos espaços culturais aguçam a perspectiva de descentralização das oportunidades culturais, concentradas na Zona Sul e no Centro. “Para ir a teatro, cinema e shows, a gente gastava com passagens e ingressos caros. Agora temos opções locais, que pesam muito menos no bolso”, observa a nutricionista Ana Paula Mendes, de 24 anos.