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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


País

Lyra: "Há um pacto de silêncio sobre a morte"

Júlia Cople - Do Portal

19/03/2014

 Arquivo Portal

Há um pacto de silêncio sobre o tema da morte. A partir desta convicção da geriatra Thelma Rezende, diretora do Centro de Estudo e Pesquisa sobre o Envelhecimento (Cepe), a PUC-Rio acolhe, na manhã desta quinta-feira (20), o fórum Finitude em questão: a relação com a morte entre as coisas da vida. A iniciativa, em parceria com o Cepe, propõe-se, como indica o nome, a discutir a relação do homem com a finitude como definidora de modos e opções de vida. Thelma e o professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio Edgar Lyra vão debater o tema à luz de reflexões etnológicas, psicológicas, teológicas, médicas e até jurídicas. O encontro está marcado para as 10h, no Auditório do Cepe (Av. Padre Leonel Franca, ao lado do estacionamento da universidade).

— A ideia é multiplicar as perspectivas, até para mostrar a riqueza do tema, que é um tabu e não se sabe exatamente por quê — explica Lyra — O idoso recebe os cuidados, lhe proporcionam menor sofrimento, mas raramente entra em questão a visão dele quanto à iminência da partida. Há tendência de se prolongar a vida com tecnologia. Mas há problemas de como se entende e o que é a vida que merece ser vivida. Isso nos leva, por exemplo, ao debate sobre a eutanásia.

A ideia partiu dos médicos, uma “surpresa agradável” para o professor. Thelma provavelmente usará a experiência de acompanhar pacientes com morte iminente como pano de fundo para o debate. Já Lyra pretende abordar a perspectiva existencialista dentre “os tantos caminhos que poderia seguir”. De acordo com o professor, saber que somos finitos determina em grande medida nosso modo de vida, até porque pouco se pode fazer em relação ao que passou.

— A experiência do homem é sempre a experiência da véspera da própria morte ou de outrem. Segundo a teoria existencialista, só haveria morte quando eu já tivesse deixado de ser tal como me reconheço. A morte é um projeto de como não mais ser. Posso me angustiar com o não mais ser, mas é sempre uma iminência — observa o filósofo.

O desejo de ser lembrado, característica marcante da sociedade atual, seria, nessa perspectiva, acrescenta o professor, uma forma de "continuar a ser", ter sobrevida na lembrança dos que vivem. “Eu tinha um amigo, por exemplo, muito gaiato, que dizia temer só as traças e queria sobreviver em livros”, exemplifica.

Lyra pondera também sobre as diferenças no relacionamento com a morte de acordo com cada geração: "Morremos diferente de nossos avós". Se era comum morrer em casa, hoje há Unidades de Tratamento Intensivo em busca de aumentar as chances de sobrevivências, "mas às custas da solidão, da frieza, da impessoalidade da morte", ressalva o professor.

O encontro desta quinta é o primeira de uma série dirigida a reflexir sobre o tema. Os organizadores estudam, inclusive, uma parceria com o Departamento de Comunicação, em especial o curso de Cinema, para uma mostra com filmes associados à temática do tempo, como Morangos silvestres, de Ingmar Bergman, e E se vivêssemos todos juntos, de Stéphane Robelin.