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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Democrática, árvore de Natal da Lagoa chega aos 18 anos

Gabriel Camargo e Maria Christina M. Corrêa - Do Portal

02/12/2013

 Maria Christina M. Corrêa

“Imagine there’s no heaven, It’s easy if you try. No hell below us, above us only sky”. O clássico Imagine, de John Lennon, cantado por Simone, foi a trilha sonora na espera pela inauguração da Árvore de Natal do Bradesco Seguros no palco armado no Parque do Cantagalo, no último sábado, 30. A espera incluía um musical inspirado em clássicos como Um conto de Natal, de Charles Dickens, e Expresso Polar, de Chris van Allsburg, tendo o ator Daniel Boaventura no papel principal. O show desta 18ª edição também teve participação do coral da Fundação Bradesco, coreografado por Carlinhos de Jesus; e da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa. Milhares de cariocas e turistas não desanimaram com o mau tempo, e encheram a orla da Lagoa Rodrigo de Freitas munidos de capas e guarda-chuvas – eram esperadas 40 mil pessoas este ano. A festa teve início às 20h, se encerrou uma hora depois com a inauguração da árvore e 10 minutos de fogos. (veja fotos da inauguração).

No ano em que chega à maioridade, a Árvore de Natal da Lagoa tem 85 metros de altura (28 andares), pouco mais de 3 milhões de lâmpadas e 120 mil metros de mangueiras luminosas. O tema escolhido, “Uma celebração à vida”, homenageia a família. As fases destacam cinco elementos: água, ar, floresta, humanidade e Natal. A maior árvore flutuante do mundo, de acordo com o livro dos recordes, ficará em exposição na Lagoa até 6 de janeiro, Dia de Reis.

Chuva e trânsito dão trégua para cariocas

Fina e persistente, a chuva que transformou o sábado dos cariocas em um dia cinzento deu uma trégua por volta das 20h30, poucos minutos antes dos fogos, permitindo que toda a queima de fogos ocorresse sem chuva. No entanto, devido à umidade, uma grande fumaça se acumulou durante o espetáculo, escondendo por alguns minutos a árvore recém-inaugurada.

O trânsito na Lagoa em ambos os sentidos fluiu bem e não houve interdição da CET-Rio. Quem optou por ir à Lagoa de carro teve dificuldade para estacionar o carro, pois foi proibido estacionar nas proximidades. Até o dia 6 de janeiro haverá um esquema especial de trânsito da Lagoa.

 Maria Christina M. Corrêa Árvore de Natal ainda emociona 18 anos depois

O Parque do Cantagalo ficou lotado de famílias e grupos de amigos. Enquanto a maioria do público fugia das poças enormes, tentava não atolar os pés na lama e lutava por um espacinho na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, os convidados do banco patrocinador, acomodados em assentos, receberam capas de chuva, gorros de Papai Noel e lanternas que simbolizavam os vagalumes.

Já para a aposentada Marilza Oliveira Nunes, 62, a expectativa para assistir ao foguetório e ao show de iluminação na árvore era grande. Desde as 16h30 no Parque do Cantagalo, Marilza saiu de Duque de Caxias com sua irmã Ângela e outros amigos para ficar bem perto do palco, e não se intimidou com a chuva:

– Foi ótimo, é a segunda vez que viemos nessa área da Bradesco e gostamos muito. Depois dos fogos, o que eu mais gostei foi a capa de chuva que distribuíram, maravilhoso para quem não podia abrir o guarda-chuva – brincou a aposentada.

Recém-chegados de São Paulo, a professora Andrea Baraldi, seu marido e os dois filhos chegaram às 17h para estacionar o carro e assistir pela primeira vez ao vivo à inauguração:

– Está muito apertado, mas está ótimo mesmo assim. A chuva também pouco importa, estamos ansiosos para assistir aos fogos e a todo o espetáculo – afirmou Andrea horas antes do início da inauguração. Maria Christina M. Corrêa

Considerada o terceiro maior evento do Rio, depois de réveillon e carnaval, e com transmissão on-line e tradução em mais de 30 idiomas nas últimas edições, a inauguração da árvore da Lagoa era novidade para um grupo de intercambistas. Pela primeira vez no Brasil, a italiana Irene Pazzano, que faz administração na PUC-Rio, e as amigas portuguesas Joana Ferreira e Maria João, estudantes de arquitetura na UFRJ, estão na cidade desde agosto e só no dia souberam do evento.

– Resolvemos conferir assim que descobrimos, achamos que, mesmo com chuva, valeria a pena vir assistir. O pior mesmo é ficar aqui esperando sem saber a que horas começa – comentou a estudante italiana.

Mesmo quem viu o nascimento da árvore, em 1996, com “apenas” 48 metros de altura e pouco mais da metade das lâmpadas que tem hoje, ainda se encanta com o espetáculo. O aposentado Paulo Roberto (foto), 64 anos, chegou ao Parque do Cantagalo às 16h e instalou sua cadeira em frente à árvore para garantir seu lugar, de onde só sairia após o show de fogos e luz:

 Maria Christina M. Corrêa – Não saí daqui nem para comer, fiz um lanche bom em casa para aguentar. Não me mexi da cadeira, estou aqui desde a tarde e vou continuar. Mesmo cheio e um pouco apertado, vale a pena ver a árvore.

Vendedores ambulantes aproveitam festa para fazer “extra” no Natal

O dia nublado no Rio de Janeiro e a inauguração da árvore acabaram favorecendo quem normalmente precisa do sol para faturar. Zé Timóteo, 63, vendedor de biscoitos Globo, chegou às 9h da manhã à Zona Sul e rodou pelas praias do Leblon e Ipanema, sem tanto sucesso. Às 17h30, chegou ao Parque da Catacumba para começar a vender seu produto.

– É sempre bom, né? Todo ano estou aqui vendendo. Ajuda muito quando fazem essa festa para a árvore. Só hoje já consegui vender mais de cem, é um número muito bom.

Mais que uma coreografia, momento de reflexão

Responsável pela coreografia do espetáculo que preparou os cariocas para a inauguração e o foguetório na Lagoa, o coreógrafo Carlinhos de Jesus participou do dia a dia dos ensaios. Carlinhos comemorou o resultado:

– Tudo deu certo, aconteceu como tinha que acontecer. Pura emoção. Eu chorava, e não sabia se era chuva ou minhas lágrimas mesmo. Divido esse momento com todos.

O coreógrafo elogiou a produção, o coral, a orquestra e principalmente os atores Daniel Boaventura e o menino Pedrinho, que lhe disse no último ensaio: “Mais carioca que você (Carlinhos), só o Cristo Redentor”.

Pouco antes dos fogos e das luzes na árvore, o coreógrafo, que estava na área vip, pulou a grade, se misturou ao povão e enfiou os pés na lama para ver de perto a árvore:

 Maria Christina M. Corrêa – Eu queria ver a árvore de qualquer jeito, fotografar, e na minha frente tinha um poste que entrava na foto. Desci. Na confusão, até pisei no pé de uma senhora, que me reconheceu e nem reclamou, foi bacana. Só que fiquei tão perto da Lagoa que, se desse mais um passo, cairia na água.

Feliz com o resultado, o coreógrafo emocionou-se e comentou sobre seu momento de reflexão diante da árvore:

– Quando cheguei ali e vi tudo aquilo, fiquei muito emocionado. Pensei no meu filho (assassinado a tiros, em 2011), na minha família e em todo o processo que nos levou até aquele momento. A árvore e todo esse evento passam uma mensagem linda. Temos que saber conservar esse momento.

Como no carnaval, preparativos para 2014 já começaram

Diretor do grupo Bradesco Seguros, Alexandre Nogueira compara os preparativos para a árvore aos do carnaval, que começam imediatamente após a anterior: Maria Christina M. Corrêa

– Nosso planejamento já começa em janeiro, quando a árvore é retirada. É um processo muito longo, com muitos estudos sobre o que podemos trabalhar para manter a identificação do público com a árvore que montamos.

Nogueira comemora o sucesso da 18ª edição e a importância do evento:

– Ver a Lagoa lotada é muito bom e me deixa orgulhoso. É prazeroso participar de um projeto que é o terceiro maior evento da cidade. É gratificante ver que as pessoas realmente admiram todo o nosso trabalho, e é boa a sensação de reunir todas essas pessoas.