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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cidade

Gávea, um bairro de passagem

Guilherme Vinicius Roberto - Da sala de aula

14/10/2008

 Thiago Castanho

Com pouco mais 250m² de área territorial, espremido entre o Morro Dois Irmãos e a Lagoa Rodrigo de Freitas, o bairro da Gávea tem como característica marcante o fato de possuir poucos estabelecimentos comerciais. A falta é compensada pela qualidade de todo o comércio local, concentrado principalmente na Rua Marquês de São Vicente. Cortado por duas vias principais, a Auto Estrada Lagoa-Barra e a Avenida Padre Leonel Franca – juntas, suportam um tráfego de aproximadamente 174 mil veículos por dia – a Gávea se caracteriza por servir de ligação entre outros bairros.

Suas avenidas suportam o trânsito de 35 linhas de ônibus, nas quais são transportados cerca de 2.265 passageiros, podendo chegar a três mil nos horários considerados de maior movimentação. Uma das pessoas que se beneficia destas linhas de ônibus no seu dia-a-dia é Maria Angélica da Silva, que mora no bairro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense e trabalha em um shopping na Barra da Tijuca como auxiliar de serviços gerais. Ela confessa não conhecer a fundo a Gávea. “Jamais andei pela rua sem pressa. Estou sempre atrasada para o trabalho”, diz ela, que não usufrui do comércio local nem teve a oportunidade de parar e observar o bairro que ela conhece e ao mesmo tempo desconhece apesar de fazer da passagem pela Gávea parte fundamental e constante do seu roteiro diário. “Na Gávea só há gente bonita, casas altas e caras, carros diferentes e muitas pessoas passeando com os cachorros dos outros”, brinca.

José Augusto de Souza, morador do bairro há quase 30 anos, sabe de cor e salteado cada rua ou esquina do bairro. Aos sábados e domingos aproveita para olhar as vitrines e visitar as lojas desfrutando de seus benefícios. Mesmo gostando de “bater perna”, ele reclama: “Está um transtorno andar pelas ruas. Tenho a impressão que o número de pessoas nas calçadas aumenta diariamente”, queixa-se. Mesmo sendo um crítico da rotatividade nos pontos de ônibus, admite que mantém muitas amizades com pessoas que só vê de passagem no ponto, enquanto esperam o próximo ônibus.

A Gávea consegue abrigar de forma bem singular dois extremos de uma mesma sociedade. De um lado, o bairro tem um dos melhores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio, com pessoas e serviços que justifiquem tal posição. Do outro, uma realidade completamente diferente, pessoas que não conseguem compartilhar dos mesmos serviços e poucas condições para integrar este universo. Ou seja, um bairro que esbanja alegria, desenvolvimento e tem a sua própria elegância. Porém, não apresenta uma infra-estrutura à altura do nível de importância que suas vias têm para todos que as usam cotidianamente.