Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Rio-Niterói: quatro décadas de travessias e histórias na Baía

Edson Ribeiro* - aplicativo - Da sala de aula

11/03/2014

 Arquivo Pessoal Bruno Cantarini

Há 40 anos foi inaugurada a Ponte Presidente General Costa e Silva, uma das maiores obras já realizadas. Conhecida como Rio-Niterói, permitiu a ligação de duas grandes cidades separadas pela Baía de Guanabara. Na ocasião, a ponte era a maior do mundo, concretizando então uma demanda do progresso do país. A travessia inaugural foi no dia 4 de março de 1974. Desde então, a Ponte se tornou uma das principais vias do estado e do país, atendendo ao transporte intermunicipal e interestadual de carga e ao deslocamento da população à Região Norte do Rio, incluindo a Região dos Lagos. Segundo dados da concessionária que administra a via, 140 mil veículos atravessam a ponte todos os dias. E, desde a inauguração até janeiro de 2013, já teriam passado pela ponte 1,5 bilhão de veículos, transportando mais de 3,9 bilhões de pessoas.

Um dos responsáveis pela execução, o engenheiro e professor da UFRJ Bruno Contarini, de 75 anos, sente orgulho por ter ajudado na execução desse marco da engenharia civil do Brasil. Ele tinha 35 anos quando foi chamado para trabalhar no projeto, e ainda se emociona ao falar da construção:

– A Ponte Rio-Niterói tem um grande significado na minha vida e na minha profissão. A tenho como uma filha, que agora já vai completar 40 anos. É muito gratificante saber que esta obra se tornou um marco para a história da engenharia e do Brasil. Sempre que passo por ela, lembro como tudo começou.

Para a construção o Brasil importou tecnologia da Europa, mas também abriu a possibilidade para o país se desenvolver na engenharia civil. Cantarini relembra os desafios tecnológicos para a época:

 Arquivo pessoal Bruno Cantarini– A novidade da época foi o concreto submerso, que foi muito difícil fazer, mas conseguimos adaptar e construir as dez mil vigas, todas diferentes uma das outras, com tamanhos diferentes. Na época importamos os mais modernos guindastes, com 38 mil toneladas. Como a construímos em blocos, fizemos três ilhas flutuantes nas margens da baía para ajudar a mover esses blocos. Trabalhávamos ali com os barcos passando o tempo todo, aviões sobrevoando as nossas cabeças. A ponte nasceu assim, em meio a muito trabalho.

Durante as obras monumentais, o engenheiro esteve à frente de 130 engenheiros e dez mil operários trabalhando simultaneamente. Os problemas foram muitos, entre eles os acidentes com operários:

– Não foi nada fácil. Lembro que muitas vezes trabalhávamos das 7h às 19h, e até virávamos a noite. Eu tinha que acompanhar as equipes para que tudo saísse perfeito, pois a responsabilidade daquela obra era minha.

Leia: Histórias concretadas: os 40 anos da Ponte Rio-Niterói

Foi em 1966 que o governo tomou a decisão de construir uma ligação entre as cidades, e então foram criadas comissões para estudar duas alternativas: túnel ou ponte. Aprovado, o projeto da ponte também contou com o financiamento dos ingleses. Em 1968 a rainha Elizabeth II e o príncipe Phillip, em visita ao Brasil, deram início às obras inaugurando uma placa comemorativa de bronze, incrustada numa rocha de granito, na Ponta do Caju. Daí em diante o trabalho durou cinco anos até a inauguração.

O presidente Emilio Garrastazu Médici, seu ajudante de ordens e futuro presidente João Figueiredo e o ministro dos Transportes Mario Andreazza fizeram a travessia inaugural. Partiu do Rio de Janeiro uma grande comitiva, que, assim como o presidente, ficou admirada com a obra. Do outro lado da baía, em Niterói, uma multidão assistia à travessia. Cantarini se lembra da grande festa que foi o dia da inauguração:

– Depois que o presidente fez o discurso, as pessoas romperam o cordão e saíram caminhando a pé, de bicicleta ou de carro. Eu estava com a minha família dentro do carro e cruzamos a Presidente General Costa e Silva. Foi uma festa, as pessoas ficaram admiradas.

Engarrafamento no primeiro domingo da ponte

A aposentada carioca Ana Silva, de 76 anos, também guarda na memória o primeiro passeio que fez com a família na ponte recém-inaugurada – e testemunhou o primeiro engarrafamento da ponte:

 Arquivo Bruno Cantarini – Eu me lembro do primeiro domingo após a inauguração. Fui passear com a minha família, era realmente um evento. Havia muita gente, pois as pessoas alugavam carros apenas para ir do Rio a Niterói e voltar. O que as pessoas queriam era simplesmente passar por ali, pois era marco. Nesse dia um grande engarrafamento se formou. Foi o primeiro. Mas as pessoas nem se importaram, acharam ótimo.

Ana também se recorda de ver todo aquele concreto e as pilhas de ferro ganhando forma.

– Quando passava pelo porto, sempre via aquelas imensas plataformas de ferros, os guindastes se movimentando, o barulho da obra, e me perguntava: será que isso vai dar certo? É emocionante saber que o trabalho de várias pessoas se transformou em um ícone do Brasil.     

Otimização no tempo

A construção da ponte mudou o modo de vida de pessoas que moram em Niterói e trabalham no Rio, como o administrador Manoel Faustino.

– Sempre passo na ponte para ir de Niterói ao Rio de Janeiro. Antes, a travessia levava em média duas horas e meia sem trânsito, era um contorno pela BR101. As balsas demoravam muito e a travessia demorava uns 40 minutos, então é uma ótima opção.

Arquivo Bruno Cantarini  Carneiro, que atravessa a ponte quase diariamente, ainda se surpreende com a engenharia e toda a arquitetura usada na época.

– Passar ali é lindo, tem toda aquela paisagem do Rio e de Niterói, os barcos que passam pelo vão central, os aviões que sobrevoam e toda a Baía de Guanabara. O trânsito é ruim, mas só em passar ali e ver toda aquela passagem compensa.

 Curiosidades

Segundo a concessionária que administra a via desde 1995, a Ponte Rio-Niterói, com 13 mil metros em extensão e 72 metros de altura no vão central, seu ponto mais alto, e mais 10 quilômetros de rampas e viadutos dos acessos, é a maior da América do Sul e a oitava no mundo. É ainda a mais importante estrutura pretendida das Américas, com mais de 2.150 quilômetros de cabos no interior de sua estrutura; uma das maiores pontes do mundo em volume espacial (área construída), por seu comprimento, largura e a altura dos pilares e das fundações submersas cravadas na rocha do fundo da Baía de Guanabara.

Para resgatar imagens da construção, o engenheiro Bruno Cantarini, em parceria com a Jota Filmes, realizou o documentário A ponte Presidente Costa e Silva, com imagens históricas (clique aqui para assistir ao filme).

* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo.