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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cidade

Chuvas violentas tendem a ser mais frequentes

Isabella Rocha e Clara Freitas - aplicativo - Do Portal

18/12/2013

 Arquivo Mauro Pimentel

Desastres provocados por chuvas, como o da semana passada, em que três pessoas morreram e centenas ficaram desabrigadas ou desalojadas, são recorrentes no Rio de Janeiro pelo menos desde meados do século passado. As regiões mais afetadas desta vez foram a Baixada Fluminense e as Zonas Norte e Oeste. Na Zona Portuária, a recém-inaugurada Via Binário, rota aberta para absorver o trânsito da Avenida Perimetral, ficou inundada, por falta de bombas para fazer a drenagem da pista. O prefeito Eduardo Paes culpou a intensidade do temporal, e disse que vai multar a construtora responsável.

Especialista em gestão ambiental, com quatro livros publicados, o jornalista André Trigueiro, professor de jornalismo ambiental da PUC-Rio, lembra que o Rio que conta com um dos centros de informações mais modernos do mundo e um radar meteorológico relativamente sofisticado, capaz de antecipar a aproximação das tempestades:

– A chuva é o fenômeno mais previsível que existe. Por isso, cidades situadas em países tropicais, como é o caso do Brasil, têm que estar precavidas para chuvas intensas. É um absurdo que o Rio, segunda cidade mais rica do país, ainda passe por problemas de alagamentos de vias e moradias.

Trigueiro, editor do programa Cidades e soluções, na Globonews, e também professor de geopolítica ambiental na Coppe/UFRJ, destaca que, com passar dos anos, as chuvas estão se tornando mais fortes.

– Vivemos um momento de mudança do clima, com eventos extremos acontecendo em diferentes lugares do planeta (como o tufão Haiyan, que deixou mais de 6 mil mortos nas Filipinas este ano,). Em particular no Brasil, chuvas mais violentas acima da média histórica tendem a ser mais frequentes – alerta Trigueiro, lembrando que são esta é mais uma consequência de ações humanas que agravam o desequilíbrio ambiental:

– Relatórios do Painel Intergovernamental da ONU atestam, com quase 100% de certeza, que a humanidade interfere nas dinâmicas complexas do clima no mundo, por meio das emissões crescentes de gases do efeito estufa, principalmente, pela queima de petróleo, carvão e gás.

O jornalista cita como exemplo a ocorrência do recorde de concentração de CO² registrado este ano em São Paulo, aumentando o problema do efeito estufa:

 – Este ano tivemos a concentração recorde de moléculas de CO² na atmosfera, com 400 partes por milhão. Nunca a atmosfera esteve tão saturada.

Um dos efeitos colaterais, lembra Trigueiro, é a mudança do ciclo das chuvas:

– As séries históricas das chuvas estão sendo modificadas, e isso se torna particularmente importante do Brasil, por mais da metade da energia depender das hidrelétricas. Além disso, como uma potencia agrícola, o país depende da água das chuvas para a produção nacional e para exportação.

 Arquivo Portal Entre os avanços, o jornalista cita projetos da Prefeitura do Rio como o centro de informações, o radar meteorológico, o sistema de alerta nas comunidades e a construção de cinco piscinões na área da Praça da Bandeira e Tijuca. E acrescenta a proibição de novas licenças de construção na região de Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim e trechos da Barra e Recreio, que agora fazem parte de Área de Especial Interesse Ambiental – área que sofreu grandes danos nos últimos anos com forte especulação imobiliária, incentivada pelo Projeto de Estruturação Urbana (PEU) das Vargens.

– Projetos estão sendo feitos. Só que Eduardo Paes deve arregaçar as mangas e correr atrás para executá-los – afirma o jornalista, lembrando que o Rio faz parte do C40, grupo dos 60 maiores municípios do mundo comprometidos em atenuar os impactos das mudanças do clima. No Brasil, somente Rio de janeiro, São Paulo e Curitiba fazem parte do projeto, cujo objetivo é adotar ações para diminuir os efeitos do aquecimento global.

 

Região Serrana novamente em alerta

 

Em 2011, chuvas na Região Serrana do estado provocaram a morte de 600 pessoas.

Estudante de comunicação social da PUC-Rio e morador de Friburgo, Bernardo Dugin afirma que os moradores da cidade ainda estão muito abalados com o ocorrido, e temem que a tragédia se repita – verbas emergenciais liberadas para ajudar as famílias e para a reconstrução da cidade foram desviadas, e toneladas de doações jamais chegaram a quem precisa.

– As pessoas de Friburgo estão traumatizadas, elas têm medo de que essa tragédia se repita. Sempre choveu muito em Friburgo, mas nunca a ponto de haver desmoronamentos e as ruas ficarem totalmente em baixo d’água. Hoje, as chuvas criam pânico na população – diz Bernardo, para quem não há como apagar as marcas da tragédia:

– a cidade não voltou a ser a mesma, e acho que nem vai voltar. Friburgo hoje tem cicatrizes em suas montanhas e no coração dos moradores. As enchentes traumatizaram as pessoas, pois levou lembranças e a vida de muita gente.

Em janeiro de 2010, foi o município de Angra dos Reis o mais castigado pelo grande volume de chuvas. Dos 118 bairros, 61 foram atingidos. A cidade ficou devastada, houve quedas de muros, árvores e postes; casas e prédios desmoronaram e ruas ficaram inundadas. A tragédia deixou 53 mortos, sendo 32 vítimas na Praia do Bananal, na Ilha Grande, e 21 no Morro da Carioca, em Angra dos Reis.

O casal Claudia e Marcelo Repetto estava em uma casa na Enseada do Bananal, na Ilha Grande, com as filhas Geovana, de 12 anos, e Gabriela, de 9, e mais três parentes. Das seis pessoas que estavam na casa, apenas Claudia e Marcelo sobreviveram. Após a perda, aos 46 anos, Claudia engravidou naturalmente, mas acabou sofrendo um aborto espontâneo, com três meses de gestação. Três anos mais tarde, o casal comemorou a chegada de trigêmeos após fertilização “in vitro”.