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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Economia

Figurinhas da Copa são troco no mercado de artigos esportivos

Gabriel Camargo - aplicativo - Do Portal

02/06/2014

 Christian Gama/Acervo pessoal

No ônibus, dois jovens com roupas sociais trocam figurinhas no meio de uma conversa sobre as provas da faculdade. Nas bancas de jornal, grupos marcam rodas de troca. No intervalo de jogo no Maracanã, torcedores aproveitam para negociar aquele número que falta. Na PUC-Rio, as mesas nos pilotis do edifício Cardeal Leme, normalmente utilizadas para refeições ou estudos, são dominadas por álbuns e figurinhas espalhadas. Às vésperas da Copa do Mundo, o álbum do torneio está em evidência em todos os ambientes. A expectativa da Panini, responsável pela produção dos álbuns, é vender 8,5 milhões de exemplares e mais de 400 milhões de pacotes de figurinhas. Quatro anos atrás, o álbum foi distribuído em 110 países e o Brasil foi o país que mais comprou, à frente de Alemanha e Suíça.

Desta vez, são 640 figurinhas no total, contando com jogadores, escudos das 32 federações, estádios da Copa do Mundo – mesmo os inacabados –, e até cromos publicitários. Se os colecionadores de ocasião reclamam do custo para completar o álbum, cujos pacotes, com cinco unidades, custam R$ 1 (R$ 0,25 a mais que o da Copa da África do Sul, em 2010), itens mais raros são bem mais caros.

O álbum oficial da Copa de 1970, o primeiro produzido pela Panini, não foi lançado no Brasil, mas não é muito difícil encontrá-lo no Mercado Livre. O problema está no preço: dos três que foram encontrados, um não estava completo e as figurinhas soltas, já os outros dois, completos, mas sem a capa dura e muito qualidade no papel, custam entre R$ 10 mil e R$ 11,9 mil (foto abaixo).

 Reprodução Mercado Livre Mas, no mundo dos colecionadores, não apenas o álbum faz sucesso, e novos produtos ganham espaço, como camisas, moedas e vinhos comemorativos. Enquanto as camisas oficiais de clubes e seleções estão na faixa dos R$ 150 e R$ 300, no site de vendas Mercado Livre, uma camisa do Santos de 1966 utilizada e autografada por Pelé é anunciada por R$ 8 mil. O mesmo preço anunciado para uma camisa usada pelo zagueiro Gonçalves na Copa de 1998 e autografada por diversos jogadores. Para Rossini, quando se trata de colecionadores, o preço pode não ser tão importante.

– Assim como toda coleção, quanto mais raro um item, maior o valor dele e, para este público especificamente, o preço é uma variável quase que insignificante, desde que o produto realmente se configure como algo especial para aquela coleção – afirma Fernando Henrique Rossini, professor de Marketing e Marketing de Serviços na Uninove (SP) que produziu uma pesquisa sobre o Comportamento do Consumidor: um estudo de decisão de compra de artigos esportivos.

Quando se fala em coleções, Rossini acredita que outros itens fazem mais sucesso que as figurinhas:

– Só o álbum da Copa tem essa repercussão tão grande, e ele surge apenas de quatro em quatro anos. Pela minha experiência como colecionador e curioso, os artigos mais procurados ainda são camisetas, bandeiras e canecas. Creio que os dois primeiros pela identificação na rua e o último, pela praticidade e preço baixo.

Itens dos mais variados aproveitam a febre da Copa do Mundo para cativarem novos colecionadores. O Banco Central, por exemplo, lançou em janeiro deste ano nove modelos de moedas comemorativas que fazem referência ao torneio. A principal, de ouro, exibe a taça do Mundial em um dos lados e custa R$ 1.180.

Preço alto dos produtos oficiais e mercado “alternativo”

Além de itens oficiais do passado, camisas de jogo e autografadas, um novo mercado ganhou espaço nos últimos anos com as camisas retrôs, que são réplicas de uniformes de outros tempos e, geralmente, não tão caros.

 Reprodução Facebook Com a Copa do Mundo disputada no Brasil, a tendência é de que o mercado fique ainda mais aquecido. A Liga Retrô, loja de camisas antigas de clubes e seleções de futebol, fundada em 2006 e hoje com 45 unidades em sete estados, espera aumentar as vendas durante a Copa. Inclusive com outros produtos, como réplicas dos estádios que serão utilizados durante do Mundial (foto ao lado).

– Estimamos faturar cerca de R$ 28 milhões em 2014, mais que o dobro de 2013. Este aumento se dará pela Copa e pelo aumento do número de lojas. Esperamos um fluxo muito grande, principalmente nas cidades-sede – estima o sócio-diretor da rede, Marcelo Roisman, que, apesar do alto preço das camisas oficiais, lembra que não é o principal motivo para o aumento das vendas: – São conceitos diferentes de produto, e este é o principal motivo para se comprar camisas retrô.

Porém, o que poderia surgir como um concorrente aos uniformes oficiais, para Rossini, surge como um complemento:

– Acho que são produtos diferentes, mas é um mercado que surge sim por causa dos preços altos dos produtos oficiais. Porém, no fim do ano fui comprar camisas na Liga Retrô para dar de presente e algumas custaram R$ 200. Isso significa que na verdade o mercado de produtos retrô, réplicas e afins não veio para substituir o mercado “oficial”, e sim para complementar. Os próprios times já investem nessas linhas de produtos, e o preço tem acompanhado de perto o valor dos uniformes oficiais. Leonardo Consani/Acervo pessoal

Para o médico Leonardo Consani, que coleciona e vende camisas de todos os times do mundo, da Alemanha até de equipes dos Emirados Árabes, as camisas retrôs não são tão atraentes, a não ser quando feitas pela fornecedora de material esportivos das equipes. Nem mesmo os altos preços dos itens oficiais fazem com que Leonardo mude:

– O aumento dos preços das camisas me fez aguardar mais as promoções. Mas existem camisas que não dá para esperar. É o caso da rubro-negra da Alemanha para esta Copa do Mundo. Comprei assim quando lançou (R$ 200), e foi a melhor coisa que fiz, já que hoje é extremamente difícil achá-la em qualquer loja.

Leonardo possui mais de 100 camisas oficiais e não tem ideia de quanto já gastou, mas garante que nunca pagou mais de R$ 300 em um uniforme. Depois da centésima camisa, parou de contabilizar. Mas pretende escrever um livro sobre a história da sua coleção, que até 2009 só contava com camisas do Flamengo e do Brasil, mas agora já cresceu.

 Gabriel Camargo – Minha prioridade são camisas do Flamengo, pois é meu time, camisas da Alemanha, por ter vivido no país e ter um laço muito forte de amizade com várias pessoas de lá, e camisas do Bayern de Munique, time que acompanhei bastante enquanto vivi lá fora. Porém, gosto muito de comprar camisas dos países e cidades que visito. Já fui parar numa cidade pouco conhecida dos Emirados Árabes, Al Ain, para conseguir uma camisa original do time local homônimo. É um souvenir perfeito, que você pode usar em vez de deixar mofando no armário.

Outro artigo esportivo para coleção que nasceu recentemente foram as shirtpapers (foto de capa), desenhadas pelo artista Christian Gama. São miniaturas de camisas de futebol de papel e feitas a mão, que surgiram depois de um amigo de Christian enviar uma camisa “mal desenhada” e pedir uma nova versão.

– Os números ainda são baixos, eu sou um colecionador e comecei a vender a pedidos. O lucro ainda não é tão grande perto do trabalho que se tem que fazer. Porém, eu já dei início a uma oficina, que está já em processo de registro, onde ensino a montarem as “shirtpapers”. Meu grande objetivo hoje é alcançar as mil vendas.

Bar em São Paulo homenageia time carioca e é museu de itens raros

Fã de futebol e colecionador de raridades, o comerciante Leonardo Prado é dono do bar São Cristóvão, na Vila Madalena, em São Paulo, decorado com cerca de 4 mil itens nas paredes e pilastras do bar, que acabam atraindo público. Leonardo já gastou muito dinheiro em artigos esportivos, mas também conta com a ajuda de clientes para aumentar a sua coleção.

 Reprodução Facebook – Muita gente manda presentes quando volta ao Brasil ou quando tem um amigo vindo para cá. O pessoal de fora sempre traz alguma lembrança, quer participar de alguma forma. Outro dia, por exemplo, veio um holandês. Ele viu exposta a flâmula de um time do interior da Holanda e não acreditou.

Apesar da homenagem ao tradicional time carioca, Leonardo nasceu em Goiás e conta com o homenageado na verdade é outro:

– Quando tinha uns 15 anos, morreu um tio muito querido, que era torcedor do São Cristóvão, mesmo morando em Goiás. Ele nasceu depois de 1926, ano do único título Carioca vencido pelo clube, mas, sabe lá por quê, era torcedor do time e me marcou muito, foi uma homenagem a ele. Eu achava estranho como alguém podia torcer por um time que só perdia.