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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Economia

"Mercado jornalístico vai muito além da redação"

Andressa Pessanha - Do Portal

16/04/2014

O mercado jornalístico passa por uma revolução impulsionada pelas novas formas de produção decorrentes da tecnologia multimídia e da perda do monopólio dos fornecedores tradicionais de informação. Assim avalia o professor Arthur Ituassu, coordenador de Jornalismo da PUC-Rio, para o qual essa "mutação completa" na área exige um profissional mais flexível, com conhecimento técnico multifuncional, e irriga de oportunidades o mercado: 

– O mercado está em mutação completa. Para fazer jornalismo, tem que aprender a fotografar, editar, escrever etc. Mas não é preciso trabalhar apenas em jornais, há um campo muito grande da comunicação – ressaltou o professor e jornalista na palestra dirigida a futuros estudantes de Comunicação, sexta-feira passada, no PUC por um Dia. 

Doutor em relações internacionais pelo IRI, Ituassu acredita que a produção jornalística atravesse, no mundo, uma crise narrativa, na qual a proposta de transparência e objetividade trava uma batalha contra a imparcialidade, a neutralidade. Uma batalha acirrada pelo advento de formas menos tradicionais de se reportar um fato, simbolizadas, por exemplo, pela popularidade adquirida pela Mídia Ninja na cobertura dos protestos que ganharam as ruas do país em junho do ano passado. O professor lembra que a harmonia entre informação equilibrada e transparência tem que existir independentemente do cenário atual.

Nessa "revolução" associada às formas de informar, o crescimento dos canais noticiosos na internet ocupa espaço crescente, observou Ituassu aos alunos do ensino médio interessados nas carreiras da Comunicação. As páginas digitais deixaram de ser apêndices de publicações para ganhar vida própria, cada vez mais valorizada no mercado da informação, enquanto os jornais tentam recuperar terreno: circulação caiui 9,1% na América Latina desde 2009, revela pesquisa da Associação Mundial de Jornais e Publishers, feita em 2012.

Outra mudança destacada pelo coordenador do curso de Jornalismo refere-se ao crescimento da rádio na internet. Para o especialista, trata-se de um personagem promissor nesse novo enredo movido pelos recursos digitais. "Os futuros profissionais devem estar atentos à guinada da rádio para a web, que tende a abrir muitas oportunidades", projeta. No ano passado, um levantamento feito pela NPD Group mostrou que 23% das músicas escutadas semanalmente nos EUA são de serviços de rádios na web, e os usuários variam de 13 a 35 anos. Essa porcentagem aumentou 5% em relação ao ano anterior (2012), mas esse crescimento ainda não atingiu o Brasil, pois depende do avanço das redes móveis de internet (3G/4G) que sustentam o funcionamento da rádio web.

Para aproveitar essas e outras oportunidades abertas com o avanço da plataforma web, é essencial uma qualificação rigorosa, na qual as competências específicas – regidas pelo padrão multimídia – revestem-se de uma base de conhecimento consistente, sem a qual se torna impossível processar os fatos de forma contextualizada, imune às armadilhas do imediatismo. A capacitação mais densa, proporcional à exigência superior do mercado, requer uma “graduação simultânea dos recursos teóricos e práticos”, frisa Ituassu. Ele recomenda o investimento nesta formação gabaritada e numa visão ampla do mercado de trabalho antes de partir para estágios. Significa, entre outras estratágias, selecionar eletivas até fora do próprio Departamento de Comunicação, de maneira a alargar o conhecimento teórico.

– A melhor capacitação faz a diferença, por exemplo, na qualidade reportagem produzida – afirma o professor – Por isso, discussões como o fim do diploma, para nós, não mudou em nada. A prioridade das empresas ainda é o profissional, que se diferencia ao produzir uma comunicação mais eficiente.

 Viviane Vieira Vantagens e desvantagens de ser jornalista

À preocupação sobre a queda da exigência do diploma na área – ainda comum, e compreensível, entre que planejam entrar no mercado da Comunicação – somam-se dúvidas sobre vantagens e desvantagens da profissão. Para Ituassu, um dos principais benefícios é a possibilidade de aprender vários assuntos, interagir com especialistas de diversas áreas, e assim enriquecer a visão de mundo. "É preciso que o profissional saiba em detalhes o assunto que vai reportar. Para isso, a discussão no ambiente de trabalho (redação] também é importante, ao mesmo tempo em que cria um clima agradável", explicou o professor aos jovens dispostos a reunir subsídios sobre a rotina nas redações, que, a despeito dos novos nichos de mercado, atraem uma quantidade nada desprezível de corações e mentes.

Já uma das desvantagens, contrapôs Ituassu, referindo-se ainda às redações, é a falta de horário fixo no trabalho. Pois a produção de uma grande reportagem envolve, muitas vezes, esforços de apuração além do tempo e das circunstâncias previstos – supostamente recompensados pela excelência das informações obtidas.

– É pouco descanso e trabalho intenso o tempo todo – sintetiza o professor, que viveu esta intensidade, por exemplo, como subetidor de Internacional do Jornal do Brasil, na década de 1990.