O Grupo Estação foi ousado. Começou como um cineclube e se profissionalizou ao longo dos anos, sem deixar o espírito original. Nesse processo de várias décadas, formou profissionais de alto nível que hoje estão no mercado mostrando competência e ações no campo da cultura e não apenas no do cinema. O que certamente fica como um trabalho de excelência são duas pontas centrais do processo da exibição cinematográfica.
A primeira é a formação de novas plateias. As sessões de cinema que o Grupo promove para as escolas do Rio de Janeiro, muitas delas acompanhadas por monitores especializados, é aquele trabalho de formiguinha essencial para que os bons filmes tenham melhor acolhida, entre os espectadores, habituados à qualidade média da produção mundial, sem grandes apelos artísticos. Só mesmo através da formação de novos olhares é possível mudar essa realidade. Nesta mesma linha, o Grupo promoveu cursos, seminários, discussões, enfim, propôs o debate e a troca de ideias. O ambiente cinematográfico carioca deve ao Estação essa importante contribuição a oxigenação das mentalidades audiovisuais.
A segunda ponta é a oferta de uma programação de qualidade. Sem dúvida, o Grupo se esmerou nisso e muitas cinematografias só puderam ser conhecidas através da sua distribuição. Garimpou mundo afora algumas obras que foram trazidas para o Brasil em parceria ou diretamente pelo Grupo. Com certeza, o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro foi uma espécie de alavanca para essa pesca qualitativa.
Nesse processo de diversificação e complexidade, o negócio do cinema ficou em segundo plano. Os patrocínios não são suficientes, pelo menos em nosso país, para o desenvolvimento da cultura. São parte importantíssima do processo, mas não garantem a sua continuidade. De qualquer modo, independentemente da situação que vive o hoje, e esperamos que seja logo superada, o Grupo Estação é parte importante do imaginário carioca do cinema. Não pode parar. Precisamos dele.
* Miguel Pereira é professor da PUC-Rio e crítico de cinema.
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