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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


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Terra de contrastes, São Conrado é síntese do Rio

Maria Paula Autran - Da sala de aula

06/01/2009

De sua cobertura, na Avenida Almirante Álvaro Alberto, em São Conrado, o engenheiro Luiz Labruna tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade: a extensão da praia, a Pedra da Gávea, o verde do Gávea Golf Club. Há doze anos no bairro, quase todos os dias ele deixa o apartamento para trabalhar no Centro. Leva aproximadamente a uma hora para ir, outra para voltar. Embora aponte desvantagens como o insucesso da estação de tratamento de esgoto, a desordem urbana e o trânsito, Labruna não pensa em se mudar. Encara a vizinhança da Rocinha como um fator que faz de São Conrado um reflexo do Rio.

- São Conrado é talvez o bairro mais representativo da confusão que é nossa cidade. Há uma classe com alto poder aquisitivo convivendo com a favela. Há também prédios extremamente novos e modernos perto de construções e casas do século passado, como a Vila Riso e a sede do Gávea Golf Club. Além disso, existe uma população jovem que se mistura com pessoas que moraram aqui a vida toda.

Entre o mar e a montanha, São Conrado tem 11.155 moradores, de acordo com o Instituto Pereira Passos. Ao descrevê-lo, Labruna destaca a segurança nas ruas, sem levar em conta a guerra entre Rocinha e Vidigal. A médica Marisa Zenaide conta que há períodos mais violentos e outros menos, mas acredita que a Rocinha exerça uma pressão sobre o bairro: “Tem gente honesta na Rocinha. Só que, a qualquer momento, os bandidos podem fechar o túnel Zuzu Angel”.

Em seus 27 anos de São Conrado, Marisa elogia a temperatura “amena” e o ambiente “família” do bairro, mas aponta sintomas da desordem urbana: o aumento do número de vans que desrespeitam os motoristas e o engarrafamento.

Principal via de acesso ao bairro e à Barra da Tijuca, a auto-estrada Lagoa-Barra recebe uma média diária de 76.403 veículos, de acordo com a CET-Rio. Na Avenida Niemeyer, a média é de 29.676. Para desafogar o trânsito, moradores apresentam opiniões e sugestões diversas. Uns propõem a Linha Quatro do metrô, que ligaria a Zona Sul à Barra; outros, a ampliação da Niemeyer. O engenheiro de transportes da Coppe-UFRJ Walter Porto Júnior explica, no entano, que não há solução efetiva para problemas localizados no trânsito. Para ele, a cidade tem que ser pensada por inteiro.

- Você pode melhorar alguns problemas localizados, se você tivesse mais saídas e entradas por baixo (do eixo da Lagoa-Barra), mas a solução para o sistema de transportes passa pela prioridade do transporte público. Ali deveria ter um corredor com maior capacidade e um sistema de transporte coletivo mais eficiente, como o veículo leve sobre trilho ou o transporte rodoviário articulado.

A dependência do carro e as horas perdidas no trânsito fizeram com que a dona-de-casa e ex-moradora de São Conrado Regiane Teixeira se mudasse para Ipanema. Ela discorda, entretanto, do estigma de São Conrado: “Qualquer lugar do outro lado do túnel tem problema de trânsito. Hoje faço tudo a pé, mas sinto falta de caminhar na praia, entre o mar e a montanha. Aquilo me fazia bem”.

 Se a vista da natureza é campeã de elogios, a qualidade da água do mar responde por boa parte das críticas dos moradores. Apesar da estação de tratamento de esgoto, implantada no governo de Rosinha Garotinho para resolver as línguas negras, a poluição ainda prejudica o banhista.

“As pequenas manchas negras que aparecem na praia são de fácil solução, basta vontade política. A língua negra que manchava o bairro foi extinta com a construção da Estação de Tratamento que está em funcionamento”, afirma, por e-mail, o presidente da Associação de Moradores e Amigos de São Conrado, José Britz.

Segundo o coordenador de Ações de Planejamento e Manejo de Águas Pluviais da Rio-Águas, Durval Mello, a estação está funcionando, mas não é suficiente. “O problema é a deficiência do sistema do tratamento de esgoto”, sintetizou.

Marisa não imagina viver em outro lugar, mas sonha com a praia limpa. “Precisavam investir no tratamento de esgoto e na limpeza das ruas”. Já Labruna acredita que os principais desafios do novo prefeito, Eduardo Paes, no bairro são “os estacionamentos irregulares e os ambulantes”.